Prefácio

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Em um dia de trabalho como outro qualquer, um viajante maltrapilho entrou pela porta da taverna onde eu trabalhava. Com um olhar desconfiado e com o nariz empinado caminhou de maneira lenta e firme até o balcão, pediu uma dose da bebida mais forte e, após virar o líquido rapidamente, e deixar algumas moedas de prata ao lado do copo vazio, olhou-me com seus olhos incrivelmente azuis, dizendo:

"Evite preocupações, sublime flor, receberá da vida tudo aquilo que cativas".

E assim como apareceu, ele sumiu. Não deixou rastros e nem qualquer coisa que pudesse acarretar em sua localização.

Sempre que paro para pensar na vida e tudo o que me vem acontecendo nos últimos anos, termino por lembrar-me da frase proferida pelo jovem de olhos tão claros quanto o céu em um dia sem nuvens. Dizer que aquela ação me deixou assustada era meramente uma redundância. Lembro que petrificada, observei durante alguns minutos a porta por onde o homem saiu como se nada tivesse acontecido e me amaldiçoei diversas vezes por não o ter parado e exigido que falasse de onde havia tirado aquilo; sublime flor. Haveria, deveras, uma infinidade de coisas que aquela bendita frase poderia me remeter, isso, claro, aos olhos de uma pessoa comum, mas, sabia, aquilo era um aviso. Um aviso que não deveria esquecer-se daquele jogo maldito feito pelos deuses, algo que estava fadada a participar se quisesse que tudo em sua vida pudesse retornar a normalidade que deixou seus dias acerca de 5 anos.

Sublime flor

Somente uma pessoa havia me chamado assim e a lembrança desta fez meu corpo estremecer.

Sublime flor

Ali, sozinha e acorrentada a lembranças felizes e ao mesmo tempo dolorosas, acabei por tomar uma decisão. Já tinha permanecido muito naquele lugar, tudo o que eu poderia retirar dali já havia se esgotado e, sinceramente, estava ansiosa pra colocar um fim naquilo tudo.

Sublime flor

"Aguente firme, por favor! Irei salvar você... Irei salvar todos vocês".

Olhei rapidamente para crepúsculo a minha frente e resolvi voltar para a vila. Certamente não seria vista com bons olhos se fosse descoberta naquele lugar. Além de ficar perto de um magnifico precipício, aquele lugar também era rodeado por uma floresta densa e, porque não dizer, sombria. Diziam que coisas sinistras rodeavam aquele lugar e que ela era amaldiçoada,  e para os habitantes daquele lugar pacato, cheio de crenças e de mentes subdesenvolvidas, isso era motivo de se perder o sono.

"Se eles soubessem..."

Um sorriso mórbido saiu de meus lábios sem que eu pudesse impedi-lo.

"...coisas sinistras são partes irrevogáveis de mim"






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