Capítulo 4

310 24 11
                                    


- Vem rápido, mamãe, por aqui! – gritou minha menina.

- Estou logo atrás de você!

Já tinha pilotado moto, já tinha jogado Super Mario no vídeo game, acertado várias cestas no basquete, trocado alguns tickets por balas e pirulitos, e agora já era a nona vez que estava fazendo o mesmo percurso. Correndo por um labirinto de rolos gigantes, atravessando buracos de rede, escalando, passando por tubulações pouco iluminadas até finalmente chegar ao escorregador com destino a enorme piscina de bolinhas.

Dessa vez ela escolheu um diferente, um feito com algo parecido com cabos de vassoura. Sentei e antes que pudesse esperar ela ao meu lado para mais uma vez apostarmos corrida, se enfiou entre minhas pernas e enrolou meus braços a sua volta para que pudesse se sentir protegida.

- Preparada? – mesmo com receio ela assentiu e fechou os olhos – Ok, here we go!

A apertei um pouco contra mim e com um pequeno impulso saímos deslizando entre as madeiras roliças coloridas sentindo tremores em nossos corpos o que a fazia perder o medo e gargalhar como se alguém estivesse fazendo cocegas nela.

- Esse foi muito legal, mamãe! Vamos ir de novo, só que dessa vez escorrego sozinha.

- Antes podemos conversar um pouco?

- Estou encrencada?

- Não, meu amor! Está tudo bem, só quero falar com você e saber como vai sua vida cheia de compromissos.

Estávamos no shopping central da cidade, mas como ainda era meio da semana o fluxo de pessoas passeando era bem menor, quase todos se encontravam na praça de alimentação para cumprir seus horários de almoço antes de voltar para o trabalho e o Magic Games contava com mais seis crianças espalhadas pelo parque, além dos poucos funcionários que cuidavam do espaço e operavam os brinquedos. A assistente social e minha mãe também nos observavam de longe já que naquela área era permitido apenas um acompanhante por criança.

Aquele não era o momento perfeito, só tínhamos duas horas para aproveitar a companhia uma da outra e tudo que eu queria era dar toda atenção a ela, demonstrar o quão sagrado era esse tempo para mim e que eu me importava com cada minuto que passava ao lado dela, mas queria continuar a construir uma relação de confiança como todos esses anos e sabia que se não contasse a ela sobre a viagem, estaria dando a chance da velha Carmen tentar manipula-la colocando mentiras na cabeça já confusa dela.

Que por mais que me esforçasse para mantê-la fora de todo esse inferno judicial, a mãe de meu falecido marido não perdia qualquer oportunidade de tentar me abalar usando uma criança inocente de seis anos.

A levei para um canto onde podíamos nos sentar e ficarmos mais confortáveis.

- Como tem passado na escola?

- Chegou uma menina nova na minha classe. O nome dela é Marisa, ela é bem legal e vamos fazer dupla para o trabalho de inglês que vamos apresentar na feira estudantil.

- É mesmo? E o que vão fazer?

- A professora disse que a nossa pro-pro...

- Pronúncia? – a ajudei.

- Isso, que nossa pronúncia é muito boa, então vamos cantar uma música.

Sempre achei muito importante saber falar outra língua, logo colocava programas infantis em inglês para assistir, introduzia algumas palavras na nossa rotina para que ela fosse se familiarizando e tomando gosto em aprender a língua inglesa.

- E que música vão cantar?

- Não posso contar, mamãe, vai ser surpresa! Você vai poder ir, né?!

Meu lugar favoritoOnde histórias criam vida. Descubra agora