[A Carta]

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— Eu não consigo entender.

Lauren se apoiou no balcão da cozinha enquanto olhava para a cena de sua esposa alimentando a criança faminta.
Estava confusa, perplexa. A sua mente não conseguia compreender como aquela menina tão pequena e foi parar em sua porta assim, de repente, sem mais nem menos como um objeto descartável.

Até onde ia a insensibilidade humana?

— Camila? — chamou mulher que ergueu os olhos no mesmo instante. — Eu preciso entender.

Camila respirou fundo enquanto segurava firme a mamadeira, impedindo que não entrasse ar na mesma como Lauren havia auxiliado. Estava cansada, indisposta e sem nenhuma vontade de voltar a explicar a mesma coisa que tinha falado anteriormente, mas sabia que a mulher com quem tinha se casado não se dava por vencida assim tão fácil.

— Tudo o que aconteceu, aconteceu da forma como eu te disse. — a pequena criança havia acabado com o leite, permitindo que Camila deixasse a mamadeira no balcão. — Não há mais o que dizer.

— Há! Sempre há o que dizer, ainda mais numa situação assim. — soltou o ar dos pulmões.

Os pensamentos de Lauren foram interrompidos brevemente pela imagem de Camila segurando a pequena de forma fesajeitada com a barriga para baixo. Ela não fazia ideia do que a latina pretendia com aquela posição, mas sabia que daria errado em poucos minutos.

— Ela vai vomitar! Céus, Camila! Ela vai vomitar tudo em cima de você. — alertou impaciente. — A coloque pra arrotar.

— C-como? — perguntou fazendo Lauren revirar os olhos.

— Não é possível que você não entenda o mínimo do que fazer para não matar um bebê. — Lauren resmungava enquanto encaixava melhor a pequena no colo da mulher que tinha um bico ofendido nos lábios. — Você nunca ajudou sua mãe tomar conta de Sofia quando ela era neném?

— Tínhamos uma babá para isso.

— Claro... — se lembrou da realidade. — É claro que tinham.

Murmurou impaciente. Era óbvio. Se a majestosa Sinu Cabello havia trocado duas fraldas a vida inteira isso era muito.

— Apenas dê tapinhas delicados nas costas dela, bem de leve. Você vai ouvir quando ela arrotar.

Camila fez o que lhe foi pedido, usando toda sua delicadeza para não pesar a mão nas costas da criança. Era bom sentir aquele pequeno corpinho contra o seu, mesmo ela não sabendo definir como.

Observou Lauren caminhando pela cozinha. Pensativa e longe, como sempre ficava antes de uma audiência. Ainda mordiscava seu polegar. Um tic nervoso que não conseguiu se livrar desde a infância.

— Você disse que viu uma pessoa. — disse com a ponta do dedo entre os lábios. — No meio daquela tempestade você viu uma pessoa.

— Foi isso que eu disse.

— Eu não consegui vê-la quando fui lá fora. Não há como alguém ter sumido tão rápido na tempestade que caía.

— Eu não tenho explicação para isso, Michelle. Não sou o olho-que-tudo-vê. O que eu vi foi apenas o que vi.

— Quando você desceu! — exclamou de repente estalando os dedos.

— O que tem?

— Não ouviu nada de estranho? Tipo, nada?

Camila vagou seu olhar tentanto se lembrar dos detalhes da noite passada.

— No exato momento não. Eu fiz um chá, liguei a TV... Tudo o que ouvi foi o ruído baixo que descobri ser o choro dela logo depois.

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