Ele está em todos os meus pesadelos

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Ao perceber que, mais uma vez, se perdeu em pensamentos, Anne desiste de tentar prestar atenção nos assuntos de sua mãe.
Encarando o nada, ela vaga em lembranças novamente lembrando dá época em que era "feliz", quando ele, seu melhor amigo imaginário, ainda estava lá.

" - Quer ver uma mágica?

- Quero! - no mesmo instante ela vê um boneco de neve andar e se acaba em risadas - Faz ele dançar!

- O seu pedido é uma ordem - e lá estava o boneco dançando e fazendo palhaçadas, a pequena garota se acabava em risadas, nem parecia que a poucos minutos ela estava chorando."

- Anne?! - Sua mãe chama sua atenção - dá para, pelo menos uma vez, você prestar atenção na conversa?!

- Mãe, não estou afim de ouvir seus sermões. Fique aí fofocando sobre suas amigas ou colegas de trabalho que eu tenho mais o que fazer - respirando fundo ela se levanta da poltrona e anda em direção ao seu quarto.

- Olha como você fala comigo! - Diz sua mãe em um grito.

Ao entrar em seu refúgio, ela tranca a porta e ignora, novamente, os gritos de sua mãe.
Que inferno! Não acredito que após anos agora que ela liga para o que eu faço, pensa consigo mesma ao se jogar em sua cama.

- Já voltou querida?

- Ah cara! Nem tu me deixa em paz, ainda é dia, sabia?

- Eu só vim ver como estava - ele expressa um sorriso cínico.

- Eu não ligo, até essa escuridão é melhor do que ficar lá - ela resmunga mais alguma coisa, fecha seus olhos e se prepara para a onda de pesadelos que está por vir, começa que nem todos os outros, com aquela maldita frase.

Após duas horas, a garota levanta de sua cama com uma expressão de exaustão, sabia que à noite ainda teria outra sessão dessa e queria se "preparar". Ao olhar para suas roupas amontoadas e bagunçadas em seu guarda roupa, ela pega o primeiro pijama que vê, um pequeno e velho pijama branco com flocos de neve, do qual era seu favorito de infância e o dele também, ao perceber que voltou a divagar em memórias, se recompôs e pegou sua toalha.

Já mergulhada em sua banheira, ela aprecia a água morna em todo seu corpo e usando isto para se acalmar, ela se afunda um pouco mais. Por poucos segundos, ela considera mergulhar totalmente e não sair mais, porém, não pode, alguém nesta casa ainda precisa dela, sua irmã.

Ao sentir que a água estava esfriando, ela se levanta pegando sua toalha para cobrir seu pequeno corpo e não sentir frio enquanto manda toda aquela água pro ralo. 
Quando olhou para seu próprio reflexo no espelho, ela nem se surpreendeu ao ver mais uma vez olheiras, esse era o sintoma de várias noites mal dormidas. Essas olheiras se destacavam em sua pele tão branca quanto papel mas não se destacavam tanto quanto seu cabelo que era grande e preto, isto sim era um contraste perfeito como ele dizia.

- Dá pra parar Anne? - fala consigo mesma - ele não existe ou existiu porque pensar tanto nele? E se caso existiu, ele te abandonou, então esqueça! Pare de lembrar dele em tudo o que vê.

Depois de deixar algumas lágrimas rolarem, procura um pouco de força e veste seu pijama, se sentindo confortável finalmente.
Agora, precisando ser mais forte, ela sai de seu banheiro vendo um ser sentado em sua cama com um sorriso que acalma seu coração.

- Lane, você saiu do banho! - a pequena garota corre para abraça-la - mamãe brigou com você de novo? - Anne confirma balançando a cabeça, não conseguia mentir para a pequena - deixa isso pra lá, provavelmente ela estava com raiva de algo e descontou em você.

Com muitos anos de diferença, sua irmã é bem mais nova que ela, não entende os problemas que habitam nesta casa e não compreende o inferno que é, só sabe que a mamãe vive com raiva da irmã. Ela tenta juntar toda família ainda, ela é esperançosa mas Anne não, já havia desistido de fazer seus pais se importarem ou alguma coisa assim, para eles e para todos ela era louca e ela se acostumou a não se importar mais com isso.

- Hollie, que tal se a gente tomar um sorvete? - a menina olha para ela com olhos brilhantes.

- Sorvete?! Quero sim!

Já na cozinha, Hollie está sentada na mesa, observando sua irmã colocar sorvete para as duas, como a pequena é inocente e pura, ela nunca teve pesadelo algum e isso encantava e amedrontava a Anne pois ela era assim antes de sua vida passar a ser um pesadelo pior do que já era, por isso ela tentava de tudo para que sua irmãzinha não sofresse com nada.

- Lane?

- Sim?

- Mamãe te contou? Nossos tios vão vir amanhã e vão trazer aquele nosso primo, o Jamie. - a pequena menina sorri ao pensar que vai ter alguém para brincar.

- Ela não me contou, mas é bom ter parentes aqui, você vai brincar muito né? - Sorrindo ela observa a irmã abocanhar o sorvete, toda alegre.

- Se ele quiser, eu vou sim! - e lá se vai a garotinha acabar com o sorvete em um estalar de dedos.

Já à noite, em sua cama, Anne se prepara para o que está por vir, Breu não tem hora para chegar e isso é o que mais a assusta, ele simplesmente surge do nada das sombras sem aviso prévio nem nada e ela precisa ficar lá, esperando ele sugir, o que acontece normalmente quando ela relaxa achando que ele não vêm. Após umas 3 horas encarando o teto, ela tem uma mínima esperança de que dessa vez, ele deixe ela ter uma noite de sono razoável e parece que sim, ele a deixou dormir tranquilamente porque no dia seguinte, ela acorda sem ter tido um pesadelo se quer, o que à impressionou já que breu nunca havia deixado ela em paz a noite.
Com um pouco de ânimo, ela se levanta vendo que já são quase 10 da manhã, acordou tarde desta vez e o pior é que seus parentes já estavam aí, ela podia ouvir suas vozes e os gritos das crianças correndo pela casa, já sabia que iria ouvir um sermão daqueles, porém, desta vez, não ligou, estava de bom humor assim que acordou pela primeira vez em anos, então queria manter ele ali.
Após vestir a roupa mais confortável e que demonstrasse seu humor, ela sai de seu quarto quase sendo atropelada por dois seres correndo.

- Bom dia para vocês também! - fala rindo, vendo os dois voltarem correndo para desejar um bom dia e correrem novamente.

Ao chegar na sala, vê apenas seus tios lá, cumprimenta eles e se senta vendo que sua tia queria conversar com ela, o que poderia se resumir em perguntas se ela conseguiu se "curar", se ela já arrumou alguém e que se ela quisesse a tia a ajudaria no que precisasse. Ela sorri, ela ama sua tia pois mesmo que a ache louca, sua tia se preocupa e cuida dela como nem sua própria mãe cuidou.

Ao chegar a tarde, ela sai para caminhar com as crianças pois sua mãe e tia estavam brigando por causa da mesma.
Enquanto caminhavam, Jamie observava ela, que com uma cara séria, caminhava tentando esquecer os problemas.

- Nani? A tia sempre grita com você? - Ele para de andar para olhar melhor para ela.

- Ah Jami, isso já é normal - com um sorriso falso ela continua andando.

O menino volta a caminhar com um olhar prepcupado. Ele, igual sua mãe, se preocupava com a garota.

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