Capítulo 1

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O judeu ortodoxo é aquele que cumpre fielmente os princípios do judaísmo, rejeitando mudanças e renovações nos costumes e nos rituais religiosos. No judaísmo ortodoxo, os preceitos da Lei Judaica são cumpridos quase sempre à risca como forma de preservar a tradição.

Elizabeth

Faltava uma semana para meu aniversário, a maioria das garotas nessa época ficavam felizes por isso, mas para mim não era bom, não o meu aniversário, mas o que viria após ele.
Havia me trocado a pouco tempo, estava terminando de trançar os cabelos, não era uma tarefa rápida, meus fios eram longos e haviam muitos, nunca cortei meu cabelo em muita quantidade, apenas as pontas mas cuidava muito dele, mesmo sabendo que um dia terei que me desfazer, e sei que não vai ser fácil. Estava me arrumando para o jantar que teríamos hoje na casa dos Kapfer, no fundo eu sabia o propósito desse jantar mas tentava me distrair pensando em outros motivos.

Beijei meus dedos e os toquei na mezuzá antes de entrar na residência da família, me mantive atrás de minha madrasta e meu pai, observando os irmãos da família um pouco apreensivos em volta de Baruch, eu também estava mas não de forma animada como eles, minha madrasta vem me falado sobre Baruch constantemente, do quanto ele é trabalhador, responsável e generoso, era só ligar as coisas, estou quase fazendo 18 anos, num jantar na casa dos Kapfer com o olhar de Baruch e todos seus familiares direcionado a mim.

"Está animada querida?" - A voz da Senhora Kapfer soou sutilmente, estava distraída pensando em tudo que estava acontecendo, olhei para ela depois de um tempo notando a confusão em seu rosto e apenas sorri geltimente, assentindo para sua pergunta.

"É uma época importante, me lembro da minha como se fosse ontem, a diferença é que meus pais não esperaram eu completar 18 anos para casar." - Ela parecia feliz em contar, ou tentando ficar, acontece que não era o que eu queria, não ainda, não me sentia pronta para ser uma máquina de filhos, mesmo que isso tenha sido o que mais tentaram me ensinar.

Tentei parecer o mais tranquila possível o jantar todo, quando acabou a maioria das pessoas foram para sala, ficando apenas minha madrasta, Baruch, a senhora Kapfer e sua filha mais velha, Freida, ela em especial não é muito legal, é muito controladora talvez por ser a mais velha de 8 irmãos.

"Nós vamos deixar vocês sozinhos um pouco para se conhecerem." - Minha madrasta proferiu sorrindo e saiu junto com as outras duas mulheres, me deixando sozinha com Baruch, eu não fazia ideia do que dizer ou fazer.

"Você é muito bonita.." - A voz de Baruch soou baixa me deixando um pouco envergonhada.

"Obrigada. Gentil da sua parte."

"Me fala das coisas que você gosta, quero te conhecer." - Ele falou sorrindo e pousou sua mão em cima da minha tímidamente.

"Gosto de tudo que é diferente, das coisas desconhecidas por mim."

"Você é diferente. Tenho uma coisa pra te dar." - Vi ele colocar a mão no bolso e tirar dele uma caixa preta, sorri ao abri-la me deparando com um colar com um pequeno ponto de luz no centro.

"Obrigada, é lindo."

"Que bom que gostou, minha irmã me ajudou a escolher, confesso que estou ansioso para me casar com você." -Ouvir ele dizer aquilo me fez congelar, mesmo já sabendo que iríamos nos casar, era estranho ter que pensar nisso.

"Pronto. Já conversaram o suficiente, vamos Eliza?" - Minha madrasta apareceu e respirei fundo aliviada, me despedindo de Baruch e sua família antes de sair da casa.

...

Narrador.

Havia passado três semanas desde de o primeiro encontro oficial de Eliza e Baruch, a garota já havia completado seus 18 anos e logo sua família marcaria a data para o casamento, ela estava começando a se familiarizar com essa ideia, talvez por ser sua única opção, assim como todas as mulheres judias ela aprendeu que nascerá para isso, casar e procriar, aprendeu que é isso que Deus queria para ela, e na sua cabeça, quanto mais pensasse nisso de uma forma boa, mais ela se animaria para se casar com Baruch.

A mãe de Eliza havia desembarcado em solo Canadense naquela manhã, exclusivamente para ver sua filha, depois de seis anos sem ver a menina, que tentava o máximo possível não pensar na sua progenitora, Malka saiu de Londres para ir para Waterloo visitar sua filha antes dela se casar, ou tentar convencer que ela não o faça.

A porta do quarto de Eliza foi aberta por sua madrasta que a chamou para ir a sala, quando a menina viu a figura de sua mãe, cabisbaixa a observando de longe, sentiu seu sangue ferver, ver aquela mulher a deixava nervosa e triste, as lembranças a atingiam em cheio, assim como as perguntas que nunca lhe foram respondidas, a primeira seria o por que ela abandonou a propria filha?

"Filha...Quando fiquei sabendo, me programei para vir o mais rápido possível para cá" - Disse se aproximando da garota que fazia o possível para não ficar perto da mãe, seus olhos já acumulavam lágrimas que a menina lutava em segurar.

"Não precisava ter vindo, é fácil aparecer depois de seis anos com uma desculpa dessa."

"Não é uma desculpa e não vim apenas para isso, tenho uma coisa para te entregar." - Sua mão foi para dentro da bolsa, tirando dela um envelope e o entregando para Elizabeth.

"São seus documentos para ter sua cidadania inglesa, assim quando quiser poderá ir para Inglaterra, eu adoraria que fosse para Londres me visitar, ou morar comigo por lá...Eu sei que você não acredita mas eu te amo muito."  - As lágrimas já escorriam pelo rosto da mais velha, ao contrário de sua filha que fazia o possível para segurar com todas as forças, a menina pegou o documento sem emoção.

"Eu vou me casar e quero isso, não tenho interesse em ir te visitar e muito menos morar com você, estranho vir depois de tantos anos, só vem me visitar quando não tem o que fazer."

"Espero um dia conseguir te explicar tudo, de qualquer forma, vou sempre estar aqui pra você, meu número e endereço estão junto com os documentos. Eu te amo muito filha." - Ela novamente se aproximou, beijando a testa de Eliza antes de sair da casa, aos prantos pela filha e pelas memórias que aquela residência trazia.

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Mezuzá: um pequeno pergaminho afixado no batente direito de quase todas as portas do lar ou do estabelecimento comercial judaico.
Os judeus encaram a mezuzá como uma proteção divina dos lares e estabelecimentos. Os judeus que têm mezuzá em casa costumam pôr a mão sobre ela e beijá-la sempre que entram ou saem pela porta.

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