Capítulo 1 - Pode entrar

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Mais uma vez Mary Jane estava naquela situação triste e deplorável. Tinha brigado novamente com seu noivo. Naquela noite as coisas não foram bem, uma conversa sobre adiar a data poderia desencadear tantas coisas?

— É por causa dele, não é?

Dele, Peter Parker.

Ela negou, mas só fez seu noivo rir sem humor.

Tentou se explicar, afinal ela estava feliz ao seu lado. Era exagero. O relacionamento que procurava não poderia ter com Peter, e por anos foi difícil para os dois finalmente entenderem isso.

Entenderem que estabilidade não era algo razoável ou possível quando se está num relacionamento com quem quer salvar o mundo, ou apenas uma cidade e muitas vezes não recebe nada em troca.

Não era uma profissão remunerada, pelo contrário, gastava nela. Não era um médico, era um vigilante.

E ela, uma atriz.

Instabilidade financeira não era uma realidade, ambos fazendo outras profissões para conseguirem pagar as contas. Mas a verdade que na relação esse não era dos maiores problemas. Na adolescência eles já tinham e permaneceram tendo-o, mesmo com ela possuindo sua carreira, mesmo com ele não sendo apenas um fotógrafo freelance, entregador de pizza. Depois, professor, ou ganhando pela S.H.I.E.L.D., ganhando bolsa nos projetos científicos. O tempo sempre fora o inimigo.

Por um lado, amava Peter Parker por completo, incluindo a adrenalina e a emoção dele ser o Homem-Aranha. Na verdade, foi o que deu o pontapé para eles dois, o fato dele ser um herói, entretanto foi o que passou a atrapalhar.

Quanto mais envelhecia, menos da energia juvenil e da euforia ela tinha, e por mais sossego necessitava. Queria uma bela casa, numa boa vizinhança, cachorro e filhos. Tranquilidade.

Se casou com Peter Parker sabendo que não poderia ter tudo isso, mas se adaptaria.

Ao menos pensou.

Pensavam que o casamento seria diferente dos anos em que terminavam e voltavam naquele namoro. Ambos tentavam recomeçar tantas vezes e de primeira já teve problemas, Peter notou que não tinha ainda superado a perda de Gwen e o fantasma dela estava entre eles. Tinham ido muito cedo, eram jovens.

E sempre que voltavam, era outro problema, mesmo após ele seguir em frente e ela também, afinal Gwen era sua amiga, houve outros dramas.

Mas com seu noivo, ir a jantares a luz de velas, beber vinho, conversar sobre o trabalho e ele realmente lhe ouvir em vez de acabar por se desinteressar por estar de cabeça cheia, era um ótimo equilíbrio.

Ela, atriz de sucesso, com um executivo que lhe tratava bem, se perdia em seus belos olhos, tudo parecia bem.

— É ele sim, não negue. Desde que o viu na festa vem agindo estranho.

Ela estava? Não tinha reparado.

Mas sim. Estava com medo.

Anos depois, tomou coragem para recomeçar de novo e ter uma família como queria, entretanto, o medo de ter mais um casamento fracassado bateu na porta quando naquele salão glamuroso seus olhos cruzaram com os dele.

Era só isso?

Explicou que era, mas ele não lhe deu ouvidos.

Foi beber. Não era uma decisão razoável, porém não sabia o que mais poderia fazer.

Bêbeda, repetiu aquele hábito que jurou superar, que eles não fariam mais. Pegou um táxi e foi para o apartamento dele, Peter Parker.

O novo apartamento.

Muito melhor em comparação ao que ele vivia antes.

Ele e ela tinham ao mesmo dado a volta por cima, ao menos financeiramente.


Era triste se verem naquele salão após terem o que queriam, mas não um ao outro?


Afinal, por anos achavam que eram almas gêmeas e que por isso viviam voltando por mais que terminassem, por mais que juntos ficavam por pouco tempo.

Não fazia muito sentido.

Menos ainda achar que o casamento resolveria.

Não tinha resolvido e olha como estavam?

Tocou a campainha, rezando para ouvir ele, sua voz. Era sua primeira vez em frente aquela porta. No máximo passava em frente, no máximo ficou no corredor quando com amigos em comum quando foram o buscar para sair, ou resolver pendência, como com a Black Cat.

Mas não foi a voz dele.

Foi uma voz de um outro homem:

— Ué, tocando a campainha por quê? — Passos se aproximando. — Até achei que não usaria a port— parou de falar, deveria ter a visto pelo olho de vidro a porta.


Wade se surpreende ao ver que não era o Peter do lado de fora, e sim a moça ruiva com o cabelo muito bagunçado, muito bem vestida.

Sinceramente, Deadpool preferiria que seu primeiro chute estivesse certo e que fosse uma agente da S.H.I.E.L.D.

A noite estava indo tão bem...

Claro que algo tinha que acontecer para atrapalhar e nesse caso, a ex-esposa do Aranha fazia os serviços de estragar qualquer plano.

Ou poderia só a mandar embora.

Peter não estava.

Ele voltaria logo, mas ela não precisava saber.

Cerrou os olhos e os punhos, segurou a cabeça careca em seguida, frustrado.

— Olá? — ela ainda tentava obter resposta.

E a porta se abriu.

Quando o viu, perdeu o fôlego.

Wade tinha maxilar tenso, estava sem máscara, de roupão.

Ela viu o roupão e o grande homem por baixo dele com a pele cheia de cicatrizes, marcada em texturas. Alto, muito musculoso, grande peitoral, os olhos azuis num tom intenso como o céu lhe encarando.

Ele se afastou e fez referência para ela entrar.

Nervosa, concordou e entrou.

— Ele já volta.

E antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ele saiu da sala indo para um corredor.

Incerta, se sentou no sofá, sem prestar verdadeiramente atenção no que se passava na tv. E pode ver ele voltar mascarado, pelo menos. E ela mordeu o lábio, cerrando o punho ao reconhecer.

— Deadpool?

— O verdadeiro — disse ele dando de ombros. Os largos ombros.

Ele abriu uma garrafa de cerveja e lhe ofereceu uma latinha fechada, ela acabou aceitando.

Em silêncio, bebeu, mal descia a bebida. Sentia o nó garganta e as lágrimas já escorriam.

— Faz sentido — disse MJ.

— ... do que está falando?

— Que você faz o tipo dele.

Os olhos brancos da máscara de Deadpool arregalados a encarando. Mais pelo o que ela disse do que pelo o que fazia.

Não tem voltaOnde histórias criam vida. Descubra agora