O Sol das três da tarde batia na janela do banheiro de George, que por sua vez, estava jogado dentro de sua banheira, com seu travesseiro de fronha vermelha xadrez encardido em suas costas desnudas protegendo também sua nuca. Em sua mão direita, a fotografia de uma garota saindo de um fórum qualquer.
Seus cabelos estavam mais curtos e descoloridos, os óculos também tinham outro modelo, a maquiagem era mais forte, os tons em vinho em seus lábios eram mais intimidadores do que atraentes, usava uma calça de couro justa que brincava de gangorra em sua cintura fina pela abdominoplastia. A camisa social verde estava com as mangas arregaçadas onde se desenhavam as duas tatuagens que tomavam toda a extensão de sua pele até os ombros, que eram tampados por um terno também escuro, que ela não fazia muita questão de usar.
Além da pasta, em sua mão esquerda era possível ver um anel solitário, onde a pedra brilhava com toda a graça, deixando clara a tradição do noivado que acontecia ali.
Manejando delicadamente o pedaço de papel fotográfico, como se fosse sua maior riqueza, virou-o e leu as inscrições que ele próprio escreveu ali com intuito de entregá-la, o que nunca aconteceu por falta de coragem em falar enquanto sóbrio com Anya.
“Eu sei que sou enigmático e estranho, essa merda me faz indiferente
Eu não quero morrer tão jovem
Tenho muito o que fazer
Eu não sorrio para as câmeras
Sorrio apenas para você, sorrio para você.”
Logicamente que, enquanto ‘Filthy Frank’ estava ativo, todos os dias novas notificações judiciais chegavam à sua porta. Mesmo que os EUA não dessem a mínima ao tipo de humor que George produzia, órgãos não governamentais repudiavam veementemente suas canções. Civis entravam com ações públicas por importunação ofensiva ao pudor* e por situação vexatória, crimes que poderiam arruinar toda uma carreira se comprovados. A plataforma já não o remunerava mais e toda a sua poupança estava se esvaziando cada vez mais a cada semana e não havia ‘plano B' algum caso tudo desse errado.
Sua lista de amigos, assim como de compras, acabava se resumindo ao álcool, às drogas e casas de prostituição. Em pouco tempo, também foram adicionados as pílulas e macarrão instantâneo.
Logicamente, seus pais tentaram ajudá-lo. Um apartamento no Financial Street não era barato, mesmo que pequeno era muito conveniente para quem gostava de ter seu escritório próximo de casa.
Estava com vinte e cinco anos e tinha um apartamento, um estúdio a prova de som e seu antigo apartamento continuava alugado, sendo sua única fonte de renda no período de transição em que estava. Era uma vida estabilizada e ele poderia fazer o que quiser.
Mas ele não queria fazer mais nada. Então, seu pai desejou boa sorte e trocou a fechadura da casa.
— Merda – não percebeu que chorava, a Bupropiona vivia fazendo com que as emoções demorassem a aparecer. George levantou-se de uma vez da banheira e sentiu uma pequena queda de pressão. Continuou seu caminho até o criado mudo que continha exatamente um pacote de macarrão instantâneo pela metade, um dos uísques mais baratos que encontrou no mercado, dois cigarros apagados e duas carreiras.
Quebrou o pedaço do macarrão em pequenos pedaços dentro da embalagem que estava um vencimento que já havia, há muito, passado. Em um só gole a garrafa de uísque diminuiu 2/3 de seu conteúdo inicial.
Um pouco sonolento, sentou-se na privada. O relógio digital do receptor de televisão ainda apontavam quatro e meia.
O tempo nunca era amigo de George. O rapaz se levantou e, cambaleante, bebeu o restante de seu uísque. Logo seguiu para a cristaleira que ficava no canto da sala de paredes cinzas. Abriu a porta do móvel trabalhado em madeira e vidro temperado que mostravam em suas pétalas o seu rosto já cansado, com olhos vermelhos e parados cujo se fixaram em uma garrafa de Elephant. George a abriu e sem muito pensar entornou o gin de uma vez, se sentando ao lado da cristaleira e encostando a cabeça na mesma.
Fechou os olhos e iniciou a contagem da própria respiração, isso certamente o faria relaxar.
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persona • J O J I •
FanfictionPersona / persõna /: "personalidade que o indivíduo apresenta aos outros como real, mas que, na verdade, é uma variante às vezes muito diferente da verdadeira". Em nossa juventude, é certo que passaremos por várias mudanças. Todos os dias, a todos o...