Capítulo 2 - Home on the range: a caminho do lar

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O dia amanhecera energizante para a equipe de Memphis naquela quarta-feira de setembro pelo calendário terrestre, embora o céu estivesse nublado, e nenhuma palavra precisara ter sido dita para que um sorriso radiante e largo fosse aberto no rosto de cada tripulante do Dakota Johnson. Os artlantianos tinham seu próprio sistema de datas e, de acordo com o seu calendário, aquele dia se chamava Quatra, que também era o quarto dia da semana; o que se devia ao fato de Artlantis ser uma das colônias da Terra na galáxia. Porém, o dia ou a data, se fazia sol ou estava chovendo, se o céu estava azul ou cinzento, para os membros daquela tripulação, pouco importava agora. A única coisa em que eles conseguiam pensar era que, dentro de algumas horas, estariam todos deixando a atmosfera daquele planeta no tão esperado regresso à sua terra natal. E isso fazia com que qualquer temporal se transformasse num dia de verão ou primavera. Naqueles quartos, era possível ouvir um ou outro assobiando ou cantarolando enquanto eles arrumavam suas malas e corriam frenéticos e eufóricos de um lado para o outro ao se aprontarem para o embarque. Cada vez em que pensavam no momento em que finalmente pisariam o solo terrestre, seus corações se inflamavam e batiam ainda mais acelerados.

*  *  *

Raimi e Vincent postavam-se vigilantes e impacientes diante do banheiro do quarto, esperando, em meio a um poço de irritação, Jack finalmente sair para que pudessem usar a tal dependência. — Droga, Jack! Será que terei de esperar até o próximo verão pra conseguir finalmente entrar nesse banheiro? Mais alguns minutos aí e eu juro que iremos levar essa porta abaixo! — Grita Raimi com a cabeça encostada na porta do banheiro. A porta se abre estreitamente e a cabeça de Spartan surge por entre a brecha com um creme verde espalhado por toda a sua cara.

— Será que poderia, por favor, esperar sua vez? Tem alguém querendo ter um pouco de privacidade respeitado aqui, afinal! — Retruca Jack inadvertidamente.

— Caso não tenha notado, já se vão duas horas e meia desde que você se meteu aí dentro.

A alguns metros dali, no quarto de Kruger e Patrick, o primeiro oficial da tripulação terminava de fechar o zíper de sua mala, quando de repente atenta para Patrick falando sozinho e animado depois de espalhar um monte de recipientes de vidro e porcelana sobre sua cama. — O que é isso, Pat? Virou colecionador de saleiros de quarto de hotel agora? — Pergunta Kruger a Patrick, ao vê-lo colocando alguns frascos de vidro contra a luz para verificar o seu conteúdo.

O cozinheiro ri e responde: — São especiarias do norte de Gomaha! Algumas preciosidades que consegui com um dos chefes da cozinha do hotel. Essas raridades são produzidas a partir de grãos e ervas exóticas moídos e processados nas tribos nativas daquela região. Amy vai adorar quando vir isso! — Ele então leva um dos frascos até os lábios e o beija, guardando-o em seguida em sua mala.

No quarto ao lado, Coleman conferia item por item tudo o que havia organizado sistematicamente numa velha mala de couro ainda aberta sobre a cama: - Prontinho! Agora é só entrar naquela barcaça espacial e partir de volta para casa! - Suspira o caipira ansioso, travando os fechos da mala e levando um chapéu de caubói à cabeça em seguida. Ele então ajeita o velho walkman prendendo-o na cintura, coloca os fones nos ouvidos e escolhe algumas canções para ouvir.

Alguns minutos depois, todos desciam a escadaria do pórtico principal do hotel, com um semblante de felicidade no rosto, respirando o ar daquele planeta por uma última vez antes de se despedir dele em direção à nave. Eles então chegam ao porto, e deixando os taxis amarelos, que levitavam sobre o chão através de um sistema eletromagnético embutido nas vias e ruas de toda a cidade, seguem rumo ao píer em que o Dakota Johnson os aguardava sublime, imponente e incólume na paciência e prontidão com que fora deixado.

Perto dali, Memphis assinava junto aos funcionários do porto os últimos papéis que atestavam a conformidade da carga após sua conferência. Um grande portêiner, então, içava o último contêiner para assentá-lo sobre a pilha de contentores que repousava imóvel e resignada dentro do porão do navio espacial. O capitão aperta a mão daqueles homens e sobe a rampa em direção à sua velha espaçonave. Ainda a uns cem metros de distância da plataforma de acesso conectada ao navio, a tripulação do Dakota Johnson seguia firme e unidos depois de uma longa jornada que acabava apenas como um dos capítulos de uma história.

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