-Parte IV-

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                         -Parte IV-

                         -Hugren-          

O mar estava inquieto, com ondas  cinzentas vindo e indo, que poliam os seixos e umedeciam a areia debaixo dos pés de Hugren. Ele contemplava o horizonte tempestuoso e o mar cinzento a baixo dele, como sempre foi, tanto que nomearam aquela praia de Du' ihha-pras (Mar-Tempestade, na língua dos selvagens). Sentia a fria água do mar afagar-lhe os dedos dos pés nus, ele gostava de tirar as botas e as luvas quando estava ali, gostava de sentir a natureza e a vida daquele lugar, que para ele era um santuário. Du' ihha-pras ficava num vale escondido nas Garras entre uma montanha do Norte e alguns morros íngremes, um local bem afastado da sua aldeia, afastado de todo o mundo, onde as suas preocupações e responsabilidades não entravam com ele. Ele conseguia sentir a presença dos seus deuses ali, conseguia também sentir a fraca presença dos deuses antigos, deuses dos quais não sabia os nomes. Deuses que se refugiavam da perdição e do esquecimento... tudo em vão, pois foram esquecidos à muito tempo atrás junto com a extinção dos Nativos. Os deuses são egoístas, querendo nunca ver a face da morte só para nunca terem que abandonar os seus reinos e privilégios!, Hugren refletiu, olhando agora para as montanhas pálidas da cordilheira dos Mil-Picos, Afinal, eles não são tão diferente de nós.
Ele observou alguns caranguejos vagueando pela praia buscando alimento. Tudo parecia frio e cinzento naquele lugar, e de fato era, excerto ele que com sua pele parda e seus mantos de linho azul se destacavam em meio a paisagem sombra, por mais que parecesse que ela sugasse as cores e as tornava escuras e desbotadas. Alguns pequenos caranguejos vinham ao seu encontro, subindo nas costas das suas mãos ou dos seus pés, não o beliscavam, afinal, não tinham motivo para tal. Eles eram de um tom azul-cinzento com suas carapaças duras em um cinza-escuro, como se fosse um elmo de ferro, por isso eram chamados de caranguejos-soldados, que eram o símbolo de sua tribo, a tribo Traxsalem. Foi o senhor seu pai que lhe dissera isso, ele o levou até o local e disse que ali era o seu santuário, que seu pai o levou até ali, e o pai do seu pai fez o mesmo, e disse que um dia Hugren faria o mesmo com seus filhos. Hugren tinha um filho, Radren, que já tinha 4 verões vividos, e sua esposa, Melly, estava dando a luz a outro naquele exato momento. Hugren estava preocupado, devido ao fato que da última vez ela ficara tão fraca e doentia que ele pensou que ela iria morrer, "Não me deixe, Mally!", ele pediu à ela, que por mais fraca que estivesse ainda assim olhou para ele incrédula e respondeu em uma voz fraca, quase um sussurro: "É Hugren, O Terrível, que me pede isso? E aonde eu iria?", ela então segurou sua mão com força, e disse: "Não pense que vai se livrar de mim tão cedo, Hugren Du' trax!", e de fato ela sobreviveu, graças à Digren, seu irmão mais novo, e suas curas que aprendeu em Agjnmonth, quando foi mandado para a Ordem para se tornar um Representante, e de fato ele se tornou e agora era seu conselheiro e mais fiel amigo.
Ela é forte, ele murmurou para si próprio, Ela não vai morrer, eu terei um outro filho!, por mais que ela dissesse que dessa vez iria ser uma menina, e se fosse, tudo bem, ele não se importava com isso.
Ele pegou um caranguejo com as mãos nuas e caranguejo o beliscou com igual força tentando se libertar, beliscou uma, duas, três vezes até que por fim Hugren sentiu seu sangue escorrendo pela sua mão. Ele jogou de volta o caranguejo ao mar, em seguida se ergueu, fez uma prece silenciosa ao seu deus do mar, pedindo para que ele desse forças para Mally.
- Sangue e sal!- ele proferiu por fim, em seguida esticou sua mão ferida e deixou seu sangue pingar lentamente na água, que vinha e levava seu sangue ao mar aonde seu deus receberia sua prece e decidiria se a atendia ou não. Ele se virou e andou até uns penedos que delimitavam o vale, onde ele havia deixado suas botas, luvas e sua espada, algo tolo de se fazer, mas ali era seguro, ninguém conhecia aquele lugar além dele mesmo. Ele se arrumou novamente, calçando suas botas, pondo suas luvas e embainhando sua espada longa na sua bainha de couro-fervido a tiracolo. Ele então saiu do vale, passando por uma mata densa, após isso viu se de frente para uma antiga trilha de caça, que levava para a orla da sua aldeia. Ele avançou rapidamente, afinal, ele tinha que fazer seu papel como líder da tribo e ver o nascimento do seu novo filho....

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