II- Herborista.

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Toda manhã é a mesma rotineira mas honestamente confesso que amo. Colocar o bule para ferver e fazer um chá amargo para me acordar para mais um dia de trabalho cansativo, pode soar um tanto incomum, mas eu sempre fico entusiasmada esperando chegar logo clientes para atendelos com meu melhor sorriso. Pareço um pouco exagerada mas pelo menos alguém tem que fazer algo pelo povo, para que ninguém da aldeia adoeça.

Começo a preparar o chá, coloco algumas ervas escuras para me dar mais disposição e tirar qualquer cansaço de meu corpo, pois hoje quero plantar várias ervas novas que um amistoso senhor trouxe ao boticário. Bem, não é bem um boticário, a minha mãe o abriu faz algum tempo quando precisava me alimentar quando eu tinha alguns meses de vida, ela certo dia me falou que eu não queria leite de jeito nenhum e não conseguia me amamentar, por desventura da mesma, eu lhe recusava o peito.

Todos da vila começaram a se irritar com o meu choro constante e algumas vezes eu até gritava, por assim dizer. Minha mãe não sabia mais oque fazer pois ela não podia me dar comida e mesmo se pudesse a mesma não teria como me alimentar, naquele tempo não tinha nem um tico de arroz em casa então ela mau comia. Uma senhora que morava ao lado da velha casinha que minha mãe se hospedou, a casa que estávamos não tinha dono e estava completamente deplorável, mas miseravelmente minha mãe não tinha aonde cair morta, então de imediato recorreu aquela humilde casa, se é que poderíamos naquele tempo chamar de casa.

A senhora deu algumas sementes e disse para ela plantar e com oque crescesse iria servir para adoçar o leite, em apenas dois dias ela começou a tomar aquelas ervas como chá, e ela dizia que eu mamava como se o mundo fosse desmoronar.
Desde aquele dia minha mãe disse que se apaixonou pelas aquelas ervas medicinais e começou uma pequena plantação do lado de casa. Aquela senhora nos doava várias sementes e minha mãe plantava no mesmo instante, as plantas de minha mãe rapidamente ficaram famosas na vila, então ela começou a ganhar um bom dinheiro e com isso conseguiu arrumar nossa casa que hoje é meu lar, e abrir um pequeno boticário do lado de casa aonde ficava a pequena horta.

Mas chega de explicações preciso colher algumas plantas para dor de cabeça e barriga, minha mãe começou a passar mal faz dois dias e meu pai está cuidando dela desde então, eu acho lindo o amor que eles nutrem um pelo outro a tanto tempo, desde que me entendo por gente eles são carinhosos um com o outro, nenhuma vez os vi brigarem ou discordar de algo que não os agradava, sempre se trataram com total respeito.

Pego as plantas com cuidado para não arrancar a raiz e entro novamente em casa para fervelas bem e deixar abafando numa xícara. E mais uma coisa que aprendi com a minha mãe, se você deixar um prato em cima da xícara em quanto o chá ainda estiver quente o vapor vai deixalo ainda mais forte e como posso dizer, mais "potente".
Corro as escadas com a xícara em mãos e bato na porta duas vezes, ouço um "entre" da voz suave de minha mãe e logo que entro me deparo com uma bela cena, que faz aquecer meu coração e sem perceber surge um pequeno sorriso em meus lábios.

Meu pai está sorrindo em quanto conversa com minha mãe, e está  segurando a mão dela e beija a palma delicadamente enquanto sorri olhando profundamente nos olhos amendoados dela, e ela o retribui com um sorriso tímido. Sinceramente eu tenho orgulho dos meus pais, sem eles eu não teria o conhecimento que tenho hoje e sem eles eu não saberia que um amor tão puro ainda possa existir.

Quando eles perceberam que estou de certo modo "encarando aquela cena" param de imediato e ficam levemente corados, mas meu pai logo me faz um sinal com a mão pra mim lhe dar o chá, eu chego mais perto e o entrego calmamente pra não correr nenhum risco de derrubar no tapete.
Meu pai pega a xícara e de vez o entregar a minha mãe ele fala "A" e tenta dar na boca dela igual uma criancinha.

- Stefan, eu sei tomar um chá sabia? Posso estar um pouco doente mas não estou inválida.- minha mãe diz com um tom zombeteiro mas mesmo assim sorri pro meu pai em quanto abre a boca.

