As semanas que se seguiram trouxeram turbulências. Mia ficou chorosa por uns dias, triste por Brendon oferecer sua amizade e nada mais além disso. Ele por outro lado vem se adaptando bem a rotina, a senhora Lurdes, professora de linguagem, falou muito bem do seu rabalho outro dia. Se aproximou um pouco mais de mim e do Bob e até o momento aqueles olhares estranhos não passaram disso, já até estou me acostumando.
Mia desenvolveu um plano, aceitou ser apenas amiga dele, mas vai tentar seduzi-lo no próximo sábado. Ela acha que se fizer ele beber o suficiente consegue leva-lo pra cama. Alias, levar Brendon pra cama se tornou a nova disputa do colégio. Mia e mais umas tres garotas estão disputando quem consegue ficar com ele primeiro, dois garotos também entraram na brincadeira. Brendon não se importa com os olhares, nem com nada. Ele sempre me diz que não quer nada com nenhuma delas, quer se focar nos estudos pra conseguir uma bolsa na faculdade.
Descobri nessas semanas, que ele é o tipo de cara legal que a gente costuma ver nos filmes de romance. Lá fora ele fazia parte de uma pequena gangue que roubava de um pessoal rico da sua cidade e usava o dinheiro para manter um abrigo para moradores de rua. Confeço que quanto mais ele me conta sobre si, mais eu acho ele um cara incrível. Mas é óbvio que eu não vou dizer isso a ele.
-- Eu falei bastante sobre mim. -- Ele diz num determinado momento. Estamos no intervalo do almoço, sentados no gramado próximo ao campo de futebol. Temos duas horas livres dos professores e decidimos ficar por aqui mesmo. -- me fale sobre você. Você nunca fala muito sobre si, sinto que nem te conheço.
Sorrio.Eu realmente falo pouco sobre mim. Depois de passar tanto tempo se escondendo a gente se acostuma a se manter nas sombras.
-- Garotos de rua. -- Digo não acreditando que eu vou mesmo contar essa historia. -- Era assim que chamavam a gente. Delinquentes. Costumávamos pixar os muros, os prédios. Éramos um grupo de pirralhos malucos que gostava de fazer umas coisas perigosas e tinha aquela torre telefônica no centro da cidade e a ideia parecia boa. Escalamos a noite, pixamos ela inteira, de cima a baixo. ficou toda colorida e era tão alto. Pra fechar com chave de ouro asteamos uma bandeira preta, enorme, lá no alto. Letras garrafais gigantes formavama a palavra: Liberdade. A policia chegou mais cedo do que esperávamos e então... Bem, meus pais me mandaram pra cá.
Ele parece mais impressionado do que eu esperava.
-- Você é bem mais ousado do que eu pensei. -- Da risada. -- Achei que sua história era como umas daquelas de pais que se casam novamente com outras pessoas e mandam os filhos pros colégios internos pra não precisarem lidar com eles.
Rimos de suas palavras.
-- Teria sido legal conhecer você lá fora. - Ele fala depois de um tempo.
Sorrio, talvez ele esteja certo.
-- Seria.A noite Mia vem até meu quarto. Estranho sua visita inesperada, mas não me importo. Ela começa falando sobre coisas quaisquer, mas percebo que sua intenção é outra. Não demora muito e ela pergunta se eu e Brendo estamos tendo algo. respondo que não, que somos apenas amigos e nos damos bem. Ela parece satisfeita, pede desculpas e depois de um tempo vai embora.
No outro dia, pela manhã, sou chamado para conversar com o senhor Hills, um dos coordenadores. Ele é um homem de meia idade e poucos cabelos brancos, que sempre usa terno preto. Serio e formal, ele me elogia pelo meu bom desempenho como aluno na Darly.
-- Suas avaliações do semestre passado foram tão boas que decidimos reduzir sua carga horária de aulas.
Fico muito feliz ao ouvir isso e saio da sala muito animado. Minha carga horária de sete horas de aula, diminuiu para cinco horas. Agora eu vou ter somente uma aula pela manhã e quatro a tarde. Todos os dias somos obrigados a fazer sete aulas, uma hora cada uma delas. começamos as oito da manhã e três aulas depois já são onze horas. duas horas para almoçar e as uma da tarde voltamos para as aulas terminando as cinco da tarde. Além das aulas normais tem os cursos complementares, que acontecem três vezes por semana e duram duas horas. Também tem as atividades extras, como esporte ou algum grupo de estudos. No geral nosso dia inteiro é dedicado a estudar.
Um mês se foi desde que Brendon chegou a escola e o nível de assedio sobre ele apenas aumenta. Nossa amizade vem ficando mais forte e eu gosto de nossas conversas. Bob já esta organizando a próxima festa, aquela na qual Mia vai tentar embriagar o Brendon. Preferi não me intrometer.
Estou na biblioteca pesquisando sobre o egito antigo. Um trabalho sobre pirâmides, deuses e faraós. Me levanto da mesa para procurar um livro nas prateleiras e enquanto leio titulo por titulo nas laterais dos livros, não percebo a aproximação.-- Trabalho de história? -- Ouço aquela voz tão conhecida me tirar a concentração.
Kayle está a minha frente egurano um livro qualquer em mãos e esperando uma resposta.
-- Sim. -- Respondo confuso. Kayle geralmente me ignora, por que está falando comigo?
-- Isso aqui pode ser útil. -- Ele estica o braço e eu pego o livro. Não é o mesmo que eu procurava, mas trata do mesmo assunto. -- Consegui fazer a maior parte do trabalho só com esse livro.
Agradeço um pouco receoso.
Ele sorri.
-- A gente pode trocar uma ideia. -- Kayle diz com certa insegurança no tom. -- Podemos terminar juntos.
Eu não sei se saio correndo, se digo não...-- Tudo bem. -- Respondo antes mesmo de pensar direito. -- Pode ser.