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Margot desceu do carro com dificuldade e logo os socorristas trouxeram uma cadeira de rodas para levar ela para dentro.
Ela se esforçou por uns segundos. Queria dizer algo. Queria brigar com sua mãe. Mas não tinha força. Abriu a boca e murmurou alguma coisa. Mas com a correria que estava do lado de fora ninguém percebeu.
As luzes dos corredores estavam machucando seus olhos.
Se lembrou da tarde que teve. O sol batendo no seu rosto , o calor na sua pele... Isso não tinha machucado ela mais cedo. Porque agora ela sentiria tal desconforto? Pensou.
Sua mãe falava algo com dois médicos em sua frente.
-Era só uma febre normal e eu não pude notar esse machucado....- Não conseguiu ouvir mais.
Olhou para sua direita e viu sua irmã segurando seu casaco. Ela tinha um olhar assustado. Estava encostadinha na parede próximo a um vaso de plantas.
Ela olhou pra cima e viu a recepcionista do hospital.
Sua mãe pegou uma prancheta para fazer algumas anotações.
Cada piscada estava ficando pesada.
Agora ela via flashs mais curtos.
Achou que estava delirando ,pois viu de relance a garota da varanda ,que havia visto mais cedo, sentada em uma cadeira no fundo da recepção.
Ela ainda mantinha seus braços cruzados.
Depois olhou novamente para sua irmãzinha, e de novo para a garota. E fez isso umas cinco vezes seguidas. Até um médico vir e levar ela para dentro, para ser socorrida. Isso tudo durou no máximo 5 minutos. Mas em sua cabeça pareceram horas.

Margot desceu do táxi. Abriu a porta e olhou para sua casa. Foi se levantar e notou que um dos tênis estava desamarrado. Não havia dito nenhuma palavra naquela manhã inteira.
Ficou dois dias no hospital só até abaixar sua febre e começar a tomar os devidos antibióticos.
-Obrigada - Dizia Meghan para o mesmo motorista de táxi que havia levado elas ao hospital há dois dias atrás.

Cloe abriu a porta e veio correndo em direção a Margot, que tinha parado na entrada de casa ,contemplando dois passarinhos no poste.
O abraço foi mais forte do que ela imaginava que seria ,até deu dois passos para trás com o impulso que sua irmãzinha tinha dado.

-Fico feliz que você esteja melhor. - Disse Cloe afundando o rostinho no suéter grande e macio da irmã. - Margot sorriu e fez carinho nos cabelos da pequena.

- Sky que bom que você está bem!! - Falou Aylah descendo as escadas e em seguida entrando em um abraço caloroso com as duas irmãs.

Aylah sempre chamou Margot de Sky. Antes mesmo do nascimento de Cloe. Ela teve dificuldades com pronúncias quando era mais nova e aprendeu essa palavra na escolinha. Repetia algumas palavras o dia inteiro e essa era uma delas. Passava a mão na barriga de Meghan e sussurrava sky bem baixinho. Desde então esse costume não mudou. Ela até acha engraçado e interessante a relação que sua irmã tem com o céu. Pois no dia que ela ver Margot olhar para o chão, saberá que tem algo muito errado com sua irmã.

-Só não deixem a mamãe dar mole para o taxista ,por favor. - E essa foi a primeira e última frase que Margot disse naquele dia inteiro, depois se afastou daquele abraço que tinha muito sentimento de proteção, carinho e alguma coisa mais forte que o próprio amor.

Ficou trancada a tarde toda em seu quarto. Só saiu para tomar seus remédios . Jantou e foi dormir.

No dia seguinte acordou cedo e viu que Cloe estava sentada na sala assistindo alguns Cartoons.

Foi até a geladeira e pegou um suco de caixinha. Se esticou até ficar nas pontas dos pés e pegou algumas bolachas de dentro de um vidro redondo que tinha uma forma de um papai noel feito de massinha em cima do armário. Depois se sentou ao lado dela.

- Sabe que não pode tomar nada gelado.
- Você cuida de mim melhor do que a mamãe já vez um dia , sabia?
- Olha eu sei de muita coisa e uma delas é que a mamãe te ama muito. - A garota que sempre estava de cara amarrada revirou os olhos.