- Sinceramente, vocês dois ainda não cresceram, parecem namorados em vez de casados.- eu digo sarcástica sorrindo em quanto fico olhando aquela cena.

- É porque o amor que tenho pela sua mãe ainda é jovem, preciso demonstrar enquanto tiver quarenta anos, imagine quando eu tiver cinquenta e começar a ficar gordo e mau humorado?- meu pai solta uma risada, rindo da própria resposta a qual eu não achei graça nenhuma, mas se ele acha eu que não vou ser uma estraga prazeres.

- Na verdade gordo o senhor já está.- vou saindo do quarto em quanto gargalho alto, que obviamente estou fingindo só para deixalo irritado.

Mas eu sei que meu pai nunca fica irritado, é raro na verdade, ele sempre leva na brincadeira e acho que quando ele realmente está bravo ele tenta não aparentar que está, acho que pelo ego dele, mamãe diz que meu pai sempre quis ser um daqueles pais brincalhão que é amigo dos amigos dos filhos.
Presumo que minha mãe se da tão bem com ele por ao mesmo tempo que são parecidos, também são bem diferentes um do outro, pois em quanto ela é calma e delicada, ele é brincalhão e todo atrapalhado.

Vou até a cozinha sorrindo de orelha a orelha e preparo rapidamente alguma coisa para comer, tento comer o mais rápido que posso pois a qualquer hora aparecerá pessoas na frente do boticário, o esperando abrir e se eu não estiver lá levarei uma tremenda bronca de minha mãe. Ela diz que temos que sempre chegar primeiro do que os clientes pois nunca se sabe quando alguém realmente precisará de tratamento emergencial. Claro que não somos curandeiros ou médicos, mas sempre temos que ficar atentos quando recebemos alguém seriamente doente, e que esteja precisando urgentemente de remédios especiais.

Visto a mesma roupas de sempre a qual sempre uso para ficar o dia todo no boticário, coloco um casaquinho pois hoje está um pouco frio do que os outros dias. E o céu não está muito bonito hoje, está bem nublado e escuro, não que não exista beleza nele, mas oque quis dizer é que não está bonito para trabalhar já que quando o tempo está desse jeito poucas pessoas saem de suas casas.
Desço as pressas as escadas e saio de casa, como disse o boticário fica do lado de nossa casa mas não temos uma porta dianteira para ir até ele.

Destranco aquela pesada porta de metal que já está bem esferujada e entro, indo organizar todos os potes com ervas que minha mãe não pode arrumar por conta da febre alta, depois de colocalos em seus devidos lugares começo a varrer aquele chão de madeira, que não está tão empoeirado mas mesmo assim o varro para passar o tempo. Ouço o sino da porta me avisando que um cliente entrou e fico entusiasmada por poder me distrair e também claro de alguma forma ajudar alguém, mesmo estando trabalhando não gosto de ficar fazendo nada, é entediante.

Vou até o balcão da loja e vejo um homem de costas olhando atentamente as ervas, noto que ele tem cabelos loiros quase que platinados, é alto e de ombros largos, visivelmente parece fazer exercícios. Ele pega um pote e logo estranho quando vejo um sorriso de canto em quanto ele se vira pra mim, me espanto quando vejo que é o príncipe. Mas o que diabos ele está fazendo em nosso vilarejo? Aqui não tem nada de bom a ele, e certamente não somos nenhum povo que tenha dinheiro.

Ele solta o pote no chão o fazendo  quebrar e um barulho alto se instala no ambiente, logo o olho nos olhos e faço uma careta nada agradável. Ele está tentando fazer o que? me deixar irritada? A ponto de desaforalo e terem que me levar a cadeia municipal?

- Vim lhe trazer está carta, eu sei que é estranho um príncipe lindo como eu fazer o trabalho de seus súditos, mas estava sem nada interessante para efetuar, e também queria ver as donzelas que moram aqui qual são bem conhecidas...- ele pega uma mecha de meu cabelo perto de minha orelha e desliza os dedos naquela região, eu me afasto de imediato.- pelos cabelos de fogo. Obviamente você é bem mais bonita que sua mãe, sim eu já a vi, ela não é tão velha assim mas você.- ele me da um sorriso presunçoso sem que eu perceba estremeço, e ele se afasta deixando a carta no balcão.- Ah sim, e se a carta estiver aberta é porque eu já li e já te alerto, não é nada bom.







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