Capítulo 5 - O garoto que sonhava com as estrelas

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Nathan esfregava calmamente o convés principal do navio quando, de repente, avista o capitão encostado em um caixote de aço-liga lendo o que parecia ser um bloco, um caderno de anotações ou coisa do tipo. Ele estava em um de seus intervalos de descanso, e um pouco antes disso, completara incríveis dez horas seguidas na ponte de comando daquela embarcação. Embora pudesse dividir com Kruger o controle da espaçonave, Memphis gostava de passar o maior tempo possível no passadiço do navio contemplando as miríades de estrelas que se aglomeravam a milhões de anos-luz à sua frente.

Aquela era a primeira viagem interestelar de Beanie. Embora sonhasse com navios espaciais, rodas de leme e um infinito de estrelas, o garoto recém-embarcado no velho cargueiro jamais imaginara que do dia para a noite pudesse se juntar à tripulação de uma espaçonave como aquela, mas por um golpe de sorte ele estava lá. Desde que passara a fazer parte do Dakota Johnson, a figura do capitão despertara sua estima e admiração. Agora, ali, segurando uma vassoura envolvida num pano de chão encharcado de água e sabão, o jovem rapaz corroía-se de curiosidade sobre o que o comandante lia com tanta atenção naquele momento, e esquecendo-se do trabalho a ser feito, o disperso grumete, usando a vassoura como apoio, distrai-se por alguns minutos desejando um dia ser como o marujo que pouco a pouco transformava-se em seu herói.

O jovem rapaz começava a vislumbrar com empolgação, um dia, tornar-se capitão de longo curso; quando então rasgaria a grande espiral da Via Láctea de uma tangente à outra, rompendo as nebulosas e constelações de seus quatro quadrantes no seu próprio navio espacial. Porém, ele sabia que antes de tudo isso precisaria ao menos tornar-se um moço de convés de verdade, o que tentava fazer com perseverança, afinco e dedicação. Por enquanto, espelhar-se em alguém a quem pudesse considerar uma importante referência parecia algo natural e salutar, e nada mais lógico que a figura do capitão do navio para o inspirar.

— Hey, marujo! O que pensa que está fazendo aí parado? Por acaso, acha que está a bordo de um passeio turístico pelo cosmo? Ora, vamos, mexa esse traseiro daí e comece logo a esfregar esse chão antes que eu tenha de ir aí ensiná-lo a como fazer o seu trabalho. Vamos, mexa-se! — Esbraveja Ed Heston. Ele tinha uma barba volumosa, ruiva e grisalha, usava um boné desbotado e puído e uma camiseta encardida, com algum tipo de nódoa, esticada sobre sua barriga protuberante que insistia em sacar para fora de suas calças. Ele era um veterano de sessenta e cinco anos que trabalhava naquela nave desde a primeira viagem do antigo comandante da embarcação, o capitão Bill Davis. Heston representava para Memphis uma espécie de segunda figura paterna, e apesar de ser um velho tosco e ignorante em alguns aspectos, conhecia muito bem a rotina e o trabalho a bordo de grandes navios espaciais, pois passara toda a sua vida sobre eles. Ainda que Memphis tivesse um diploma em navegação espacial, na prática, a vida sobre um convés de verdade exigia de um capitão bem mais do que a teoria poderia ensinar, e saber lidar com algumas situações que não estavam nos livros era fundamental para manter as coisas funcionando corretamente a bordo de qualquer navio. Assim, Ed fora um dos responsáveis por muitos dos ensinamentos sobre a vida de marinheiro que Memphis obtivera em seus primeiros anos como viajante estelar. — Moleque preguiçoso. — Resmunga o velho marinheiro.

— Desculpe, senhor. Eu... eu... — Nathan gagueja ao tentar se explicar, enquanto pega rapidamente a vassoura, a mergulha no balde e, freneticamente, volta a esfregar o chão.

— É bom que se mantenha atento, rapaz. Há todo um convés para ser limpo antes que passemos pelo próximo sistema solar; e o capitão não iria gostar nem um pouco de saber que o navio está sujo e emporcalhado por causa da distração de um pirralho relaxado como você. Entendeu?

O capitão Memphis, ao ouvir aquela gritaria, volta-se imediatamente para ver o que estava acontecendo ali. — Heston? O que está havendo? Está tudo bem aí? — Questiona o capitão, que apesar do olhar apreensivo tentava apenas apaziguar a situação.

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⏰ Última atualização: Sep 29, 2020 ⏰

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