O vizinho irritante

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Aizawa suspirou ao ouvir a voz estridente vinda do outro lado da parede de seu quarto. Xingou baixinho, o sono era uma coisa sagrada para si e a oito meses estava praticamente sendo arruinado. A tortura começava sempre as dez horas da noite e as vezes ia até às duas da manhã.

    Seu vizinho — na qual não conhecia e nem tinha a mínima vontade de conhecer — colocava o som alto e começava a cantar, como se não houvesse amanhã. Não podia negar e dizer que a voz de seu vizinho era horrível, pelo contrário, era muito bonita e afinada, mas a questão não era do som ser  ou não bom, e sim, pelo fato de não conseguir dormir a noite. O que não o agradava nem um pouco.

    Grunhiu fechando os olhos, lutando para dormir, tarefa praticamente impossível para uma pessoa que tinha um som alto e uma pessoa cantando estridentemente em sua cabeça. Rolou de lado colocando o travesseiro em cima de sua cabeça. O que abafou um pouco o som, mas não o fez desaparecer, o que era frustrante.

    Rosnou irritado. Deitou de barriga para cima desistindo de domir e ouviu a música enquanto olhava para o teto. A música era um estilo de balada eletrônica animada, quem quer que fosse seu vizinho deveria gostar muito de baladas.

     Seu quarto que um dia fora pintado de branco, agora era um tom amarelo gorduroso. Tinha que admitir, por algum motivo aquele amarelo havia combinado com aquele cômodo, enquanto o resto do lugar era um azul estravagante. 

     O proprietário deveria ser muito amante de cores foscas, talvez devesse comprar algumas tintas e pintar seu apartamento, afinal aquele azul não combinava muito bem com aquele amarelho, que por algum motivo decidira manter.

Agora prestando muita atenção até que a música não era tão ruim assim. Era até boa. E ficou assim, olhando o teto e ouvindo seu vizinho irritante cantar, que fechou os olhos e—em algum momento em que não se lembrava—acabou dormindo.

Acordou no outro dia estranhamente revigorado. Talvez fosse pela boa soneca ou pelo cansaço do dia anterior,mas se sentia disposto e um tanto animado.

Começaria o dia de pé direito e nada mudaria seu humor.

                {•••}

Chegou do trabalho cansado. Trabalhava como funcionário de uma imobiliária e naquele dia três casais haviam ligado reclamando de alguns dos imóveis e ele,como atendente,teve que ouvir reclamações a tarde toda.

Por algum motivo não gostava de pessoas. O fato de falarem alto e sempre reclamarem da vida o deixava com dor de cabeça. Não sabia lidar com pessoas. Elas sempre eram imprevisíveis. Por algum motivo sempre se dera bem com gatos. Eles eram tão calmos,quietos e dorminhocos! Se identificava com eles.

Agora olhando bem para seu apartamento,viu que aquele azul da sala e da cozinha estava estranhamente desbotado e feio. Deveria pintar aquelas paredes... Mas com que cor? Não tinha gosto de cores definido e o preto era o que mais chegava perto de sua cor favorita. Mas preto iria escurecer ainda mais seu pequeno apartamento com apenas varanda e janela.

Suspirou deixando o pensamento de lado por um instante. Estava com muito sono.

Apenas soltou seu cabelo—que era grande o suficiente para estar preso em um rabo de cavalo—e se jogou na cama. Esperou então, olhando para i relógio que batia exatas dez horas da noite,que seu vizinho começasse sua sonata noturna. Mas após o relógio bater 22:30, acabou por estranhar de não ouvir a cantoria do outro lado de sua parede. O que teria acontecido? Ouvia passos no apartamento ao lado então certamente havia alguém lá dentro. Teria seu vizinho esquecido de cantar naquela noite? Duvidava muito. Estaria o relógio do lado atrasado? Não sabia ao certo. Apenas deitou-se de barriga pra cima e fitou varanda de seu quarto. As estrelas brilhavam lá fora. As cortinas balançavam com o vento fraco que corria pelas frestas da janela da porta. E foi quando deu meia noite e que os passos do apartamento ao lado deram lugar a pequenos roncos, percebeu que seu vizinho havia dormido e que a cantoria noturna não viria. Estava tão silencioso sem aquela música alta, como desejava à meses.

Sonata NoturnaOnde histórias criam vida. Descubra agora