Capítulo Um

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2 anos depois

Vince se arrumava enquanto eu preparava a comida de Emma. Ela já estava dormindo há umas duas horas e eu tinha certeza que logo acordaria, porque o sono da minha filha não era nem de longe aquela perfeição toda.

Cabelos em pé, sono desregulado, anemia, eram só algumas coisas que eu havia adquirido com a rotina de mãe. Mas tudo isso perdia a importância quando eu pegava Emma no colo, quando ela esticava os bracinhos para mim e sorria. Era impagável, eu me sentia a mulher mais sortuda do mundo.

O processo para que eu conseguisse engravidar durou por volta de quatro meses, tínhamos três tentativas. Depois do tratamento, Vince realmente ficou estéril. Fiz de tudo para que as amostras valessem a pena, mas quando a segunda tentativa falhou eu me desesperei, foi um processo tão difícil... orava dia e noite para que tudo corresse bem, só assim conseguia dormir, só Deus para acalmar meu coração.

Mas ainda tinha uma última amostra, havia uma esperança e eu me agarrei com todas as forças à ela. Foi quando essa também falhou. Senti meu mundo desabar em cima de mim, custava a acreditar que aquilo fosse real. Até que na semana seguinte o médico da clínica ligou dizendo que tinha uma quarta amostra e eles haviam feito a contagem errada.

Deu certo! E ali estava minha linda esperança, com quase um ano, me chamando aos berros pois havia acabado de acordar. É... o silêncio é uma dádiva que a mulher perde depois que se torna mãe. Mas tudo bem, porque uma mãe trocaria mil anos de silêncio por simplesmente poder ver o rosto do filho todas as manhãs.

— Vince, tente acalmá-la, por favor. Estou terminando de fazer a comida. Amor, tá me ouvindo?

— Eu estou ocupado, Louisa. Sabe que eu não levo jeito para cuidar dela, meu amor.— Ele disse, calmamente.

Respirei fundo, desliguei o fogo e deixei a comida de lado para pegá-la no chiqueirinho.

— Está tudo bem. A mamãe está aqui...— Ela diminui a intensidade do choro assim que me viu, mas estava com fome. Era colo de mãe vinte e quatro horas, só queria à mim, só queria comer se fosse comigo, só queria dormir se fosse eu quem estivesse por perto...

A maternidade é uma coisa de louco. Mas ouvi dizer que as melhores pessoas são assim.

Cantei uma musiquinha e ela se acalmou um pouco.

Vince passou por mim e caminhou até a cozinha, enchendo um copo com água e levando à boca.

Ele era um bom marido, mas por não se dar muito bem com crianças desde sempre, não levava jeito para cuidar de Emma, a menos que ela estivesse dormindo, aí ele deitava junto com ela e dormia também, ou eu estivesse no estúdio, ou em algum espetáculo —havia voltado a fazer ballet tinha quatro meses, foi quando Emma fez seis — e eles me esperando. Claro que eu deixava vários brinquedos com ele para mantê-la distraída. Ele não gostava muito e ficava carrancudo quando ela começava a chorar, mas tudo bem, eu relevava.

Com a minha volta à academia, também voltei a receber meu salário completo, ou seja, mais do que eu estava recebendo na Licença Maternidade, o que era em torno de dois mil e voltou a ser quatro mil. A companhia *France Ballet, comandada pela professora Lefévre e mais alguns associados, era uma das mais disputadas na região, e eu estava nela desde os meus treze anos. Vi aquela academia ser fundada. Helen Lefévre, além de minha professora, foi quem me criou como praticamente uma filha. Era uma longa história... E no final, conseguimos superar todas as barreiras 

Eu tinha menos espetáculos do que antes de engravidar, fazia três por semana, mas ainda assim vivíamos muito bem com meu salário e o de Vincent. 

Quando Cristo é o AutorOnde histórias criam vida. Descubra agora