Me perco nos pensamentos lembrando de como eram os dias antes de Brendon chegar. Nunca foi culpa dele, mas tudo começou naquele dia. Era uma quarta feira fria de inverno, estávamos todos ansiosos pela chegada dos novatos, eles eram as únicas novidades, chegavam cheios de histórias, de energia. estamos aqui a algum tempo e nunca nada acontece, os novatos eram uma diversão, que podíamos aproveitar duas vezes por ano. Eles sempre chegam no começo e no meio do ano, sempre no inicio do semestre. Naquele janeiro chegaram vinte, o que era incomum, geralmente nunca passava de dez.
Darly é um colégio interno para jovens... "complicados". Aquele seria meu terceiro ano e eu estava tão intediado. Lembro de pedir a Deus, ao universo ou seja lá ao que for que nos ouve quando falamos de olhos fechados, para que alguma coisa acontecesse e agitasse um pouco a nossa vida.
O universo me ouviu e quando o ônibus parou frente aos portões da escola desceram todos aqueles novos rostos, todos muitíssimo irritados. Brendon foi o quinto a descer. Lembro da reação da Mia, minha melhor amiga, quando o viu pela primeira vez. Ela parecia ter saído do mundo e entrado em outro plano, um plano cheio de flores e luzes e beijos. Ele era alto, tinha ombros largos e pernas cumpridas. Cabelos curtos e castanhos e os olhos mais verdes que alguém poderia ter. Eu não saberia, nem com mil palavras descrever a beleza tão única daquele garoto. Zombei de Mia aquele dia inteiro, imitava sua cara de adimiração e ríamos, não demorou muito para ela ir puxar conversa com ele e em três dias ele já fazia parte do grupo de estudos dela.
Mia era uma garota gentil e muito simpática, apaixonada por música e por Scar, o valentão, como eu costumava chamar. Aparentemente toda essa paixão por ele se foi no momento em que Brendon pos os pés em Darly.
No sábado, depois da meia noite, os alunos fugiram para a floresta, uma festa que acontecia pelo menos uma vez por mês. Bob, um grande e encrenqueiro amigo, era ótimo em conseguir favores de pessoas lá de fora. Ele nunca nos contou como conseguia as coisas, mas sabíamos que não era de forma legal. Ele conseguia qualquer coisa que quiséssemos, desde que não chamasse muita atenção, desde roupas e comidas a álcool e outras drogas. Uma grande fogueira foi acesa na clareira e uma musica não tão alta estimulava o pessoal a dançar. Eu dancei muito naquela noite, dancei sozinho e com a Mia, com o Bob, com a Tânia, que eu nem era muito próximo. Dancei com o Peter e com o Brendon. Dançar com o Brendon não foi uma boa experiência, pois além de ele pisar no meu pé, foi a primeira vez que percebi aqueles olhares e notei o poder que ele tinha sobre as pessoas. O poder que até então eu tinha visto somente em uma única pessoa em Darly.
Lembro do desconforto. Será que Mia nunca percebeu aqueles olhares? Ela sempre estava conversando com ele, próximo a ele, ela nunca se sentiu observada daquele jeito? Enquanto ele sorria me fazendo girar em todo ne mim e dele, ignorando todo mundo ao redor, algumas garotas e garotos nos olhavam. Parecia ciumes. Alguns tentavam disfarçar, outros cochichavam entre si. Eu sabia que era sobre nós.Olhei para ele e entendi. Tão belo, tão desejado. O queriam, queriam estar no meu lugar naquele momento. Era inveja ou sabe lá o que mais. Esse era o poder de Brendon, as pessoas se sentiam atraídas por ele e o desejavam. Eu já tinha visto isso antes, mas nunca pensei que olhariam pra mim daquela forma. Um pouco mais distante Mia conversava com Bob, ele estava empolgado contando algo, mas ela não tirava os olhos de nós. Ela estava com ciúmes dele.
Brendon me puxou para si quando a música acabou, estava aos risos e ofegante. Foi um abraço amigável, mas pecebi alguns rostos se contorcendo na multidão. Nossa plateia era pouca, mas firme e esquisita. Ele me disse ter adorado a dança e que depois dançariamos mais, agora ele queria agua. Me soltou e saiu.
Talvez eu quisesse dançar com Brendon novamente, mas não queria sentir aquilo de novo. Aqueles olhos nos observando, me senti quase ameaçado. Inventei uma desculpa qualquer para Bob e voltei para meu dormitório. Alguma coisa ruim estava prestes a acontecer, eu podia sentir. Decidi ficar longe de Brendon. Não quero problemas com ninguem e certamente os problemas virão. Aquelas pessoas parecem estar dedicadas em um objetivo comum, ter Brendon, conquista-lo. Eu sabia bem como era, aqueles olhares são os mesmos olhares que vi quando eu cheguei aqui ha dois anos. Quando Scar desceu do ônibus.