-Parte III--Ybion-
Stonevale era cinzas, depois de ser consumida pelas chamas. Cadáveres jogados pelas ruas, sem nada de valor, com corvos os bicando e comendo de suas carnes pobres, isso em toda a vila. Saqueadores malditos!, pensou Ybion cuspindo no chão, Não tiveram nem a chance de revidar, foi um ataque silencioso, provavelmente esperaram os guardas dormirem. Incompetentes filhos da mãe, concluiu ele.
Eles caminharam pelas ruas coberta de neve suja e ensanguentada, procurando sobreviventes ou saqueadores. Nada encontraram, nem no que outrora foi o castelo do conde Siwden Stonethrone, que agora era apenas algumas paredes de pedra enegrecidas ainda erguidas, o esqueleto queimado da construção, o resto foi consumido pelo fogo, Como aqueles que o habitavam, bem provavelmente, ele concluiu sentindo o cheiro de carne queimada que emanava de todos os lados, Os selvagens não fazem reféns. Alguns até faziam, mas ele não cogitou em pensar que aqueles tinham feito.
Então repentinamente foi tirado de seus pensamentos pelos xingamentos de Donn.
- Mas que ótimo!- disse após praguejar- Ótimo mesmo, depois de cinco horas e meia em cima de um cavalo, correndo o risco de ser morto, tudo para nada, apenas morte e cinzas!- então ele tirou a carta de seu alforje.
- O que você vai fazer, Donn?- Ybion perguntou, vendo Donn com a carta em mãos.
- Vou lê-la, o que mais?- ele respondeu rompendo o lacre de cera- Eu pelo menos tenho o direito de saber o porque de corrermos tantos riscos.
- Ora seu...- Ybion hesitou- Ah, maldição! Leia, Winterfox, leia para que todos escutem, se é que um bastardo como você sabe ler?
Donn franziu o cenho e abriu a carta sem floreio:"Caro Conde Siwden Stonethrone", leu ele, com certa dificuldade, pesando muito nas palavras, mas ainda assim Ybion ficou impressionado. Então, bastardos das ruelas sabem ler? Isso sim é uma novidade!, Ybion pensou enquanto escutava a leitura de Donn.
"Eu, Conde Adler Starag, venho lhe pedir através desta humilde carta: que se junte a nós para dar um fim nessa guerra que nós, povo do Norte, sofremos a muito. Os malditos saqueadores! Bárbaros vindo do oeste, pilhadores de vilas e ladrões sedentos por sangue. Malditos que nos assombram, acabando com a nossa economia, já que, como deve muito bem saber, não recebemos mercadores ou até mesmo um mísero grupo itinerante. Nada! Todos temem a Estrada, o Norte em si. Então convoco você a se unir a nós nessa batalha. Tenho comigo 23 selos", haviam diversos selos de cera colados no papel, brasões, de diversas casas nobres, todas nortenhas.Donn ficou em silêncio por um momento.
- Veja- ele mostrou a carta para Ybion- Veja o último brasão.
- É o brasão dos Helsing- observou Ybion, o corvo sobre o pomo de uma espada em um fundo vermelho, mas havia outro brasão logo ao lado: uma folha de bordo-douro coberta de geada, em um fundo carmesim. Ybion deu um sorriso irônico- Ora ora, parece que seu pai entrou em uma guerra, Donn. Esse é o brasão dos Frost, mas você o deve conhecer muito bem, não é, Winterfox?
Donn praguejou algo:
- É claro que eu o conheço... da mesma forma que você conhece o brasão dos Graycastles, Ybion Graylock- ele disse, com um sorriso igualmente irônico.
Tolo miserável!, pensou ele.
- Você não percebeu nada, Winterfox!?- ele gritou- Estamos em guerra, e você fazendo troças!
- Você que começou...
- Eu estava fingindo! Estava agindo como um idiota que conheço, não é, bastardo!?
- Não me chame de bastardo!- Donn ordenou com fúria, sua mão estava sobre o cabo da espada.
- Você é um dos bastardos do Lorde Frost, não é?... Ah! Não temos tempo para isso. Temos que voltar para Ironvale, para avisar o conde que Stonevale foi atacada, saqueada e queimada- Ybion disse montando em seu cavalo- Vamos, Donn, rápido! É um longo caminho.
- E correr novamente o risco de morrer?- Donn montou em seu cavalo- Para mim não! Eu vou para o Sul, devem precisar de mercenários por lá... e provavelmente alguém pagaria muito por essa informação- Donn dobrou novamente a carta e a guardou em seu alforje.
- Dê-me essa carta, Winterfox!- Ybion ordenou, se aproximando hesitantemente.
- Só quando a vida se esvair do meu corpo, Ybion- ele desembainhou sua espada, o aço sibilou no couro e a luz cintilou pálida na lamina gélida- Mas até que isso ocorra vou lutar até a morte sorrir para você, Graylock!.
- Pense, Donn, pense! Você não irá tão longe com essa informação. Cedo ou tarde, o Conde Adler vai o encontrar e você vai ser decapitado por deserção e por venda de informações cruciais para o futuro do Norte. Se essa informação cair nas mãos erradas, não que a suas sejam boas, mas sim, em mãos piores que a suas, você será a única pessoa que saberá, além do seu cliente. O que acha que ele faria com você, o seu cliente? Ele o mataria e mandaria desovar seu corpo imundo em algum lugar qualquer. Então pense, Donn! No fim isso leva ao mesmo lugar, com nós dois sendo mortos e o Norte tomado nessa situação precária!- afirmou ele após terminar seu monólogo- Agora, vamos para Ironvale e podemos até, eventualmente, ganhar um bônus extra em prata do Conde Adler.
Donn ficou em silêncio por um momento, Ele está pensando, Ybion percebeu com ironia.
- Maldição!- praguejou Donn, embainhando sua espada e mudando o rumo do seu cavalo para Ironvale- Vamos, em breve irá escurecer, e você irá caçar o jantar dessa vez, Graylock.
- Então vamos- Ybion ficou aliviado com a escolha de seu companheiro, ele não queria ter que mata-lo, Donn fez a escolha certa, ele pensou, um sorriso levemente se criou em seu rosto, Então há alguma inteligência nesses bastardos. Isso sim é uma piada!O sol ia se pondo entre as montanhas, a pouca luz que ainda restava iluminava a estrada, nela os dois cavalgavam.
O vento era frio, impiedoso e mortal como a guerra que ele anunciava que estava por vir...
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A Revolução do Norte
Fantasy[Em Andamento] Sinopse: Uma guerra civil inevitável e outra inesperada que vai mudar a história do mundo para sempre. 5 anos após o governo nas mãos de um terrível usurpador louco, K'rath ainda sofre de cicatrizes antigas. O Norte se cansou dos Selv...