Capítulo 7 - A Noite de Natal

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-Ei! (palmas) A senhora não pode dormir aqui! Eu já avisei...

Assustada, Lucinda se levantava de uma cama improvisada na entrada de serviço de um restaurante. Quando chegava à noite, ela procurava por um beco ou algum lugar que mostrasse alguma segurança, cobria seu carrinho de mercado com uma lona escura e ficava escondida para que ninguém a visse. Era uma espécie de ritual, mas no fundo, viver nas ruas exigia alguns cuidados diante da violência que habitava na noite.

O dono do restaurante que agora enxotava Lucinda, não fazia a menor idéia, mas na noite anterior, quando um dos seus funcionários foi jogar o lixo na caçamba, viu Lucinda encolhida num canto. Compadecido com aquela situação e aproveitando que praticamente já estava só durante o fechamento, esquentou uma sopa, pegou um pedaço de pão e levou para Lucinda que num gesto com a cabeça agradeceu, enquanto tremia de frio. Fazia dois dias em que ela não comia nada. A sopa além de aquecer naquela noite fria, parecia revigorar suas energias, ela estava fraca, não gostava de encarar seu reflexo nas vitrines, pois se ela pudesse escolher, gostaria de esquecer tudo o que havia vivido antes, era doloroso demais pensar nos fatos que a jogaram na sarjeta da vida.

E a proximidade do Natal era uma época em que a deixava numa completa tristeza, era uma verdadeira tortura empurrar o seu carrinho de mercado pelo Centro da cidade, e ver como as pessoas pelas ruas ficavam felizes naquela época do ano, passavam correndo por ela,  carregando sacolas e enfeites de Natal, crianças agarrando enormes caixas de presente e sempre acompanhadas de seus pais.

Muitas vezes, se pegava quase que como uma espiã, ficava olhando pelos muros das residências, na verdade, ficava se imaginando lá dentro, correndo pela casa brincando com seu filho, ou servindo um jantar, tudo o que ela via acontecer dentro da casa, acabava se projetando ali, e sempre terminava chorando, imaginando como teria sido sua vida.

Uma das coisas que a acalmava quando estava muito triste, era visitar Charlotte.

Dona de um pequeno quiosque de flores que ficava bem no centro de uma praça, Lucinda só a evitava quando via que o pequeno Samuel, filho de Charlotte,  ele a encarava e mesmo num gesto de pura ingenuidade e curiosidade, doía demais. Mas ela gostava mesmo era de apreciar as orquídeas e costumava presentear a amiga com seus desenhos, inclusive Charlotte havia colocado um deles numa moldura que agora ficava atrás do caixa. Era curioso que a maioria dos frequentadores, sempre perguntavam quem era o artista responsável por aquele desenho tão perfeito.

Mas todas aquelas visitas não passavam de trocas de gestos, comuns a todos que tinham contato com Lucinda. Charlotte achava que sua intrigante amiga, era muda. E não importava quantos dias ela demorasse para aparecer. Sempre bem recebida, Charlotte dividia um pouco do lanche ou almoço que levava para passar o dia. E bem lá no fundo de seu coração, conseguia enxergar através de Lucinda e se perguntava: Como ela poderia ter acabado nas ruas?

E bem ali, do outro lado da Praça...

- Pedro, você tá muito devagar! Já colei mais cartazes que você! Sabrina arrumava seu cabelo num rabo de cavalo, enquanto debochava do seu agora namorado. – Tá me devendo um Milkshake!

- Falta só mais este aqui... Errr. Pronto! Colado! Srta Mandona! Pedro estava todo atrapalhado com a sacola de cartazes e tentava dar um beijo no rosto de Sabrina.

Durante toda aquela manhã, eles haviam colado vários cartazes para a divulgação da Ceia de Natal. Era um convite bem simples, direcionado a população carente e moradores de rua. Christine, a missionária que voltava de Porto Velho, já havia chegado na cidade e naquele momento, instruía os jovens voluntários. Numa pequena palestra, com muita propriedade, ela discursava como deveria ser a abordagem fraterna e de resgate daqueles que viviam nas ruas, era também de suma importância receber com carinho aqueles que sairiam de suas casas e que não tinham nada para comer naquela noite.

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⏰ Última atualização: Dec 15, 2014 ⏰

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