2 - Essa vida vai se extinguir algum dia, mesmo se você tentar se agarrar a ela

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Cerca de quarenta anos atrás...


Giuliana estava em sua casa, saindo do banho, quando ouviu a voz de sua mãe, Yorella, lhe apressando.

 — Vamos, mia filha... — apressou a senhora.  — Tuo padre já está impaziente com il tuo demora.

A jovem saiu e encontrou a mãe com um olhar estranho e um vestido simples, mas de renda branca sobre sua cama.

 — Nossa...  — espantou-se Giuliana.  — Que vestido lindo!  — passou a mão sobre ele.  — É meu?  — sorriu.

 — Sì...  É tuo...  — disse olhando para o vestido, engolindo em seco e torcendo o pano de prato que tinha em mãos.  — Presente de aniversário de la tua madrina.

 — Mas não precisava...  — a jovem pegou o vestido, colou em seu corpo e deu um rodopio.  — Os meus padrinhos já está dando a festa. Ainda não entendi porque eles resolveram fazer meu aniversário de dezesseis anos na casa deles  — deu de ombros.

Yorella mordeu os lábios e sacudiu o pano, apressando a filha para se vestir.

 — Mãe... Eu sei que a senhora sonhava com meu aniversário, mas não precisa ficar assim...  — disse a garota notando a tristeza da mãe.  — Meu Deus, é apenas uma idade como qualquer outra. Não vou deixar de ser sua filha...

A mãe fungou, começou a chorar e saiu do quarto.



Mais tarde, ainda naquela noite, Giuliana, sua irmã Chiara, Yorella e seu pai, Vittorio, chegaram à casa dos padrinhos da jovem.

— Virgem Maria... — murmurou a irmã, dois anos mais nova. — Parece que convidaram a vila toda Giulia! — Até o vigário veio! — apontou.

— Chiara... É feio apontar... — corrigiu a irmã. — Mas tu tens razão. Acho que meus padrinhos exageraram. Pra que uma festa desse tamanho? — pasmou-se.


Quando a família de Giuliana adentrou no quintal, iluminado por lamparinas à querosene, avistaram uma mesa comprida formada pela junção de várias mesas. A jovem imaginou que utilizaram as mesas de toda a vizinhança. A mesa estava arrumada com flores e comida por toda sua extensão. Bem no meio da mesa havia um bolo retangular com flores e frutas. Giulia sorriu. Aquele era o maior bolo que já vira em sua vida. Ao fundo do quintal algo chamou sua atenção. Havia um pequeno palco com uma espécie de altar. Também estava decorado com flores e velas. A garota estava se virando na direção da mãe para perguntar o que era aquilo, quando sua madrinha se aproximou empolgada.

— Finalmente a noiva chegou! — gritou e abraçou a afilhada efusivamente.

Noiva. Aquela pequena palavra ecoou na cabeça da jovem Giuliana. Desde criança sempre ouvia de seus padrinhos, que ela haveria de se casar com o único filho deles, Osmar. Contudo, ela nunca levou essa história à sério e tinha muitos motivos para isso. Para começar, ela e o jovem jamais se deram muito bem. Osmar era mandão, violento e religioso ao extremo. Imaginou até que ele viraria padre, mas sequer perpassou por sua mente que se casaria com ele.

— Mãe? — Guilia indagou com os olhos cheios d'água.

— Chegou a hora mia ragazza... — murmurou Yorella. — Obbedisci al tuo padre. Ha promesso al tuo padrino che avresti sposato Osmar — sussurrou em italiano para a filha.

Vittorio ofereceu o braço à filha e aguardou.

Com lágrimas descendo pelo rosto, Giuliana pousou sua mão sobre o braço do pai e o seguiu em silêncio em direção ao fundo do local. Após ouvir sua mãe, ela sabia que a palavra dada de um italiano, não voltava atrás, ainda mais se esse italiano se chamava Vittorio Rizzo. Conhecia bem seus costumes e o que poderia lhe acontecer se ousasse desobedecer seu pai e envergonhá-lo na frente de toda aquela gente. 

The Unknown ManOnde histórias criam vida. Descubra agora