- Que bom que está acordada querida. Queria conversar com você. - Disse Meghan entrando na cozinha pelas portas que davam acesso ao quintal.
- O que você está fazendo aqui? Não deveria estar trabalhando?
- Eu tirei o dia para cuidar de você. Acredite ou não , mas o que a Cloe disse é verdade.

Margot queria sorrir, mas preferiu manter a cara fechada.
Meghan conhecia o suficiente a garota para saber que aquilo era quase um sorriso em seu rosto. Tirando as luvas de jardinagem das mãos e colocando-as na cintura olhou bem para as meninas e disse:
- Vocês não querem ver uma coisa?

Assim que as meninas saíram lá fora , ficaram surpresas com o que viram.
- Você vai arrumar o canteiro de flores do papai?- Disse Margot mais empolgada do que já esteve naquele mês inteiro.

- Sim. Vocês podem escolher as flores depois. Se quiserem é claro.
- Lógico! -Disse Cloe com as mãos para cima e um sorriso que dava para ser visto do outro lado do mundo.
- Acho que vai ter que tirar algumas dessas cercas , porque essa madeira já tá podre.
- Sim ,vamos arrumar tudo. Mas antes quero conversar com você....Seu joelho estava ferido. Não reparou?
- É-é... eu tinha caído de bicicleta mais cedo naquele dia. Fui dar uma volta pela trilha que o papai fazia. Eu não achei que fosse algo sério.
- Não era ,até você sair de casa com febre. Você devia cuidar melhor de si mesma , você sabe disso.
- Olha eu sei , mas eu realmente precisava sair... E..
- Margot ... Esse corte no seu joelho não era um simples corte de quem caiu de bicicleta. Era corte de vidro. Os médico fizeram exame porque estava muito infeccionado. Não adianta você mentir.
Você se meteu em alguma confusão de novo?!

Margot começou a sentir que seu mundo estava ficando apertado com a pressão que sua mãe estava fazendo. Começou a ficar nervosa e a desviar o olhar.
-N-não, mãe. Eu juro. Eu só cai de bicicleta. Talvez tivesse algum caco de vidro no meio do mato e...
- Sorte sua que o corte não foi tão fundo. Mas isso infeccionou e piorou a sua febre.
-Acho que foi porque eu puxei a casquinha que tava cicatrizando.
-Então não puxe mais. Deixe as coisas curarem. Não complique mais do que já está complicado.

Margot abaixou a cabeça mas ficou feliz por sua mãe não ter insistido na conversa. Por outro lado Meghan sabia que tinha algo muito errado que envolvia sua filha. E sabia que mais cedo ou mais tarde ela descobriria o que era. Com caos claro.

-Legal sua amiga.-Disse Cloe agarrando o dedo indicador da irmã enquanto Meghan foi até a garagem para pegar alguns equipamentos.
-Que amiga doidinha?
-A do hospital. Ela até comprou um pãozinho para mim comer aquele dia.
-Do que que você tá falando Cloe?-Margot estava bem confusa.
-Ela me disse que você era amiga dela. Bom pelo menos foi o que ela disse. Mamãe entrou para dentro do consultório junto com você e sumiu por alguns minutos. Fiquei sozinha. Eu tava com muita fome eu tinha te falado.
-Nossa é mesmo! - Disse a irmã mais velha dando um tapa na própria testa. -Desculpa sempre estar te atrapalhando em algo.
-Para você não faz nada disso. Eu me sentei do lado dela e ela perguntou se eu estava bem. Me perguntou se você era minha irmã e o que você tinha.
-A mamãe não te ensinou que não pode conversar com estranhos?!
-Mas ela disse que te viu conversando com o Luke mais cedo e que você era amiga dela também. Então ela não é estranha.
-E o que mais aconteceu?
-Aí ela perguntou se eu queria comer algo e eu disse que sim,então ela comprou um pãozinho quente para mim.
-Folgada.
-Igual você.

Cloe ia entrar na cozinha até que Margot torceu a boca e em seguida gritou:
-Ei!
-O que ?-Disse a pequenina sem virar para trás.
-Ela não é minha amiga.
-Tanto faz. Pelo menos eu comi.

Longing FeelingOnde histórias criam vida. Descubra agora