III- Ordem Rel.

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Vejo aquele príncipe estupidamente bonito saindo e ainda me olhando com aquele olhar gozador, e aquele sorriso zombeteiro que de nenhum modo tira do rosto. Saio de trás do balcão e varro toda aquela sujeira e deixo num canto afastado dos clientes, não vou correr o risco de alguém se machucar com aqueles vidros. Depois de deixar tudo limpo volto a atenção aquela carta e logo sinto uma pressão no meu peito de vontade de abrir, até penso em esperar o final do dia e dar aos meus pais para abrirem e lerem, até porque seria o mais educado a se fazer, mas aquela curiosidade me consome de um jeito excessivo e com toda certeza incomum, até porque eu sempre fui uma cópia de minha mãe tanto quanto na aparência quanto no meu jeito de ser, mas afinal porque estou dizendo isso?

Porque ela é totalmente calma e passiva e sabe controlar muito bem a ansiedade, e nesse exato momento não estou conseguindo controlar de jeito nenhum. Só de me lembrar naquele sorriso arrogante me faz remoer essa angústia por dentro, e por fim abro de vez aquela carta. 

Cara senhorita Hanna Willer, o rei ordena que compareça ao Castelo amanhã de manhã, o rei em pessoa a explicara qual será a sua tarefa, se a caso recusar ficará no calabouço do Castelo até segunda ordem.
Ass: parlamento real.

Mas o que? O que este rei está pretendendo? Coisa boa não é, até porque todos sabem que desde quando ele se tornou rei nunca fez nada de bom pro povo, só trouxe miséria e vergonha para o Reino. Mas não vou ser pessimista mesmo obviamente sendo ameaçada por carta, e ainda mais quando o príncipe falou que está carta não era nada bom.

Mas em fim, espero que meus pais colaborem até porque estamos sendo obrigados de qualquer jeito. Suspiro atordoada e volto a atender os clientes normalmente alguns me olham meio preocupados pois sempre atendo todos com um sorriso no rosto, mas depois que aquele príncipe mesquinho me trouxe aquele pedaço de papel não consigo abrir sequer um mísero sorriso, não consigo parar de pensar no que possa ser aquele tal "pedido".

Ouço alguém gritar meu nome e logo olho para frente, eu que até em tão estava colocando no lugar as vasilhas de volta às prateleiras, vejo minha velha amiga Coral correr até mim e me abraçar forte e super estusiamada, dou tapinhas em suas costas em quanto ela me abraça, tento dar um sorriso e ao mesmo tempo saí uma careta em meu rosto, só fico esperando ela me soltar e eu perguntar o porque ela está tão animada.

- Você vai cair pra trás quando souber quem venho me trazer uma carta no boticário de minha mãe.- Coral diz com um sorriso maior que o rosto.

Ah sim, a mãe de coral também possui um boticário, na realidade só contém dois no vilarejo inteiro, a família de Coral já tinha antes de que minha mãe, só que antigamente eles não moravam neste Reino mas sim no reino vizinho, e lá possuíam um dos maiores boticários, mas pelo que eu pude ouvir eles haviam falido por várias dívidas, e vieram morar no nosso Reino que infelizmente é mais desprovido do que Steelland.

Steelland atualmente é o Reino mais próspero de toda monarquia inglesa, mais conhecido como o Reino do ferro e da cerveja, e por seus imensuráveis festejos. O atual rei soube bem como governar, ele não se acabou nas festas como o nosso, mas sim as faz com o intuito de ter ainda mais dinheiro, pois é lá que você pode encontrar de tudo, tanto como as mulheres mais caras e com uma beleza invejavel, as melhores e mais saborosas cervejas e os alucinógenos mais fortes e seguros do país inteiro.

Quando Coral me larga já imagino o que ela possa falar mas vejo que ela está querendo que eu adivinhe.

- Já sei, o príncipe venho em quanto você estava trabalhando e te trouxe uma carta do rei.- digo em um tom de deboche, como se estivesse mesmo tentando chutar uma resposta, mas sei que foi exatamente isso até porque o rei não traria uma carta especialmente a mim.

- O que? Como você acertou? Na verdade você só errou uma parte, um guarda do rei me trouxe, mas o que?- ela literalmente chega a gritar o "o que?" e começa a dar pulinhos na minha frente.- o príncipe esteve aqui? Ah não, eu não acredito, porque não acontece essas coisas comigo?- ela faz um beicinho e uma carinha de choro e eu sorrio com a reação fofa dela, até porque Coral é totalmente fofa em todos os sentidos, a voz dela é tão meiga e doce mesmo quando ela está desse jeito toda animada, e fazendo todo esse alvoroço. Até seu rostinho pequeno e cabelos pretos cintilantes a deixam ainda mais meiga, e certamente bem mais feminina do que ela já é.

- Sim, mas sabe como é, eu sou muito especial.- dou uma risada zombeteira e pego uma mecha de meu cabelo balançando levemente na frente do rosto dela.

- Ah, quem dera eu ter um cabelo raro desses, o meu é só um preto comum e sem graça.- ela diz olhando pra baixo meio cabisbaixa.

- Esse preto aí que te deixa ainda mais linda, e você sabe disso Coral. Os rapazes sempre olham mais para você. Tenho certeza que o príncipe teve um compromisso muito importante e por isso não pode ter te entregado em mãos.- digo lhe dando um sorriso e um leve tapinha no ombro. Ela me olha com um sorriso confiante e toca em seu próprio cabelo.

- É realmente Hanna banana, eu sou espetacular.- ela ri alto e me da tapas fortes em minhas costas e neste exato momento só consigo me perguntar, aonde foi parar a Coral que eu conheço?- Mas então, oque você acha que nosso "prestigioso" rei está pretendendo?

- Sinceramente eu não sei, mas espero que não seja nada que prejudique ainda mais o povo.- digo suspirando e já ficando meio triste pensando na hipótese de ser algo desagradável.

- Ah, não seja assim Hanna. Vamos pensar que talvez seja um selo de garotas mais graciosas e lindas do Reino inteiro.- ela diz e eu caio na gargalhada e começo a rir tanto, que até coloco a mão na barriga pra tentar segurar a vontade de rir ainda mais, meu Deus, só ela pra me fazer rir desse jeito.

Vejo um cliente entrando e logo me recomponho, espero que ele não tenha visto eu gargalhando feito uma escandalosa no meio do trabalho.

- E mais uma coisa, você já disse aos seus pais? Eu ainda nem contei para os meus, porque pela minha má sorte nem estavam em casa, na verdade, pensando bem, até agradeço porque eu teria feito um escândalo e minha mãe já teria me reprendido falando "Coral! Mulheres de família como a nossa, não podem ter esse tipo de atitude vergonhosa".- ela fala enquanto tenta imitar a voz rígida da própria mãe.

- Também não contei aos meus pais, mas espero que não se oponham até porque não quero ficar no calabouço do Reino, ou ser presa na cadeia municipal até sabe se lá quanto tempo.- suspiro e Coral só diz "eu também" e logo se vai ainda saltitando e surpreendente extasiada, estou começando a achar que ela realmente acha que vamos ganhar um selo das mais bonitas e graciosas do Reino.






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