CAPÍTULO 1 - Lamento muito, Joey

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Os objetos ao redor giravam. A visão do homem estava turva e ele via à sua frente uma camioneta estacionada, do lado de fora. Embora não estivesse em seu melhor estado de consciência, pôde perceber que se encontrava dentro de um galpão.

Era arrastado cada vez mais para dentro dos limites do lugar escuro, bolorento e fétido. Suas mãos se encontravam atadas, e ele podia ouvir o tilintar das correntes que o prendiam enquanto se arrastavam contra o chão revestido com cimento.

A superfície áspera do chão lhe feria a pele, mas a figura que o arrastava pouco se importava.

De súbito, Joey foi erguido por dois braços fortes – ou assim ele pensou, pois não podia dizer com certeza, já que estava sob o efeito de psicotrópicos – e foi repousado em uma cadeira minúscula e desconfortável de madeira. Um pano estava preso entre seus lábios e amarrado fortemente em torno de sua nuca, o que o impedia de emitir um grito por socorro. Suas mãos foram libertadas da corrente e novamente atadas às costas, por detrás do encosto da cadeira.

O seu inimigo havia adentrado um pequeno armazém toscamente construído a um canto do galpão, onde uma diversidade de ferramentas estava guardada. Ouviu o barulho de uma caixa de madeira sendo puxada de uma prateleira, seguido de tinidos de agulhas de furadeira. Uma extensão para tomadas foi retirada de uma gaveta e conectada num plug a um canto do lado externo do pequeno recinto que o assassino havia entrado e do qual agora havia saído.

A vítima mal podia distinguir a forma daquela figura misteriosa que usava um capuz. Sua tontura aumentava com o efeito da droga que o fizeram ingerir.

A ferramenta foi ligada à tomada e acionada pelo assassino – seu som ecoava por todo o galpão, que estava deserto.

A figura deu um passo à frente, com a furadeira à mão.

Joey contorceu a cabeça e fez um esforço tremendo para livrar-se do pano que lhe obstruía a fala.

O assassino deu mais um passo, com a máquina mortífera zunindo ameaçadoramente em suas mãos.

Joey mordia veemente o pano, a fim de roê-lo, mas isto de nada parecia ser útil.

O assassino se aproximava mais e mais, de forma vagarosa, certificando-se de que sua vítima sentisse o máximo possível de pânico antes de lhe tirar a vida.

O grito de Joey era sufocado pelo tecido, mas, com a força sobre-humana que adquiriu com a adrenalina, conseguiu desvencilhar-se do pano que lhe tapava a boca.

Agora, berrava a plenos pulmões:

- Pare! Tire-me daqui, seu filho de uma puta!

Mas o assassino vinha na direção de Joey, trazendo-lhe uma morte lenta e agonizante.

Joey berrava em súplica pela própria vida, mas a agulha da furadeira girava rápida e ávida por alcançar sua pele.

- Por favor! Por que está fazendo isso?! Tire-me daqui!

A figura estava cada vez mais perto de Joey. Em instantes, o homem era capaz de sentir, próximo aos ouvidos, o ruído alto e irritante do metal que rodopiava sem parar, preso ao mandril da furadeira.

- Lamento muito, Joey – disse o assassino.

Antes que pudesse se virar para reconhecê-lo, a agulha começou a adentrar o ouvido direito de Joey, atravessando-lhe o crânio e fazendo com que seu sangue esguichasse em todas as direções. Sua camisa branca encharcava-se, tingindo-se de vermelho.

O assassino soltou o botão de acionamento do equipamento, fazendo-o cessar, e deixou-o enterrado no crânio de sua vítima.

Caminhou em direção à saída do local.

Fechou o portão do galpão, que ao se arrastar contra o chão rangeu nas dobradiças e fez ecoar um barulho por todo o perímetro do lugar.

Partiu, sem hesitar, em sua camioneta. Ia agora encontrar-se com seus companheiros.

Um Crime em ChicagoOnde histórias criam vida. Descubra agora