O LOBISOMEM DE SARANDI

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Na década de 60, no século passado, quando o meio de transporte disponível no norte do Paraná era a Estrada de Ferro, fomos, meu irmão e eu, convidados por uma amiga da família, Cleide, se não me engano, que era filha do chefe da Estação Ferroviária de Uraí, para ir a um batizado na cidade de Sarandi, vizinha de Maringá. Naquela época, uma estação de parada e reabastecimento das locomotivas.

Era não mais do que um vilarejo ainda, concentrado em torno da Estação Ferroviária. Para nós foi uma aventura, pois nos afastávamos do ninho pela primeira vez. Tudo transcorreu normalmente na viagem e durante o restante do dia. À noite, no entanto, as coisas se tornaram um tanto estranhas.

À hora de dormir, fomos alertados que possivelmente um lobisomem viria rondar a casa, pois havia um pagão nela e isso o atraía. Ficamos amedrontados, mas acabamos adormecendo. Na madrugada, porém, fomos acordados por barulhos do lado de fora da casa e alguma coisa lascando a madeira da casa pelo lado de fora.

Algumas pessoas se levantaram, ouvimos sussurros do que pareciam ser orações. Ficamos imóveis enquanto durou esse estranho barulho, até que ele cessou e pudemos dormir de novo.

Na manhã seguinte, ninguém comentou sobre o que havia acontecido durante a madrugada. Meu irmão e eu fomos verificar. Na parede, do lado de fora, do quarto onde dormia o bebê que seria batizado naquele dia, havia marcas que interpretamos como riscos traçados por garras.

Após o batizado e durante o almoço, depois que o pessoal havia bebido boas doses de vinho, perguntamos sobre o tal lobisomem. Alguém nos contou a história.

Houve, na cidade, narrativas de que um lobisomem rondava a região, mas ninguém tinha mais detalhes. Criações de pequeno porte eram encontradas estraçalhadas nos pastos, chiqueiros, galinheiros e criadouros. Uma mulher, já passado dos seus quarenta anos, muito conhecida na cidade, havia se casado recentemente. Contam que, certa noite, o marido acordou com barulho no quintal e não viu a mulher a seu lado na cama. Assustado, pegou uma faca sorocabana que tinha e saiu pela janela para contornar a casa e verificar a origem do barulho. Segundo ele contou depois, um bicho enorme, como um cachorro grande, avançou sobre ele, riscando sua pele com as garras e mordendo seus ombros. Com sorocabana, conseguiu apunhalar a fera no coração diversas vezes. Extenuado, encostou-se a uma laranjeira que havia no quintal e ficou olhando o bicho caído, tentando entender de que se tratava. Enquanto isso, uma lua cheia enorme e brilhante começou a sair por entre as nuvens. O corpo caído da fera foi se metamorfoseando e do animal horrendo foi surgindo o corpo da esposa dele. Dizem que ficou louco na primeira lua cheia seguinte e fugiu para as matas ao redor, onde, nas noites de lua cheia, transformava-se em lobisomem e saía para caçar bebês pagãos ou pequenos animais para se alimentar.

Sobre esse fato, mais tarde, fiz um poema que foi musicado por um amigo compositor. Se o leitor tiver curiosidade de ouvi-la, vai encontrá-la no Youtube, digitando O Lobisomem L P Bacan. 

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