IX - Patrão nosso de cada dia

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Sirius nunca imaginou que um dia enterraria seu irmão.

A ordem natural não era essa. Sirius desde sempre sabia que ele iria antes. Ele é o irmão inconsequente, ele é o irmão que toma atitudes precipitadas, ele quem se arrisca.

Talvez ele não conhecesse bem o irmão.

Sirius se lembrava como se fosse um sonho o dia em que o pequeno bebê Regulus nasceu. Ele era pequeno também, mas de um dia para o outro ele já não era o mais novo e um choro agudo virara música de fundo da casa Black. E então eles cresceram, sempre juntos. Sirius ensinando o pequeno irmão a andar de cavalo, a paquerar, a conseguir mais sobremesa da cozinheira mesmo quando mamãe proibia.

E Regulus ensinou Sirius a amar. Amar alguém além dele mesmo, porque ele faria tudo para estar no lugar do irmão mais novo.

Sirius observava o corpo de seu irmão sendo velado de longe, escondido. A sucessão de eventos desde a morte de seu irmão fora rápida demais – o corpo de Regulus foi levado, seus pais enlouqueceram, a culpa caiu em Sirius, quem convenceu o mais novo a seguir seus passos. E então uma grande briga.

"Você não é meu filho!", Walburga Black gritava. Ela mal conseguia olhar nos olhos de Sirius.

Sirius não conseguia se mover nem falar nada. Seu pensamento ainda estava no irmão.

"Você ao lado daqueles... pobres. O que você esperava, Sirius? Uma vingancinha juvenil contra seus pais? Derrubar fábricas? Mesmo se o preço a se pagar for a vida de seu irmão?"

E então um tapa. Um tapa forte e com ressentimentos no rosto de Sirius.

"Eu sou sim seu filho. Sou seu filho e sei disso porque assim como vocês eu guardo raiva, muita raiva. Mas também não sou como vocês. Minha raiva veio diretamente de vocês, mas sou melhor!"

Outro tapa. Walburga tinha lágrimas nos olhos e tremia.

"Saia de casa. Hoje. Saia e nunca mais volte."

"Eu já estava fazendo isso."

Sirius não precisava de muita coisa. Sua mala tinha suas anotações, algumas trocas de roupa, dinheiro que ele pegou escondido do cofre do escritório de seu pai e o caderno de composições do irmão. Um pedaço de Regulus era apenas o que ele queria.

A terra cobriu Regulus, Sirius se despediu de longe enquanto via o padre terminando a oração e seus pais e tios e primas dizendo adeus como os Black sempre fazem: sem abaixar a cabeça.



Lily acordou com gritos.

A cama de Petúnia estava vazia. "O bebê?". Lily saiu correndo, o brilho da lua da madrugada iluminando seu cabelo.

Fazia dois dias que a rebelião dos trabalhadores tinha acontecido e Lily ainda pensava no que tinha visto – o fogo, a movimentação, o tiro que matou o jovem Black. James. James a procurando, James com os olhos vidrados em desespero e preocupação.

Petúnia gritava ainda mais.

_ Petúnia! - Lily encontrou a irmã no banheiro. Faltava cor em seu rosto. - Precisamos de um médico!

Marlene apareceu de pijamas na porta do banheiro, seus olhos arregalados.

_ Ela não parece bem! O bebê não ia nascer no próximo mês?

_ Marlene, por favor, chame um médico!

_ Vou pedir para o cocheiro buscar um médico.

Marlene saiu correndo, indo acordar o cocheiro. Petúnia parecia fraca.

Gaslight - Os Marotos na Era VitorianaOnde histórias criam vida. Descubra agora