7 - Quão raro e bonito é realmente existirmos

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New York, Estados Unidos da América, 2001.

No sonho uma nuvem densa de poeira dificultava a visão da jovem de olhos e cabelos castanhos. Não havia vento, o pó parecia estar suspenso no ar, parado no tempo. Contudo, Yorella percebeu que andava bem no meio de uma avenida, conseguia ver placas e semáforos, embora tudo parecesse cinza. O local parecia uma cidade abandonada.

— Você não deveria estar aqui... — a voz dele veio de seu lado esquerdo.

— Onde estamos? — ela se virou na direção dele.

Ele comprimiu os lábios e soltou um longo suspiro.

— Estamos diante do inevitável — respondeu.

— Como assim? — olhou ao redor. — Que lugar é este?

— Yorella já faz anos que você sabe que algumas perguntas possuem respostas que você não gostaria de ouvir — baixou a cabeça.

Ela franziu o cenho e a agonia tomou conta de seu rosto.

— Quando? — perguntou com a voz trêmula.

— Hoje... — ele disse com pesar.

— Por favor... Diga onde será... — implorou. — Eu posso...

— Você não pode fazer nada — ele a encarou seriamente. — O máximo que você conseguiria era ser chamada de louca e, posteriormente, entrar para uma lista que você jamais sairia.

Ela baixou a cabeça e deu um suspiro frustrado.

— Quantos? — ela indagou.

— Inicialmente um pouco mais de cinco mil, mas confesso que não sei ainda o número final, pois isso vai se desdobrar em vários outros conflitos e mortes.

— Meu Deus...

— Lembra de quando lhe contei sobre a decisão dos seus em virarem os deuses da morte?

Ela anuiu com um semblante triste.

— Estamos novamente diante de um momento parecido. Um momento que vai mudar a trajetória de muitas histórias.

— Não há como evitar? — saiu quase como uma súplica.

— A mudança é inevitável.



Na manhã seguinte, Zona Rural de Tubarão, SC.

Yorella acordou de supetão. Era cedo e, como estavam em pleno inverno, o sol ainda não tinha saído. Ela limpou as lágrimas, trocou de roupa e foi preparar o café. O silêncio pairava na casa, mas já conseguia ouvir ao longe o cantar do galo e o cacarejar das galinhas. Tomou o café puro, pegou seu casaco, calçou as botas e saiu para a sua lida diária.

Desde que fora morar com sua tia e seus irmãos, sua rotina se resumia a acordar cedo e ajudar a tia com os poucos animais que tinham e a horta. Os meninos cuidavam da limpeza e da parte mais pesada do trabalho. Uma parte do que era produzido ali, eles vendiam em uma feirinha local, outra parte era consumido pela família. Ela e os irmãos estudavam de tarde e sua tia, que era professora, dava aulas em dois turnos.

O dinheiro era curto, vez que Oscar além de não falar com os filhos, não colaborava com nada. Então todos ali davam duro e aprendiam outras funções para ganhar algum dinheiro extra. Yorella logo aprendeu crochê, bordado e tricô. Martim e Ângelo aprenderam a mexer com madeira. Começaram fazendo reparos na minifazenda, com o tempo viraram montadores e naquele momento já faziam móveis. A irmã caçula logo se juntou a eles mostrando habilidades em pintura e desenho, fazendo acabamentos personalizados nas encomendas que recebiam.

The Unknown ManOnde histórias criam vida. Descubra agora