Gritos

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Gritos. Eu ouvi gritos. Ainda estava atordoada demais. Eu tentava abrir os olhos mas eles estavam pesados demais pra isso.
"Me ajude!" eu continuava a ouvir. Era a voz de uma mulher.
"Silêncio! Você me impede de pensar!"
Dizia outra voz, essa masculina.
Forcei um pouco mais para abrir os olhos e consegui com muita dificuldade. Eu dava piscava pesadas forçando a visão para enxergar alguma coisa.
Luz vermelha.
Uma mesinha e uma cadeira.
Um livro ou caderno.
Um copo com água.
Uma taça com vinho.

Alguém entrou na sala. Um homem.
Roupa preta, cabelos curtos e pretos também.
Sons de correntes.
Eu mal podia enxergar e o pouco que via estava embaçado demais.
Tropecei em minhas proprias pernas e me senti despencar como se estivesse bêbada.
Ele me pegou pelo braço antes que eu pudesse cair.

- Venha.
- Ond... - não conseguia falar direito e tinha impressão que só saiam balbucios sem silabas formadas.
Ele me obrigou a andar alguns metros mas eu não conseguia ver direito, mas pude notar a presença das correntes longe.
Pelo jeito estavamos no segundo andar de algum galpão e eu as via pender até o andar debaixo.

Os gritos persistiam.
"Socorro"

Entramos numa sala também com as luzes vermelhas.
Ele me colocou sentada numa espécie de poltrona e soltou meu braço. Doía pela força com a qual segurou e eu ainda podia sentir os dedos dele apertando minha carne.
Senti alguém se aproximando. Virei para o lado para ver. Era uma garota de cabelos pretos e muito branca. Usava roupas de couro muito justas. Senti ela colocando algo metalico em meu pescoço e pude ouvir o "click" quando ela encaixou.
- Saia, Isabelle. - Ouvi uma voz masculina dizendo logo a minha frente.
- Lucio.
- Sim, mestre?
- Dê a ela.
- Sim.
Eu podia ouvir a conversa como se estivesse dentro da minha cabeça.
Alguém segurou meu maxilar e flexionou meus labios abrindo minha boca e pude sentir um líquido quente jorrando em minha garganta.
Tentei resistir mas segurou mais forte.
- Beba, criança. Fará você se recuperar.
Ele tinha razão. Foram segundos para me recompor e voltar a exergar a minha frente.
Era uma criatura andrógina dificil de identificar. Não era uma mulher trans, mas não era um homem. O cabelo era negro e excessivamente liso que passava do assento da cadeira e havia alguma parte do cabelo preso atrás pois era possivel ver mechas levantadas na lateral da cabeça.Seu rosto era extremamente magro e a pele tão clara que algumas veias sobressaiam. Os olhos tinham heterocromia e um era de um azul quase branco enquanto o outro era preto. A boca tinha um batom vermelho escuro.
Usava um vestido de cetim preto bem soltinho que destacava a magreza absurda e os traços de um corpo masculino. E por cima uma espécie de sobretudo. As mãos magras com imensas unhas stiletto pintadas de vermelho. Usava muitas pulseiras e anéis, o que destacava ainda mais as mãos.
As pernas eram estavam quase completamente cobertas por uma bota Over the knee em couro envernizado branco.

- Melhor?

- Quem é você? - perguntei irritada ao perceber que eu estava com uma coleira no pescoço que estava presa por uma corrente no chão.

 - A pessoa que está perguntando se está melhor. - Ele disse rindo.

 - Bem, obrigada, apesar de estar presa como um cachorro.

- Lestat sempre teve gostos peculiares.

 - Lestat? Foi ele que fez isso?

- Oh, não, querida. Ele queria você, mas nós temos planos melhores.

- Eu planejo quebrar a sua cara, projeto de Marilyn Manson.

Ele riu sarcasticamente.

- Manson? - Riu novamente - Seu senso de humor é maravilhoso, já vi por que ele te escolheu. Claro que não foi por isso, mas ajudou, tenho certeza. Na ultima vida você era mais careta, querida.

- O quê? O que você me deu para tomar?

- Oras, querida, vamos começar essa conversa direito. - Sorriu pegando uma taça com o que aparentava ser vinho, da mão de uma garota que o servia. - Pode me chamar de Gregory. E esses são meus filhos. - Disse apontado para outras pessoas que estavam paradas atrás ou do lado dele.

Foquei em uma em especifico. Uma menina que aparentava ter uns 12 anos. Ela era a única que não parecia estar confortável com o local. Loura, cabelos logo abaixo dos ombros, pequenina, os olhos negros e a pele bem corada, diferente dos outros.

 - O que você tomou foi sangue. Ou você não percebeu seus caninos mais afiados?

- O que está dizendo? - Disse passando a língua sobre os caninos e percebendo que ele tinha razão.

- Ah, querida. Infelizmente não pudemos chegar a tempo. Infelizmente ele a transformou antes. Mas anime-se... - disse se levantando da poltrona - agora você será mais útil do que seria a Lestat. Você servirá a dezenas de vampiros, dando exatamente o que eles precisavam e mais queriam. - continuava a falar, andando pelo cômodo - O sangue real. O sangue original. E claro... Alguma diversão aos que pagarem mais. - Soltou um riso e tomou o ultimo gole da taça que agora notei que deveria ser sangue. - Compreenda, minha criança, você foi escolhida para ser o cálice dos mais antigos e a diversão dos imortais. Não é uma honra?

- Vai se ferrar, Manson.

Ele riu.

- Tirem-na daqui. - esticando um dos braços para duas das garotas na sala. - Elisha, Rosanne...Preparem ela para a nossa reunião. Eles devem chegar a qualquer momento.

- Reunião? Que reunião? Quem vai chegar? O que você vai fazer? - Eu gritava enquanto soltavam a corrente da coleira do chão e me puxavam para fora do cômodo.

- Grace, venha para o mestre. - Chamou a menina loura, me ignorando.

A Orgia dos Vampiros  (Lestat Fic)Onde histórias criam vida. Descubra agora