Capítulo 3 - Os gêmeos

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Pouco distante dali estava Lorenzo, segurando forte a mão pequena de sua irmã, já era quase meia noite e os pais dos gêmeos ainda não haviam voltado da floresta, disseram que iam apenas buscar lenha e já se passaram 6 horas desde sua saída. Lorenzo sabia que agora seus pais não poderiam arriscar passar por entre o vilarejo, as criaturas já haviam começado a se reunir e meia noite iriam escolher alguém para o sacrifício de todos os anos, a única maneira de se proteger é fechar absolutamente todas as entradas da casa e se manter em silencio, a lenda dizia que apenas um furo de prego aberto em uma casa significava um convite, e já seria o suficiente para entrarem e começarem o caos, por esse motivo todas as residências eram conferidas mil vezes antes do anoitecer, o Lorenzo e seu pai deram 10 voltas ao redor da casa antes mesmo do almoço para conferir cada centímetro. Agora sua missão era proteger Lorena, apesar de ser gêmeos ele sempre se sentia na obrigação de mantê-la em segurança. Sua mãe havia saído antes mesmo de terminar de preparar a janta, ele e sua irmã havia se encarregado de terminar de assar o pernil do porco, esperaram seus pais por algumas horas, até que perceberam que seus pais não voltariam a tempo e decidiu jantar sem eles na mesa, Lorena agradeceu a refeição fazendo a mesma reza que já assistira sua mãe fazendo tantas vezes. Após a refeição arrumaram tudo e foram para a cama de seus pais, Lorenzo colocou algumas cadeiras na frente da porta e o armário na frente da janela só por garantia, segurou forte a mão de sua irmã e apertou com mais força o facão de caça de seu pai na outra mão, se seu pai não estava ali era sua missão então proteger a casa.

Lorena já estava dormindo quando o som começou a se intensificar, ele estava nervoso, nunca havia ficado sozinho em casa dessa forma, seus pais eram cuidadosos e extremamente protetores, mas a lenha era necessária ou poderiam morrer de frio, preocupado Enzo tenta novamente entender o motivo do atraso de seus pais.

- Foram com tempo o suficiente para pegarem a lenha e retornarem. – pensou em voz alta.

Após alguns instantes quando estava quase cochilando ouviu gritos, gritos conhecidos, "Não, por favor, não" dizia uma voz em desespero, Enzo tinha a sensação que conhecia aquela voz feminina, será que as criaturas já tinham escolhido o sacrifício? - "Tommy fuja, corra, se esconda..." – gritou novamente mais alto.

TOMMY, os monstros haviam invadido a casa de Tommy!

- Acorda Lena, acorda! – Gritou Enzo já em prantos. – Ouvi a mãe de Tommy gritando, acho que levaram ele, precisamos fazer alguma coisa.

- Mas o que vamos fazer? Ir lá fora com esse facão lutar com uma centena de bichos? – perguntou Lorena tirando o cabelo loiro dos olhos – Precisamos bolar um plano.

Lá fora Tommy corria desesperado para a floresta, estava de pijama e com frio mas precisava correr, lagrimas brotavam de seus olhos, ele havia causado o sequestro e possivelmente a morte de seus pais, tudo culpa de sua teimosia, sabia que não poderia deixar nenhuma madeira solta mas não imaginava que um simples buraquinho poderia ter levado a toda sua casa indo pelos ares. A ultima lembrança que tinha era de uma sombra levantando seus pais no ar, jogando de um lado para outro no minúsculo quarto, e sua mãe pedindo que ele corresse o mais rápido que podia, logo em seguida ouviu o estrondo, olhou para trás ainda correndo e viu a fumaça subindo, seu lar já não existia mais.

Cansado, tossindo, engasgando, Tommy para de correr e se joga no chão de joelhos, sem rumo, não tinha para onde ir e nem para onde voltar. Estava com medo, com frio, entupido de tanto chorar, precisava pensar em algo, precisava fazer algo, mas agora não tinha forças nem para se manter de pé, olhou ao redor e viu uma arvore oca, sem precisar pensar correu até ela, se encolheu e entrou, se acomodando igual um esquilo. Precisava aguardar até o amanhecer, não conseguia enxergar absolutamente nada, precisava do sol.

Ouviu passos apressados na floresta, parecia uma manada de elefantes para tamanho barulho, toda a arvore tremia conforme os passos se aproximava, Tommy nem ao menos conseguia decifrar o que era ou quantas patas eram. – Ele correu para cá, eu vi. – alguém sussurrou, estava bem próximo, Tommy podia ouvir as respirações. – Ele vai ser seu jantar, encontre-o – disse a voz novamente. Tommy pressionou o rosto na casca da arvore para tentar ver do lado de fora sem ser percebido e com muito cuidado conseguiu ver a silhueta de um homem aparentemente normal e uma criatura com chifres e escamas que farejava o ar. Com muito cuidado Tommy se deitou na posição inicial e torceu para que aquele pesadelo acabasse.

Maldição de SolstícioWhere stories live. Discover now