Onde estamos, Thomaz?

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Cordélia tinha quase 70 anos, possuía cabelos platinados, quase brancos. Olhos verdes bem claros. Um corpo robusto, sempre estava com roupas claras e floridas, sempre com um sorriso gentil. Ela era uma velha enfermeira que havia se aposentado e mudado para o meio da floresta, longe do caos que era a cidade. Ela odiava o barulho dos carros, a bagunça constante dos ônibus, a falta de educação dos "jovens", que sempre andavam estressados e descontavam em outras pessoas. Ela preferia ficar ao ar puro da floresta, com o belo canto dos pássaros e o conforto da solidão. Bom, a solidão acabou quando ela encontrou um bebê no meio da floresta. A criança havia surgido do nada e ao seu lado tinha um estranho gato preto que atacava qualquer animal que tentasse se aproximar dela com más intenções. A bebê estava envolvida em uma manta branca com o nome "Clarissa" bordado nela. Havia um cogumelo gigante e azul que tinha aparecido de uma luz muito forte, a qual foi o motivo de Cordélia ter se aproximado e achado a pobre criança. Assustada Cordélia rapidamente pegou a criança em seus braços e foi para sua casinha com o gato seguindo-as. A casa de Cordélia era pequena, feita de uma madeira escura e com o telhado de pedra. Dentro dela havia somente 2 quartos pequenos, 1 banheiro e uma cozinha. Ela não possuía televisão, achava que isso só fazia as pessoas perderem tempo. Ela achava mais produtivo ler e escrever, ao menos ela deixaria algo no mundo após sua morte. Afinal, a televisão só acaba com a sua produtividade enquanto livros te dão conhecimento e esperança.
Após um tempo, Cordélia foi até a cidade comprar um berço para a bebê, roupas e alguns brinquedos. Ah, e claro, vários livros. Cordélia não podia ter filhos e nunca quis um marido. Essa era a chance de fazer algo melhor para o mundo. Sua bebê poderia talvez muda-lo. Sua criança estava destinada a salvar um mundo inteiro da ruína. Ela sentia isso...

16 anos depois...

-Venha tomar seu café, minha querida. Você irá se atrasar para a escola. E não esqueça de alimentar o Thomaz...
Disse Cordélia gentilmente.
-Claro, mamãe. Eu vou logo, logo. Espere um pouco.
Respondeu Clarissa com voz de sono. Ela tinha acabado de acordar e estava no banheiro.
Clarissa era misteriosa e introvertida. Não confiava muito em ninguém. Ela preferia ficar lendo ou desenhando no meio da floresta com um bom chá e o canto dos pássaros. Mas algo nela era doce, tinha um toque de mágica e isso a fazia ser muito atraente para todos. Ela não via isso, odiava o fato de ter um espelho no banheiro de sua pequena casa, toda vez que ela via seu reflexo sentia um vazio... algo faltava. Esse sentimento não era só sobre o exterior. Por mais que ela tentasse, não encontrava algo que pudesse a completar. Ela sentia um vazio muito grande, as vezes ela não conseguia parar de pensar em como era ridículo ela não conseguir sequer achar um motivo para a sua tristeza e isso estava acabando com ela aos poucos. Mas ela não se achava feia, possuía cabelos ruivos e longos que eram tão escuros quanto vinho. Lindas sardas tão claras que quase não apareciam. Seus olhos eram azuis, com um toque suave de verde escuro. Tinha 1,68 de altura mais ou menos e era magra, com talvez 56 kg, mas ela não ligava muito pra isso. Ela odiava suas costas, pois elas doíam todos os dias e isso não a deixava dormir direito. Então, ela ia todo dia para a escola, com sono e se odiando por nunca estar disposta o suficiente para dar o seu melhor. Como sua mãe sempre dizia; "Se não dermos nosso melhor, nossa existência é em vão. Não viva para se reproduzir e morrer. Viva para ser feliz e acrescentar algo de bom no mundo." Ela sempre quis dar o seu melhor, sua mãe merecia sentir orgulho, merecia ser feliz. Clarissa faria de tudo para assim fazê-la.

Após tomar um copo de suco de laranja e comer 2 pães de queijo medianos, Clar alimentou Thomaz e seguiu para a estação. Ao chegar lá avistou um homem alto e esguio, com cabelos castanhos quase pretos, olhos bem escuros e uma roupa estranha que parecia de época, era de um verde bem escuro como lodo. Ele aparentava ter no máximo 22 anos. O homem estava olhando fixamente para Clar com um olhar cansado e ameaçador. Quando Clar olhou para sua bolsa e pegou seu celular, o homem sumiu no meio da multidão. Paranóica ligou para sua melhor amiga, Mary, e perguntou se ela já estava chegando.
Mary tinha lindos cabelos dourados. Olhos azuis como um lago limpo e claro. Um sorriso meigo, que deixava Clar vermelha. Mary tinha um corpo escultural e uma voz doce que acalmava o coração ansioso de Clar. Sua personalidade era calma e engraçada, ela era uma garota gentil que sempre estava disposta a ajudar. Mas Mary era capaz de entrar em uma briga por aqueles que ama, principalmente por Clar. Elas se conheciam desde o jardim de infância, quando Clar estava sofrendo bullying por ser "estranhamente" quieta. Mary chegou lá e deu um chute no garoto ajudando Clar a se recompor. Foi quando Clar sentiu algo diferente, uma felicidade ao olhar o rosto da pequena menina que a salvou. Seu coração acelerou, sua barriga ficou quente e inquieta. E seus olhos queriam soltar lágrimas, não por estar triste mas por uma estranha felicidade que surgiu ao ver a garota. Ela nunca tinha sentido isso antes. Então concluiu que a garota seria sua melhor amiga apartir daquele momento até o seu ultimo. Assim foi, elas eram insuperáveis e até foram apelidadas de ketchup e mostarda. Eram boas sozinhas mas juntas deixavam o cachorro quente perfeito.

54 minutos - Cartas para a rainha.Onde histórias criam vida. Descubra agora