um (ou o quase prólogo)

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- Garotas? - Mira bateu no quarto com a porta riscada de giz de cera, encostando nela enquanto esperava uma resposta. - Hora de acordar.

Mira tinha acabado de completar 18 anos, 4 meses atrás. Mas, para o seu azar, seu pai havia falecido duas semanas após o seu aniversário. Sua mãe, desaparecida havia mais de 2 anos, não deu notícias nem com o caso, o que levava a Mira e suas irmãs a pensar o pior também.

O Conselho Tutelar da Cidade de Nova York havia afastado suas três irmãs da escola para resolver a papelada depois de ficarem órfãs, e Mira decidiu cuidar das irmãs ela mesma. Havia feito isso metade de sua vida de qualquer jeito, conseguia fazer isso agora.

Nesses 4 meses, Mira e as garotas haviam se sustentado da indenização que o motorista que atropelou seu pai teve que pagar ao ser processado, mas agora que o dinheiro havia acabado e os documentos que comprovavam que Mira era a responsável por suas irmãs haviam sido todos entregues a ela, a vida tinha que voltar ao normal.

- Não quero ir. - Aurora falou esfregando os olhos, enquanto descia as escadas minutos depois e Mira já preparava o café da manhã.

- Mas precisa, querida. - Mira suspirou. - Pegue seus óculos, não os esqueça.

- Como eu esqueceria algo que me faz enxergar? - Ela revirou os olhos, e Mira riu, voltando sua atenção à comida.

- Bom dia! - Ayla, diferente de Aurora, desceu as escadas pulando, e o rabinho de cavalo acompanhando seus passos. Ayla era a caçula, 5 anos de idade, e muita energia. Às vezes era difícil acompanhá-la de tanto que falava.

- Bom dia, pulguinha. - Mira deu um sorriso meigo para ela, que foi direto ver o que sua irmã fazia de café da manhã. Ela ficou na ponta dos pés, e soltou um gritinho acompanhado de palmas quando viu o que estava dentro da panela.

- Panquecas salgadas!

- Sabia que iria gostar. - Mira riu, e Ayla assentiu, seguindo Aurora pela casa.

- Dá pra sair do meu pé? - Aurora murmurou, e Ayla abraçou sua cintura por trás, fazendo com que a mais velha a arrastasse.

- Não.

Mira olhou para as escadas mais uma vez, e ergueu as sobrancelhas quando viu Violet descendo-as lentamente, com um boné na cabeça e a mochila já nas costas. Ela pensou que teria que chamar a garota mais de uma vez.

- Não vai trocar de roupa? - Mira perguntou, começando a colocar as panquecas na mesa, ao que Violet se sentou numa cadeira.

A garota deu de ombros.

- Já estou arrumada.

- Violet, você está com a camisa do seu pijama. Tem cachorrinhos nela.

Violet deu de ombros outra vez, começando a comer.

Mira não sabia se sua irmã estava assim por causa do choque ou pela idade. Aurora tinha 12 anos, já entendia o que aconteceu e era madura o suficiente para se controlar. Ayla era pequena demais para entender, e, Violet, por sua vez, tinha 10 anos. Sabia o que havia acontecido, mas era nova demais para controlar seus sentimentos.

A mais velha suspirou, se sentando ao lado dela.

- O que está acontecendo?

Violet a olhou, com as bochechas cheias de panqueca.

- Nada. - A garota respondeu.

- Violet... - Mira estreitou os olhos.

- Nada! Nada está acontecendo. - Violet balançou a cabeça, ainda olhando para sua irmã. Seus olhos eram grandes e castanhos, e pareciam esconder algo.

Mira suspirou, assentindo e se levantando da mesa. Ela podia se preocupar com Violet mais tarde, agora precisava se arrumar para o terceiro dia de trabalho.

- Tenha um bom dia. - Ela beijou a cabeça de Violet, que sorriu.

Ela subiu para o seu quarto, que costumava ser o quarto dos seus pais, e começou a se trocar. Ela ainda tinha que acertar algumas coisas antes de começar a trabalhar para valer, e não podia se atrasar, muito menos chegar desarrumada.

- Preciso de absorventes. - Aurora passou pelo quarto, com Ayla ainda agarrada à ela.

Mira suspirou, pegando um pacote e deixando em cima da cômoda ao lado da porta. Aurora pegaria quando passasse de volta.

- O que é um absorvente? - Mira escutou Ayla falar no fim do corredor, e deu uma risada sozinha.

- Um band-aid de lugares íntimos. - Aurora respondeu.

- O quê?

- Se arrume logo!

Mira amarrou seu cabelo castanho em um rabo de cavalo, dando batidinhas em sua roupa para desamassá-la e se olhando no espelho. Ela não era muito familiarizada com maquiagem, mas seus olhos avelã tinham um delineado e a pele morena uma base que Aurora lhe comprara.

- Deve ser o suficiente para hoje.

Ela olhou para os saltos debaixo de sua cama, choramingando quando se abaixou para pegá-los.

A vida adulta...

- Todo mundo arrumado? - Mira gritou enquanto descia as escadas, tentando não cair do salto.

- Você está muito bonita, Mira. - Ayla falou, com os bracinhos para trás e uma carinha desconfiada.

- O que você aprontou, Ay? - A mais velha estreitou os olhos.

- Nada! Só disse que está bonita. - A pequenininha entrou na frente de sua irmã, a impedindo de andar.

- Ok. - Mira estreitou os olhos, cutucando seu nariz. - Obrigada.

Violet apareceu na sala segundos depois, segurando um tênis molhado e rasgado com a ponta do dedo indicador.

- Ayla deixou Zack morder meu tênis de novo!

Ayla sorriu nervosa, e Mira estreitou os olhos outra vez.

- Estava velho mesmo! Ela precisa de sapatos novos, iguais aos seus! - Ayla falou, apontando para os pés de Violet.

- Mas eu gostava deles! - Violet gritou, e seus olhos ficaram marejados.

- Tudo bem, tudo bem. - Mira pegou o tênis da mão de Violet, abrindo a porta dos fundos e os colocando para fora.

Ela fechou a porta e olhou para Ayla, que ainda estava lá.

- Converso com você depois, mocinha.

- Mas...

- Pro carro.

Ayla bufou, mas obedeceu à sua irmã. Violet pegou sua mochila no sofá e começou a andar até a porta também, mas Mira segurou seu braço.

- Preciso falar com você também quando chegarmos.

Violet se soltou de Mira sem dizer uma palavra, continuando seu caminho.

- Aurora! - Mira gritou, olhando para o relógio.

- Ela já está no carro. - Violet resmungou, abrindo a porta e saindo.

Mira arregalou os olhos, pegando sua bolsa em cima do sofá, as chaves do carro na mesa de centro e seguindo a garota.

- Meu Deus...

eu ainda não decidi um nome.Onde histórias criam vida. Descubra agora