solitude

#6

Nunca soube ao certo o que fazer com a minha vida. Cresci sem saber o que queria ser. Embora isso possa parecer assustador, eu acho que acaba por ser reconfortante. Nunca tive expectativas, logo nunca me desiludi. A minha mãe costuma dizer que eu vivo demasiado no momento. Tanto que não planeio nada. Não vejo isso como algo mau. Eu aceito aquilo que a vida me vai dando e não me incomoda não ter ambições. A minha ambição é viver e aproveitar tudo o que me for dado. Esta minha visão da vida faz com que eu seja mais grata. Sou grata pela vida que tenho!

No entanto, a minha falta de planeamento também faz com que seja apanhada desprevenida algumas vezes. Ele foi uma surpresa. Com o tempo, habituei-me a estar tão perto da vida da realeza, sem ser apanhada no meio dela. Sempre soube que esse não era o meu lugar. E continuo a saber disso. Sei que devo manter a distância e sei que não posso permitir que me arrastem para o meio deste. 

Não consigo deixar de pensar nela. Não consigo deixar de pensar que, enquanto ele estava comigo, ela estava sozinha numa das diversas torres. Não consigo aceitar que ele queira estar comigo, quando a sua prometida se refugia nas sombras e se esconde de todos os demónios do mundo real. 

Nunca me lembrei de lhe perguntar sobre ela, mas também não sei até que ponto é que ele me responderia à pergunta. Não me cabe a mim fazer essas perguntas, nem tenho o direito de saber. Porém, não deixo de questionar. Por que razão estaria este rapaz do telhado comigo e não com ela? O que havia de tão errado com ela para ninguém lhe querer fazer companhia? Não conseguiriam ver a sua tristeza? Porque eu, certamente, conseguia senti-la. Consigo cheirá-la, consigo vê-la, mesmo à distância, ainda que esta esteja oculta na escuridão. 

Há certas noites, nas quais sou assombrada pelas minhas eternas insónias, em que eu sei que ela me está a observar como eu a observo. Consigo sentir a conexão, e ela sabe que eu estou ali. Ela sabe que eu estou lá, sempre!