A ORIGEM DA SUPERSTIÇÃO DO LOBISOMEM - III

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Podemos ver como, a princípio, o homem disfarçado de animal ou vestido como um animal trabalhava silenciosamente, como o batedor Pawnee; como, porém, assim que o elemento mágico entrou, ele tentou manter a ilusão. Nesse estágio, quando a medida defensiva original era trocada pela superstição, os homens perambulavam durante a noite uivando e mantendo suas vilas aterrorizadas. Um autor narra como um soldado no nordeste da África atirou em uma hiena, seguiu os traços de sangue e chegou à cabana de palha de um homem que era muito famoso como mágico. Nenhuma hiena foi vista, apenas o próprio homem com uma ferida nova. Logo ele morreu, porém o soldado não sobreviveu a ele por muito tempo. Sem dúvida, um membro da classe dos mágicos foi responsável pela morte do soldado, assim como hoje matamos o homem que viola nossas leis, como uma ameaça a nossa sociedade, ou como antigamente os reis matavam aqueles que se opunham a eles; ou como seitas religiosas matam aqueles que discordam de sua fé. Esses mágicos, supostamente homens que poderiam assumir a forma animal, na verdade costumam formar uma classe, são muito temidos por outros nativos, geralmente moram com seus discípulos em cavernas e à noite saem para saquear e matar. É do interesse deles camuflar seus atos, pois, se suspeitos de serem malévolos, seriam condenados à morte ou banidos, como criminosos hoje em dia. Seus frenesis eram, como já foi dito acima, em alguns casos, ilusões genuínas; em outros casos, eles obtinham, como se pode imaginar prontamente, excelentes oportunidades de ganho ou vingança pessoal.

Somente instilando em seus companheiros uma firme crença nessa superstição e mantendo a farsa, os autores dos ultrajes poderiam escapar do castigo por suas depredações e podiam esperar saquear e roubar com impunidade. Por isso, rondavam, geralmente sob o manto de noite ou no escuro da floresta, uivavam e agiam como os animais que representavam, escondiam a pele ou manta do animal, se usassem uma, durante o dia onde achavam que ninguém poderia encontrá-la. Uma história relata a deglutição de uma cabra inteira com o homem berrando assustadoramente como um tigre enquanto fazia isso. Alguns dos homens transformados alegaram que só podiam recuperar a forma humana por meio de um determinado medicamento ou unguento. Os impostores eram a classe criminosa da sociedade que ainda hoje está presente, não mais na forma de lobisomem, mas afinal lobos em trajes humanos, cada um mantendo seu comércio pelo engano e inúmeros artifícios, assim como o lobisomem de antigamente. Não muito diferentes dessas vergonhas são as do fanático, que na igreja, quando grita, ou seja, quando é estimulado pelo fervor religioso, inflige golpes no inimigo que por acaso está na igreja, é claro com impunidade, pois supõe-se estar sob algum controle externo e, quando o feitiço passa, como alguns dos ilusionistas mencionados, afirma não saber o que ele (ou geralmente ela) fez. Similar também são as cerimônias de vodu, dos comedores de fogo ou qualquer outra farsa.

O disfarce de lobo, ou a transformação em lobisomem, foi mais frequentemente assumido, por exemplo, em terras germânicas. O termo lobo tornou-se sinônimo de ladrão e, mais tarde (quando o ladrão se tornou um fora da lei, com fora da lei, sendo o ladrão e o fora da lei igualmente chamados lobo e não outro animal (isto é, apenas o homem lobo que sobrevive até certo ponto) em primeiro lugar, porque o lobo era abundante; e segundo, porque à medida que a civilização avançava, chegou um momento em que o lobo era praticamente o único dos maiores animais não domesticados que sobreviveram. Podemos notar isso nos próprios Estados Unidos, por exemplo, no leste do Kansas, onde coiotes noturnos e até lobos às vezes são ouvidos uivando nas pradarias perto de bosques, ou nas pastagens adjacentes, onde eles matam animais pequenos com frequência e desenterram animais enterrados. Na Prússia, também é o lobo que sobrevive hoje. Os índios americanos e outros povos, no entanto, não restringem as transformações ao lobo, porque outros animais selvagens são, ou até recentemente eram, abundantes entre eles. À medida que a civilização avança, um por um os mitos dos animais desaparecem com os animais que os originaram (como o que estava ligado ao mastodonte); ou então histórias de animais domésticos como o porco, touro branco, cachorro os substituíram. Quando o tempo foi passando e os meios de lidar com êxito com a criação bruta foram aperfeiçoados, os animais foram desprezados por muitos de seus terrores e, finalmente, surgiram histórias como as fábulas de Esopo. Isso, porém, foi psicologicamente um longo passo adiante na crença dos povos em lobisomens de um período anterior.

Até esse ponto, as ilustrações mostraram que a superstição do lobisomem passou por vários estágios de desenvolvimento. Os motivos para assumir a vestimenta de lobo (ou peles ou mantos de animais), a princípio, eram puramente pacíficos, para proteção contra o frio e para garantir comida, agindo como chamarizes; depois foi usado para vantagem ou ganho pessoal por forrageiros (ou ladrões) e espiões; depois, para fins de vingança; depois de um desejo de poder sobre os outros e, finalmente, os homens (o profissional e o supersticioso) começaram a inventar histórias fabulosas transmitidas como tradição ou mito, de acordo com o nível psíquico do narrador e do ouvinte.

O ponto de partida de toda a superstição do lobisomem maligno é o disfarce de algum animal comum por membros de raças selvagens quando no exterior como forrageiros ou batedores, a fim de escapar da detecção pelo inimigo. Como lobos, eles vagavam pela terra em busca de comida. Como afirmado acima, fabulosos relatórios posteriores os representariam possuindo disfarçados os atributos do animal que representavam e, finalmente, até mesmo assumindo a forma animal, total ou parcialmente, por períodos mais longos ou mais curtos. Algumas das histórias de transformação dos índios norte-americanos representam os homens como tendo apenas a cabeça, as mãos e os pés de um lobo. A transformação em um lobisomem em terras germânicas é causada meramente por uma camisa ou cinto feito de pele de lobo. O cinto de pele de lobo do lobisomem germânico é a sobrevivência da pele ou manto que originalmente disfarçava todo o corpo. Seria apenas um passo adiante representar uma pessoa como se tornando invisível, colocando qualquer outra peça de vestuário, como o manto de invisibilidade. As histórias especialmente na Europa eram de lobisomens em vez de ursos ou outros animais, porque o lobo era o mais comum dos animais selvagens maiores. Foram as histórias do animal mais comum, o lobo, que se cristalizaram nos lobisomens domésticos ou nos contos de transformação.

(*) Embora este artigo seja conhecido entre os estudiosos do assunto, 
não encontrei nenhuma referência biográfica da autora desse brilhante
 e completo ensaio. A versão original do seu texto pode ser encontrada
na Biblioteca Gutemberg , em inglês.

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