Paixão.

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O bombeiro acordou cedo novamente e fez o café e desfiou carne para colocar no pote de ração de J.One, que ainda dormia tranquilamente em sua cama – ao ver o cão dormindo tão fofo de baixo das cobertas não teve coragem de acordá-lo.

Enquanto bebericava o café quente em sua xícara favorita, pensava no que poderia fazer para sair um pouco do tédio. Viu o cão descer as escadas indo direto para sua carne desfiada.

– Quer passear, J.One? – Minho deu mais um gole na bebida e ficou observando o cão, que também o olhava. – você entende tudo o que eu digo, não é? Então escolhe, a mão direita para passear e a mão esquerda para ficar em casa. – estendeu suas duas mãos na direção do cachorro.

Jisung o olhou atento pensando em como aquele humano era bobo – ou não. Caminhou então até a mão direita e a farejou, dando uma mordida na mesma depois.

– Ai, isso doeu! – o humano falou exagerado. – vou pegar sua coleira, espera um pouco. – subiu as escadas e foi procurar algo no quarto dos fundos.

“Eu não queria continuar nessa, mas eu também não sei como parar isso...”, Jisung pensou balançando a cabeça negativamente. Não gostava de mentir, mas não sabia como contar a verdade para o mesmo. Viu que Minho estava demorando e se olhou no reflexo da televisão que o mesmo possuía em sua sala. “Queria que as coisas não fossem tão complicadas assim. Mas logo eu não estarei mais aqui, e nada disso vai importar mais.”

- Woojin acabou de me ligar e disse que pegou os dois cãezinhos que eram da Nat! Acho que eram seus amigos. – Jisung virou a cabeça rapidamente olhando o homem ao seu lado. – eles estão bem, não se preocupe. – sentiu seus pelos sendo acariciados e lhe foi colocada a coleira. – vamos caminhar um pouco, J.One, quero sair um pouco dessa rotina monótona.

E dito e feito, Minho foi guiando o golden retriever até o lado de fora de sua casa, e então começaram a caminhar lentamente. Algumas pessoas achavam o bombeiro louco, pois o mesmo conversava com seu cão como se ele entendesse – e ele realmente entendia, o Lee sabia disso então não se importava –, mostrando os locais, falando por onde já passou e salvou pessoas, lanchonetes onde já havia comido e restaurantes chiques pelos quais sempre quis levar alguém. Jisung ouvia tudo atentamente, prestando atenção e gravando cada palavra.

De repente, um silêncio se estabeleceu e Han apenas continuou prestando atenção no caminho, observando atentamente cada local, já que era uma área um pouco longe de onde andava quando morava na rua.

– Sabe, J.One... – Lee quebrou o silêncio. – por mais que eu tenha você, eu ainda me sinto sozinho. – confessou cabisbaixo. – não que eu não goste de você, eu gosto muito, por favor não se sinta mal! – Minho falava com certa preocupação e inocência, fazendo Jisung rir internamente. – esse ano eu vou fazer vinte e dois anos, e eu sinto falta de ter alguém comigo, de sentir borboletas no estômago por alguma paixão... – suspirou fundo e Han pensou.

“Essa sensação de borboletas no estômago eu senti com ele quando estava transformado, ela significa que você está gostando de alguém? Não é apenas nervosismo?!”

- Eu sentia isso com o Chris, mas um dia a gente viu que a gente não combinava mais, então apenas terminamos. – falou de seu antigo relacionamento com seu melhor amigo. – hoje ele seguiu em frente e namora com o Woojin, que é um amor de pessoa, mas e eu? – se sentou no banco da praça chateado, e o cão se sentou ao lado de sua perna. – eu continuo sozinho, e me dói, porque eu queria me apaixonar de novo, sentir tudo aquilo de novo, aquele amor de doer o coração... – sentiu os olhos marejarem um pouco, e percebeu que a primeira vez que desabafou sobre o que sentia foi com seu cão. Não que fosse ruim, J.One era um bom ouvinte, e o olhar dele sobre si transmitia certa confiança e apoio.

Jisung nem imaginava qual era a sensação de se apaixonar. O que sentia por Minho era aparentemente interesse, afinal, ele era um homem um tanto carinhoso e misterioso – e também um tanto bonito. Lembrou de quando havia o visto nu e ele tinha um corpo maravilhoso, viu diferentes pessoas com diferentes portes nas ruas, mas nunca tinha encontrado um corpo tão bonito quanto o dele. Tinha certeza que se estivesse em sua forma humana ele estaria corado – afinal, as sensações que ele tinha quando estava transformado em humano ele não tinha no corpo de cão.

E, apesar de não saber como é, queria sentir o mesmo que Lee queria sentir, mas não sabia se daria tempo e nem se seria possível. Ambos ficaram imersos em seus pensamentos, até que um rosto conhecido por J.One passou do outro lado da rua. Era Bryan.

“Desgraçado! É ele!”

Jisung começou a latir muito alto e mais grave que das outras vezes, tirando Minho de seu transe e assustando o outro homem que estava na outra calçada.

- Droga! – Bryan reconheceu o cachorro e correu rápido sendo seguido por Jisung, que com sua rapidez acabou fazendo com que Minho soltasse sua coleira sem querer.

- J.One! – o bombeiro gritou e correu atrás, tentando alcançar o cão que corria amedrontamente rápido.

Bryan correu até um beco sem saída e se encostou nas paredes do mesmo, assustado com o cão a sua frente que rosnava alto, mostrando seus dentes afiados e deixando baba escorrer pelos mesmos.

- Ei! Se acalma! – Minho finalmente o alcançou e o puxou pela coleira. – peço desculpas por isso... – ele coçou a cabeça envergonhado e Bryan se irritou.

- Se esse cachorro de merda vier pra cima de mim de novo, eu mato ele e você. – falou irritado e passou do lado do dono do cão, esbarrando em seu ombro de propósito, irritando-o.

- Cuzão! – falou irritado e fechou os punhos olhando o homem que havia sido encurralado andando normalmente pela calçada, como se nada tivesse acontecido. – filho da puta, você conhecia esse nojento?! – perguntou para o cão e Jisung praguejou internamente por não poder falar ainda. – ah, com certeza, pela sua cara. Vamos pra casa.

Minho o guiou novamente e Jisung estava um pouco assustado, nunca havia visto ele daquela forma, tão irritado e com a boca tão suja. O humano andou o caminho inteiro de cara fechada e quando chegou em casa subiu para seu quarto, quase afundando os degraus de sua escada de tão puto que estava.

Pelo impulso, Han foi junto, subindo as escadas e vendo o humano lavando o rosto no banheiro de seu quarto, se acalmando aos poucos.

- Desculpa, não queria que você tivesse me visto daquele jeito. – o Lee secou o rosto e foi em direção ao seu cão, fazendo carinho em seus pelos. – fiquei um pouco estressado quando ele te ameaçou.

Querendo ou não, Minho se preocupava muito com J.One e iria tentar protegê-lo de tudo, mas ao ver que aquele homem o ameaçou na cara dura o irritou, e muito. E por mais que fosse pouco, aquilo para Jisung significava muito. Nunca na vida se sentiu tão protegido quanto se sentia agora.

E quando Lee Minho o abraçou, percebeu que havia encontrado nele seu porto seguro.


O Golden Retriever || Minsung (repostada)Onde histórias criam vida. Descubra agora