Eu Quero Fazer Um Pacto Com O Diabo

Problemas

                          ~2020~

 
  Já era tarde, beirando as três da manhã, não havia comido, estava fomento, os pobres dos meus pais estavam no outro quarto dormindo com a cabeça pesada, sem saber oque iríamos comer na manhã seguinte, então não tinha oque fazer ou para quem dizer - Estou com fome - não havia necessidade de preocupa-los ainda mais, apenas aguentei firmemente. Está cena lembrou-me dos meus anos de ouro na carreira militar, onde ali aprendi lidar com a fome, uma hora eu iria dormir e a fome cessaria.
  Os problemas, aqueles malditos problemas, não me deixavam acalentar os olhos, turbilhões de pensamentos trabalhando em prol das soluções, vinham e íam, até os mais maléficos - Séria necessário roubar? - Entretanto logo eu desistia, não é de meu feitio. E de tanto pensar, e a fome resoar em meu âmago acabei por dormir.
- esgotamento mental? talvez! desespero? certeza.

                       

                         8:35 AM

  Acordei devagar, escutando alguns barulhos, parecia que o mercadinho da esquina tinha acabado de entrar na minha casa, enquanto levantava da cama começei a escutar melhor oque vinha de ser parecido com o mercado, gritando, esperneando, assolando toda a casa.

- Maria eu não quero saber se estamos em crise! eu preciso do dinheiro do aluguel.

- Sra. Daldete já lhe falei que não recebi, não tenho nem oque comer, como me cobra um aluguel?

- Eu não quero ouvir esse chororó! senão me pagar vou abrir uma ordem de despejo!!!

- Não faça isso senhora, eu tenho dois filhos, e meu marido tá desempregado, pense um pouco em mim, eu te imploro!!!

- Três dias Maria, três dias atrasado... quer que eu faça oque?

Doia-me ter que ouvir aquilo acontecendo com a minha mãe, uma velha vem em nosso portão gritar aos quatro ventos que queria dinheiro, mas minha mãe, dona Maria, não tinha de onde tirar, era humilhante não poder fazer nada, me senti impotente diante dessa situação.

- Sra. Daldete, espere só até o dia 29, eu vou receber e pago você! não faça isso, eu não tenho para onde ir!!

- É o jeito né! Oque vou fazer? tem que esperar, né?!

  Quando a porta bate parecendo um trovão e a velha se esvai, toda a casa volta ao vazio solito do cotidiano, não se escuta nada, um silêncio ensurdecedor, saio do quarto e vou direto na mãezinha - Mãe não fica triste, não se preocupe! nós vamos dar um jeito, sempre damos! - Era a única coisa que eu podia dizer, não passava de uma pequena faísca de crendice que eu pudesse acreditar, esperava algo mágico ou surreal cair do céu para nos ajudar, mas no fundo eu sabia, do céu não se pode esperar nada.