Caixa de surpresa

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Wat estava tão frustrado aquele dia que acabou saindo sem seus seguranças e fugindo sem rumo para o centro da capital. Estavam em Bangkok em encontro social que infelizmente ele teve que comparecer em nome da sua família, a tradicional Chivare, que embora fosse de raízes tailandesas, atualmente ele e sua irmã mais velha e matriarca da família em geral viviam em Sidney.

Ele só queria andar por aí sozinho depois daquele dia tenso e irritante, embora soubesse que não devesse, por isso não se importou de entrar naquele Café comum em uma rua bucólica e quase vazia e pedir a primeira coisa que viu no menu apenas para matar o tempo, ver pessoas comuns interagindo e claro, esperando pelos seguranças que logo iriam encontrá-lo.

Sarawat era um jovem mestre, um dos prodígios a serviço da rainha e que não podia ser desperdiçado, isso ele bem sabia.

Assim bebeu café e mais café e estava pronto para pagar e sair daquele lugar pequeno e aparentemente point adolescente quando viu alguém entrar ofegante, com os lábios cortados, descabelado e claramente em estado de fuga de algo ou alguma coisa.

Wat não percebeu que se erguia praticamente involuntário olhando para o lado de fora em estado de alerta total. Tudo isso seu corpo fez sozinho, em um átimo de segundo, por instinto e de um jeito que jamais reagiu antes.

Parte de sua atenção estava no garoto que ofegava com as mãos nos joelhos, parte estava na rua e em qualquer pessoa suspeita que viesse daquela direção.

Uma das garçonetes correu para o garoto com os olhos arregalados e Wat pensou que ela devia estar bem nervosa para ignorar ele e o casalzinho do canto que tomavam milkshake e paqueravam animados.

— Tine! Tine o que houve!? São eles de novo?

— Desculpe, Prae, eu não posso mais ficar aqui, eu... Adeus.

Ele se virou para sair e a garota segurou o braço dele de modo aflito:

— Para onde você vai, Tine? Isso é loucura! Você não pode simplesmente desaparecer!

O garoto sorriu triste, repetiu o adeus e saiu rápido da cafeteria sem olhar para trás.

Wat não pensou, simplesmente não pode pensar. Deixou uma nota que pagaria no mínimo trinta bebidas sobre a pequena mesa e saiu rápido seguindo o garoto com uma habilidade que em outras circunstâncias assustaria pessoas comuns, contudo ele foi treinado para isso há mais de três anos, ele sabia seguir, sabia atacar na surdina. Ele sabia coisas que em uma sociedade civil comum seria exótico.

Mas ele não fazia parte da sociedade comum. Ele tinha seu próprio mundo.

Assim seguiu o garoto até uma periferia praticamente insalubre e assistiu um pouco perturbado, aquela pessoa que agora mancava levemente, com certeza como resultado de alguma briga, entrar em um lugar pequeno que nem poderia ser chamado de casa e sair de lá pouco depois com uma mochila puída e uma sacola nas mãos.

Ele tinha pés rápidos, isso era certo, porque assim que saiu da casa ele correu rápido rua abaixo como se fosse perseguido por cães ferozes e Wat teve de fazer certo esforço para alcançá-lo sem se denunciar.

O seguiu até um ponto de ônibus depredado onde por fim ele se sentou e respirou fundo, escorando a cabeça na tábua que servia como fraca proteção lateral e fechando os olhos por alguns segundos, aparentemente exausto.

Wat podia ver aquela pessoa, que era parcamente iluminada pelo fraco pôr do sol, com mais atenção e notar em como ele tinha um perfil belo, lábios cheios, pele bonita apesar de mal cuidada e até mesmo os longos cílios eram vistos melhor conforme se aproximava. Ele era em tudo a pessoa mais bonita que seus olhos já viram e seus olhos já tinham visto beldades e mais beldades desde que teve seu debut há quatro anos. Ele era uma pessoa disputada em seu mundo, inclusive, mas nada tinha lhe atraído seu interesse.

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