2|Poeiras estrelares

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Na sexta-feira uma hora depois de ter começado o meu trabalho, tu e a tua mãe entraram na sapataria e foram atendidas pelo meu pai enquanto eu estava escondido na sala pequena que eu e o meu pai utilizávamos para cozer e fazer os moldes dos sapatos, entre outras coisas.

Quando cheguei a cadeira um pouco para trás e olhei para onde estavas, admirei-te distraída com todas as caixas empilhadas que estavam encostadas na parede.

Futuras encomendas que eu iria entregar a alguns clientes que viviam mais longe.

Só notei que estava com a cadeira demasiado inclinada quando cai e o barulho da minha vergonhosa queda chamou não só a tua atenção, como a do meu pai e a da tua mãe, que falavam sobre um sapato que o mesmo tinha nas mãos.

A tua atenção estava vidrada em mim, quando desviei os olhos da careta de incompreensão do meu pai e voltei-os para ti. Primeiro sorris-te pequenino e então esse sorriso cresceu, até chegar aos teus olhos e depois transformou-se numa risada baixa e tímida.
Com isso sorri também para ti e para a minha estupidez. Porque era nisso que me tornavas, um completo e perdido estúpido. Por ti, um completo e perdido estúpido por ti.

Com isso, o meu pai apresentou-me, seguido pela tua mãe que vos apresentou.

- Este é o meu filho, Jonathan Lancaster.- Deve ter dito à tua mãe mas eu não reparei, estava com tanta vergonha que me limitei a baixar a cabeça, levantar-me do chão, arrumar a cadeira e então olhar na vossa direcção.

- É um prazer, sou a Florentina Salvatore, e a minha filha Niccoleta, muito gosto Jonathan.- Respondi que o prazer era todo meu enquanto coçava a nuca e dividia o meu olhar acanhado entre ti e a tua mãe.

Em meio ao silêncio que se instalou de seguida, avisei ao meu pai que ia fazer algumas entregas e que precisava do seu carro.

Peguei uma dúzia de caixas de sapatos e virei-me, de novo na vossa direcção, antes de sair e vos deixar na sapataria. Olhei uma última vez para ti e constatei que eu estava louco, definitivamente.



 Olhei uma última vez para ti e constatei que eu estava louco, definitivamente

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No domingo a seguir a essa semana de te observar de longe mas também passar pela tua janela no caminho à loja, e ao incidente na sapataria, a minha família foi à igreja como de costume.

Em meio ao discurso do padre os meus olhos vagaram pela igreja distraídos e fartos daquela conversa, até que captaram os teus no outro lado da igreja, duas filas à frente da minha. E estavas a olhar para mim. As minhas sobrancelhas devem ter subido tanto que devem ter chegado à minha testa.

Seguras-te o meu olhar por uns segundos antes de te virares para a frente e dares um sorriso de canto.

No fim da missa quando a minha família falava com o senhor Waters e a sua esposa eu afastei-me deles e fui lá para fora enquanto esperava que a conversa terminasse para poder ir para casa e pensar no facto de te encontrar a olhar para mim no meio da igreja. Mas então a tua voz soou perto de mim. Por momentos pensei que era apenas o meu cérebro a fazer me uma partida, mas quando me virei, dei de caras contigo e percebi que não e que tu tinhas de facto falado comigo.

- Desculpe o que disse?- perguntei ainda sem acreditar

- Eu estava a pensar se alguma vez me vai convidar para sair. - Então sorris-te da minha cara perplexa - Sabe é que deve ser bem aborrecido apenas observar-me pela janela do meu quarto ou de longe quando estou distraída.- E ai percebi que talvez eu não tenha sido tão discreto como acreditava.

- Não sei o que dizer menina, não foi minha intenção se a incomodei ou a constrangi de alguma forma.

- Incomodar-me? Não de maneira alguma, apenas gostava de saber se tenciona convidar-me ou se eu devo fazê-lo em vez de esperar por si.

Como viste que não tinha resposta para ti, perguntaste-me se te acompanhava para tua casa e vendo que a conversa dos meus pais ainda ia demorar, afirmei. Antes de irmos olhei outra vez na direcção dos meus pais e a minha mãe sorriu-me. Ao longe a tua mãe também sorriu ao lado do teu pai que conversava com mais um casal.

Mais tarde ao chegarmos a tua casa, depois de ter perguntado sobre Itália e tu me descreveres o teu país e como sentias saudades, afirmas-te que te podia ir buscar perto das seis e meia da tarde.

- Como?

- Ora não devemos deixar para amanhã o que podemos fazer ainda hoje John, devemos aproveitar para o fazer enquanto o podemos. O passado é história, o hoje um milagre.- meu deus, a minha boca deve ter se aberto nesse momento tanto que tu ris-te baixinho da minha cara de otario- Então às seis esta bom para ti?

- Ahn, si..im, sim claro, às seis está óptimo.

Nessa tarde pedi o carro do meu pai emprestado.

Depois de passarmos por um uma hamburgueria e pedirmos uns milkshakes de chocolate para mim e morango para ti, uns hambúrgueres e batatas, levei-te à encosta perto da nossa vila.

Sentamos-nos no capo do carro a comer e a olhar o por do sol. Conversamos e contaste-me que querias ser professora, professora de física. Falaste-me das galáxias, dos astros, dos buracos negros e principalmente das estrelas. E do facto de saberes que nos somos constituídos por poeiras delas ainda te deixava mais animada e fascinada sobre elas e tudo o que encarávamos com pouca importância lá encima.

Eu, por minha vez falei-te que queria ser medico e principalmente poder ajudar pessoas. Mudar as suas vidas para melhor e dar rumo e esperança a quem já a tinha perdido. No fundo poder dar a possibilidade de uma vida a quem já não acreditava ter nenhuma chance. Tira-los do escuro e dar-lhes a mão que precisam para poder ganhar forças e lutar pela vida a que tem direito.

A seguir a uns segundos em silêncio tu chamas-te pelo meu nome e quando me virei para perguntar se querias ir embora agora, tu seguras-te o meu queixo e beijas-te os meus lábios de leve, com suavidade e doçura.

- Porquê que tens sempre de me passar à frente?- perguntei ao separares os teus lábios dos meus e encostares a testa na minha.

- Desculpa, não é por mal...- afirmas-te risonha.

Então beijei-te de verdade e o tempo pareceu parar ao nosso redor, com apenas as estrelas e a brisa quente de verão como testemunha.

As estrelas do teu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora