O início do fim

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Olá, aqui é o Ander e antes de começar a contar como Omar e eu estamos e como o nosso relacionamento está atualmente, vamos voltar um pouco.  Até os piores dias da minha vida, que começaram a ficar sombrios com a notícia de que eu estava com câncer.

Era sexta feira e eu, Omar e minha mãe estavamos nos preparando para mais um dia de tratamento, que felizmente já estava no fim. Minha mãe estava fazendo minha mala, pois eu ia ficar no hospital o final de semana inteira.

Omar estava tentando montar uma cadeira de rodas que minha mãe tinha comprado por recomendação dos médicos, que me pediram para não fazer esforços quando estivesse perto de um dia de tratamento intenso no hospital.

Eu não poderia estar mais apaixonado por Omar, afinal ele quem me ajudou fisicamente e psicologicamente, pois se não fosse ele minha vida séria péssima agora. Eu provavelmente seria depressivo e viveria me perguntando como minha vida tinha se tornado isso e como a minha mente  só não era um completo vazio porque existia todo o arrependimento de não ter vivido mais enquanto podia.
Pesado não é? Apesar de ter exagerado um pouco, eu não estou mentindo.

Chegamos no hospital e, como sempre, nós fomos bem recebido pelo porteiro, recepcionista e pelos enfermeiros (as), que já nos conheciam bem. Depois de cumprimentar a todos, nós chegamos até a sala do Dr Peterson, que eu apelidei carinhosamente de Bobe.

—Olá Dr Peterson—disse minha mãe, com formalidade, entrando no escritório dele.

—Olá pessoal, eu estava esperando por vocês três — disse Bobe entusiasmado — Sentem-se

—E ai Bobe—eu disse já cansado.

—Vamos começar o tratamento— ele avisa e depois alerta —Essa será a sessão mais longa que já fizemos, então vão precisar ficar o final de semana inteiro.

—Sabemos disso e viemos preparados dessa vez—disse minha mãe se referindo a uma vez em que ficamos dois dias sem roupas limpas, porque não nos preparamos para ficar na clínica.

Depois do tratamento, fomos comer na área de alimentação do hospital. Até que um enfermeiro veio nos avisar que estava na hora da fase 2 do tratamento.

—Obrigado já estamos indo para lá—Disse Omar, estranhamente encarando o homem e sorrindo.

—O que foi Omar? — perguntei ao perceber que ele estava dando em cima do moço—Ta apaixonado é porra? — brinquei.

—Não enche caralho — ele retrucou rudemente.

—Calma princesinha — eu disse sarcasticamente — eu só perguntei porque você estava olhando pra ele.

—Não é um problema seu — disse ele que em seguida desviou o olhar — Não é nada.

—Omar você está bem? — Perguntei assustado ao perceber que ele estaba chateado — aconteceu alguma coisa?

—Nada.... não aconteceu nada— ele resmungou saindo da mesa apressado com os olhos vermelhos.

Eu me levantei da cadeira e avisei a minha mãe que ia procurá-lo. Depois de me apressar um pouco, eu encontrei ele no corredor, com a cabeça encostada na parede e as mãos na nuca, aparentemente abalado.

—Omar volta aqui. Vamos conversar....por favor — falei indo em sua direção. Quando o alcancei perguntei eufórico — Omar? O que foi aquilo?

—É que eu não sou de ferro Ander—ele disse já desmoronando e soluçando feito um bebê—Não aguento isso tudo.

—O que você quer dizer com "isso tudo"?—perguntei sem entender— me diz? o que você ta sentindo caralho? ....faz dias que você não olha na minha cara.

—Você quer que eu fale a verdade? Quer que eu te conte o que eu penso?—ele perguntou com o ódio estampado na cara—Não consegui te olhar porque não tinha coragem de te dizer o que eu penso, para não te magoar, mas aparentemente você não se importa! Então quem sou eu pra me importar?

—Aé? Então diz o que você pensa—perguntei sem medo do que ele diria a seguir — se está te incomodando tanto.

Aquilo foi a pior coisa que eu poderia falar naquele momento e me arrependi muito depois, porque eu libertei a fera que estava presa nele a meses.

—Eu não aguento essa merda toda porra. Faz semanas que não somos só eu e você. Qual foi a última vez que ficamos em? E qual foi a última vez que transamos? Eu estou esgotado! Eu fico me perguntando como a minha vida se tornou apenas... isso. Eu só ajudo você, faço companhia a você, eu não tenho tempo pra mim.

—Que porra você está falando Omar? —perguntei indignado com aquilo.

—Eu não vou mais a festas, eu saí do meu emprego e já faz TRÊS MESES que eu não vejo os meus pais — ele se exalta e chama a atenção de todos no ambiente.

—Não sabia que você pensava assim—disse sem nem olhar nos olhos dele. Eu estava apenas enojado e revoltado com aquilo tudo — Então você não está feliz? É isso mesmo?

Ele apenas me olhou, ainda com a energia do desabafo que ele fez, mas, assim que se acalmou, percebeu o que ele tinha feito e a forma chamativa que ele se portou.

—Olha... eu não pedi pra você ficar aqui em momento nenhum— falei cansado daquilo tudo —Eu nunca te  pedi isso e nunca vou pedir pra você ficar! Pelo contrário, eu quero que você vá embora, agora.

—Ander eu não queria dizer isso—ele disse levemente arrependido—eu juro que nã....

—Não precisa dizer mais nada —eu disse o interrompendo—Só vai embora daqui, AGORA — falei olhando para o chão e apontando para uma das portas de saída.

—Ander, eu eu...

—Você acha que é fácil pra mim? Acha que todo dia eu acordo feliz sabendo que é mais um dia da porra desse tratamento? —eu disse explodindo de raiva—Não seu puto do caralho!!! Eu acordo todo dia com um  medo do caralho de morrer. Eu vou para aquela sala tirar sangue toda semana, com medo de ter ficado pior.

—... — ele me olhou assustado.

—Eu já passei mal duas vezes essa semana, de madrugada, e eu pedi para minha mãe não te acordar, preocupado com sua mente e vim pro hospital sem forças, quase morrendo.

—Eu não sabia disso.

—Omar, eu vou te pedir pela última vez—eu disse chorando e magoado com toda a situação—saia, ou eu chamo alguém pra te tirar.

Eu dei as costas para ele e saí em direção a sala do Dr Peterson.

—Cadê o Omar?—Minha mãe perguntou preocupada.

—Longe daqui espero.

—O que aconteceu Ander?

—Só vamos começar—Eu disse com lágrimas escorrendo pelo rosto e ela rapidamente me abraçou.

O tratamento acabou e nós fomos liberados na segunda de manhã, depois de eu descansar. Quando chegamos em casa, Omar não estava lá. Fui em direção ao nosso quarto e abri o guarda roupas, que estava vazio.

Ander & Omar? Tente na próxima (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora