Capítulo 14: Oferenda Submersa

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Por cima do ombro de sua mãe Lorena move os lábios agradecendo sem som. – Por nada... – sussurra Kenzie de volta. – Não consigo... – diz Silas caindo no chão, tremendo, com a perna esquerda sangrando.

– Caímos de uma arvore, ele se machucou. – diz Anastácia se ajoelhando ao lado do marido.

– Vocês ficam aqui e cuidam deles, Kenzie e eu vamos para o lago. – disse Tommy já voltando para trilha.

– De jeito nenhum, vamos ajudar – disse Lorena decidida. – Ainda não acabou, precisamos derrotar a feiticeira!

– Lolo – disse Anastácia segurando a mão de sua filha. – É perigoso. – completa ela.

– Mamãe, eu tenho que ajudar, não se trata só da senhora, ou de mim, pessoas vão continuar morrendo se ninguém fizer nada, a senhora fica aqui e cuida do pai. – ela solta a mão de sua mãe e alcança Kenzie em apenas três passos largos. – Enzo, você não vem? – grita ela por cima do ombro vendo que seu irmão ainda estava segurando a mão de seu pai no chão. – Vou... – ele responde de volta, levantando e correndo atrás da irmã.

Correram por alguns instantes sendo guiados por Tommy que estava ofegante, mas continuava na liderança, passaram por um lado mais fechado da floresta e localizaram um caminho de pedras, escorregadio e com musgo, o caminho de pedras que levava para o lago.

Empurrando algumas folhas de bananeira para o lado já avistavam o lago, sua água estava verde, algas saiam na superfície e havia movimentos, como se algo muito grande se movimentasse lá em baixo, o lago era gigantesco, ninguém nunca havia encontrado seu fundo, mesmo quando alguém tentava, a pressão insistia em empurra-los para cima, sua margem era coberta por árvores, a maioria era carvalhos, deviam ter uns mil anos ou mais. Chegaram na borda do lago abandonado, e com atenção viram o reflexo dos pais de Tommy simplesmente flutuando em uma espécie de mármore submerso, igual ao mármore branco colocado no centro da vila, ao redor eles conseguiam ver algumas sombras passando mas não conseguia distinguir o que era. – Eu vou – disse Tommy tirando o sapato.

– Não! – respondeu Kenzie segurando o amigo pelo braço. – Você não sabe nadar, eu vou! – ela completou tirando sua bota de couro e sua jaqueta gasta.

Vou com você! – Enzo tirava seus sapatos e se posicionavam na borda verde de lodo do lago, ele coloca um pé na água para conferir a temperatura, estava gelado. – Vamos ter uma pneumonia... – dizia ele se preparando para o mergulho quando um braço branco sai da água de uma vez e agarra sua perna puxando para dentro.

Socorroooo... – grita ele travando os dedos nas pedras ao redor enquanto seus amigos lhe puxam para longe da água, ele se afasta da água ainda gritando e levanta sua calça, deixando a mostra o local em que a criatura agarrou. – Esta roxo! Achei que fosse perder minha perna... Que desgraça foi essa? – grita ele. 

– São náiades, ou sereias – responde Kenzie olhando para dentro do lago novamente – Parece que as lendas eram reais, existe mesmo sereias neste lago.

– Como vamos fazer para resgatar eles? – pergunta Lorena olhando para as sombras nadando velozmente no lago, enquanto Enzo ofegante se mantem no chão tentando recuperar o folego.

– E se a gente jogasse um saco de pedras? – questiona Tommy pensativo apontando uma pequena pirâmide de pedras ao lado. – Afundaria e elas provavelmente iriam atrás, teríamos alguns instantes.

– Não é uma má ideia, mas onde arrumaríamos um saco para encher? – pergunta Kenzie.

– Já sei – diz Tommy tirando o casaco, ele amarra a parte aberta da cintura do casaco e abre a gola. – Pronto, viu? É só encher por aqui e jogar assim. – ele faz um gesto mostrando para jogarmos o casaco em pé, como se fosse o corpo de alguém afundando.

– Mas e se elas não sentirem cheiro e nem se moverem? – Enzo questiona o plano.

– Não temos tempo... – Lorena retira um canivete de dentro da bota que Kenzie havia deixado próximo ao lago, segura o casaco de Tommy e diz – Pode encher, se elas precisarem de mais cheiro para seguir o rastro então vamos dar um incentivo. – continua enquanto abre um profundo corte em sua mão direita, enquanto seu sangue escorre no casaco ela repara uma agitação na água.

– Parece que já estão sentindo o cheiro – avisa Kenzie puxando Lorena para longe do lago.

Tommy e Lorena enchem o casaco com pedras enquanto ela deixa o sangue do corte em sua palma pingar em todas as pedras, quando chega na gola Tommy finaliza e amarra as mangas dos braços do casaco, Lorena fecha a mão e aperta com força por cima, até não pingar mais. – Obrigado! – sussurra ele indo abraçado com o casaco até a margem do lago. – Quando estiverem prontos é só falar que eu solto. – o casaco pesava mais do que ele próprio, precisava afundar rápido, pois precisavam pular dentro do lago assim que o casaco com sangue afundasse.

Assim que elas se moverem a gente mergulha. – diz Kenzie tirando a camiseta para não molhar. – Pronto? – ela pergunta para Enzo que balança a cabeça confirmando que sim, ele estava com medo mas não tinha duvida que faria, os dois dão alguns passos para trás para pegar impulso e dizem juntos – Pode jogar.



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Maldição de SolstícioWhere stories live. Discover now