Minha cabeça não parava de latejar, o estresse de ter que lidar com papéis, pessoas sem o mínimo de noção e inúmeras ligações provavelmente ajudaram a tonificar a minha enxaqueca, mas de tudo que tinha feito nas últimas horas, com toda certeza a mais difícil foi contar para minha pequena que o pai estava morto. Isabella nunca havia passado por esse processo, de ser próxima de uma pessoa, ter algum tipo de ligação emocional com ela e de repente, adeus. Nem mesmo com um animal de estimação.
Lembro-me de um dia em que a busquei na creche e ao entrar no carro já animada para me contar com detalhes como havia sido seu dia, ela sacou um papel de sua pasta e disse: "a professora mandou desenhar a coisa mais importante que a gente tem na vida, aí o Juan desenhou as cartas do Naruto que ele coleciona, mas eu preferi desenhar a minha família, vê se ficou bonito". Entre formas geométricas, linhas e alguns rabiscos coloridos de giz de cera estávamos eu, ela e Hector, e foi exatamente naquele momento em que me dei conta do que eu realmente era, a mãe dela. No entanto, não consigo me recordar de quando esse sentimento nasceu dentro de mim, porque antes desse acontecimento ela já era tudo para mim, a minha maior alegria, o meu ponto de paz. Tentava protegê-la da maldade do mundo, de algumas frustrações e das brigas que aconteciam dentro de casa, pois tudo que eu desejava era que ela tivesse a infância mais feliz possível, logicamente não me preocupei em ter uma conversa sobre a vida e a morte.
E agora não tinha outra opção, não tinha outra pessoa que deveria contar isso a ela e ainda que eu não tivesse condições, tive que fazê-lo. Pensei, pensei e pensei muito, mais do que achei que fosse capaz naquele instante. Pensei nas palavras que seriam mais corretas, tentei escrever o deveria dizer, mas nada adiantou.
[...]
- O que significa morto, mamãe?
- Significa que....Me dá a sua mão – ela me obedeceu e a coloquei do lado esquerdo do meu peito – Consegue sentir as batidas? – com a cabeça ela só acenou positivamente – Agora coloca o seu ouvido no mesmo lugar, está ouvindo o tum-tum?
- Sim.
- O coração do seu pai já não faz mais isso e quando o coração para todo o resto do corpo deixa de funcionar também.
- Foi o que aconteceu com a mamãe do quadro que fica no meu quarto?
- Foi.
- E vai acontecer com você também?
- Um dia, mas só daqui muitos anos, quando eu for uma velhinha chata e cheia de cabelos brancos.
- E o que acontece depois que uma pessoa morre?
- É realizado uma cerimônia de despedida para que os familiares e os amigos da pessoa que morreu possam dizer adeus, pois não irão vê-la de novo, a não ser por fotos e lembranças.
- E a alma?
- Alma?
- O que tem dentro das pessoas, mamãe.
- Não sei ao certo, meu amor, mas dizem que viram estrelinhas e sempre cuidam das pessoas que continuam vivas.
[...]
O funeral contra a minha vontade foi aberto ao público e à imprensa e a cada minuto que virava mais e mais pessoas chegavam, passavam por mim, tentavam com um olhar genuíno dizer que sentiam muito pela minha perda e tudo que eu queria é que todos aqueles cânticos, orações e homenagens chegassem ao fim.
- ....e ele me ajudou a superar esses obstáculos no começo da minha carreira, me deu a oportunidade que todos os outros me negaram, poque era isso que ele era. Um bom amigo, um bom conselheiro e tenho certeza, que um bom pai e marido. Hector, obrigado por ter sido esse grande parceiro. Descanse em paz!
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Meu lugar favorito
Hayran KurguDurante seus anos de Élite, a talentosa atriz e cantora Danna Paola colheu todo sucesso que trabalhou duro para conquistar, porém depois de uma decisão viu seus sonhos sendo trancados em um armário. Agora em busca de um tempo para refletir sobre tud...