Sabe qual é a merda de morar aqui nos Estados Unidos? Não tem o cigarro com o sabor que eu gosto, só esse com sabor de 'morte suave banhado em menta', me sinto ainda mais viciada.Sabe qual é a merda de fritar hambúrguer fazendo dieta? Não se pode usar óleo e deixa a frigideira toda preta. Eu só quero perder dez quilos, o que custa sair na urina?
Além de que, essa mini churrasqueira a base de água demora a esquentar e fica tudo meio cru, meio cozido. Tenho que comer couve cozida e alface sem tempero como um adicional.
Odeio dieta.No meu radinho conectado ao meu celular, está tocando a Alfa FM, são cerca de dez da noite e tá tocando NX Zero, chego até a cantarolar a letra açucarada que me carrega de volta aos dias de ensino médio do Brasil.
Finalmente meu pedaço de carne fica cozido/queimado e eu me sento no chão, ao lado do meu livro do Pedro Lenza* para jantar.
Esse espaço é ocupado por varais lotados roupas de outros moradores, uma gaiola com o Terry (um papagaio que eu ensino português e o dono acha que ele é possuído), a churrasqueira horrível e um sofá que é sustentado por tijolos no lugar de seus pés. Minhas costas estavam encostadas nesse sofá, de costas para a porta que dá acesso ao lugar onde estou.
Até que, com um tranco a porta se abre e se fecha rapidamente.
- Tem alguém aí?
- Tem! - levanto uma de minhas mãos e a cabeça de um cara com a barba por fazer aparece na minha frente, me olhando com certa curiosidade, era possível sentir o cheiro forte de bebida vindo de seu hálito.
- Tá fazendo o quê aí?
- Jantando. Quer? - levanto meu prato e o cara pega, sem cerimônia alguma, um hambúrguer e um pouco da couve com os dedos. Leva tudo a boca, mastiga e puxa o prato da minha mão, me obrigando a levantar e trazer meu livro junto.
- O que você veio fazer no telhado? A última refeição antes do suicídio? - seus olhos me olhavam de canto, ele vestia um abrigo da Adidas preto que vendiam aos montes na 25 de Março, dava pra perceber em seus traços que era descendente de asiáticos e que não dormia há alguns dias (e pelo jeito que comia meu jantar, se alimentava de fotossíntese há algum tempo).
Sua pergunta era carregada de um sarcasmo e de uma curiosidade, como se fosse um teste para ver como seria minha reação à uma brincadeira com um tema delicado como esse. Eu deitei as costas no braço do sofá e estiquei o tronco, enquanto olhava o cara ainda devorando minha couve sem os talheres.
- Estudar até a cabeça parecer explodir e surtar a ponto de não conseguir sair de casa é uma forma de suicídio? Porquê se for, eu sou suicida.
- Saudável não é, mas todo mundo é meio fodido da cabeça. - me olhou, deixando o prato no meu colo e sacando um dos cigarros que eu mais odiava na face da terra, o Carlton - tem problema com pessoas que querem te matar por tabela?
- Problema mesmo, só o fato de você ter esse gosto péssimo de fumar essa marca de cigarro cheia de veneno de rato. - falei, apontando com cara de nojo enquanto ele soltava a fumaça na minha cara e ria, sacudindo a cabeça.
- Todos eles têm veneno de rato.
- Mas esse tem mais gosto.
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persona • J O J I •
FanfictionPersona / persõna /: "personalidade que o indivíduo apresenta aos outros como real, mas que, na verdade, é uma variante às vezes muito diferente da verdadeira". Em nossa juventude, é certo que passaremos por várias mudanças. Todos os dias, a todos o...