PART 1 - Me

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"Aonde você pensa que vai?" Ouvi a voz grossa atrás de mim.

Quando me virei, vi a figura masculina parada na porta, com os braços cruzados e a cara fechada. Embora parecesse intimidador, eu não me assustava mais com sua carranca.

"Você sabe, vou embora." Falei, voltando minha atenção para minha mala única.

Nunca tive muitas roupas, pelo menos não que me deixassem confortável, então peguei todas as minhas camisetas largas, minhas calças jeans e meus moletons velhos, e joguei todos dentro de uma bolsa que costumava usar para ir pra escola.

"E como você pensa que vai se sustentar sem o meu dinheiro?" Sua voz soava tanto intimidadora, quanto debochada, duvidando de mim.

"Eu consegui um emprego em um restaurante no centro da cidade, tenho bolsa de 100%, e vou morar com a família de um amigo."

Fui em sua direção, ficando cara a cara com ele, já que nossa diferença de altura não era tão grande assim, e olhei diretamente em seus profundos olhos negros, antes de cuspir as próximas palavras:

"Nunca precisei de você, não é agora que vou precisar... Pai."

Vi seus olhos ficarem ainda mais raivosos e suas bochechas inflarem. Sua respiração ficou pesada e seu maxilar trincou, mas nada disso me fez perder a postura. Eu não tinha mais medo de enfrentá-lo.

"Então você acha que é homem o suficiente pra me enfrentar agora?" Suas palavras eram como veneno e faziam meu corpo queimar. "Pois bem, você não é, e nunca vai ser."

Ele deu um passo a frente, ficando ainda mais perto de mim, suas mãos foram diretamente para a gola da minha camisa, mas nada disso me afetou. Eu já apanhei tantas vezes antes, que mais uma não faria diferença.

"Você é a minha filha, você me deve respeito!" Sua voz estava alterada a esse ponto, e eu acabei me deixando vacilar por um instante.

Eu senti o fogo em meu peito aumentar de tamanho, borbulhando coragem para o meu cérebro e, instintivamente, dei um empurrão em seu peito, fazendo o homem cambalear para trás e, consequentemente, soltar minha camisa, que ficou com a gola amassada.

"Eu sou seu filho, e você também me deve respeito." Falei por fim, não querendo mais ouvir a voz do homem que eu chamava de pai.

Senti seus olhos pararem sobre mim, era um olhar de raiva, mas eu vi algo no fundo, algo que eu não soube dizer na hora, mas depois que seu olhar me mediu de cima a baixo, eu percebi o que era: mágoa.

"Onde foi que eu errei?" Perguntou.

Fui até minha cama, peguei minha mochila e passei por ele na porta, mas antes de ir embora definitivamente, olhei para trás uma última vez, olhei para o homem que costumava ser um herói para mim, mas que tudo mudou com um estalo de dedos.

Eu vi seus olhos, vi como a tristeza era uma sombra distante dentro deles, mas que chegava a ser maior que a raiva que ele sentia. Mas eu também via... Amor.

"Você não errou em nada, obrigado por ser meu pai."

Foi com essas últimas que eu saí pela porta de casa, e não olhei mais para trás.

Hoje fazem dois anos que isso aconteceu.

Eu não tenho mais notícias do meu pai desde então. Minha irmã mais nova, que ainda morava com ele, conversava comigo normalmente, mas eu não perguntava muito sobre ele. Achei que seria melhor assim.

Agora eu estou na faculdade, cursando arquitetura. Não que tenha sido meu maior sonho, mas era algo que me agradava, muito. Eu agora sou estagiário em uma grande empresa, tenho um bom salário e consegui meu próprio apartamento.

Eu comecei o tratamento hormonal a exatos 1 anos e 7 meses, muita coisa mudou desde então. As únicas pessoas que sabem sobre mim são Jungkook, sua mãe e Seokjin.

Eles viram minha voz ficando mais grave, meu corpo mudando e minha quase-inexistente barba crescendo. Jungkook diz que são apenas pelinhos invisíveis, e Seokjin diz que Jungkook nunca vai ter barba, por isso ele não sabe como é.

Eu morava com Jungkook e sua mãe, mas agora ele e Seokjin moram juntos, e eu moro no apartamento ao lado deles. Então, de certa forma, estamos sempre juntos. É como uma família.

A mãe de Jungkook, senhorita Jungha, ainda me manda mensagens perguntando se estou me alimentando, se tiro o binder para me exercitar, e brigando comigo por ficar com ele por tempo demais.

Eu tento acalmá-la dizendo que está tudo bem, e que logo farei a cirurgia, então não precisarei mais dele, mas ela insiste em me monitorar.

É bom ter uma mãe se importando com você, então eu deixo que ela faça o que quiser. (Inclusive me mandar seus bolinhos de maçã com canela).

Além disso tudo, eu conheci novas pessoas. Namjoon, que estuda Física Quântica, por algum motivo, Jimin, um dançarino que estuda música, e Taehyung, um estudante de artes que eu desconfio que seja hiperativo e viciado em bolo.

Taehyung e Jimin moram juntos, ambos são vizinhos de Namjoon, assim como eu, Jin e Jungkook. Acho que é bom ter tantos amigos por perto. Algumas vezes nós combinamos de sair para algum bar, ou só vamos para a casa de alguém assistir filmes e tomar algumas cervejas.

Jimin é como eu, então acho que por isso nós acabamos nos entendendo melhor. Em algumas crises, é ele quem eu chamo, embora nos conhecessemos por apenas alguns meses.

Namjoon gosta de cantar rap, e ele é o mais inteligente de todos, acho que ele é o responsável que garante que nenhum de nós acabe cometendo um crime. Uma vez ele me deixou participar de uma música da sua mixtape, e o resultado foi incrível. Ele já tem planos para nossa próxima música.

Taehyung é como a criança que todos cuidam. Ele gosta de passeios ao ar livre então, uma vez ou outra, ele acaba arrastando todos nós para piqueniques no parque ou para algum parque de diversões. Ele come bolo todos os dias, e não é brincadeira.

Todos são muito legais.

Mas existe uma pessoa especial que, por algum motivo, fez meu coração palpitar, mas... Talvez não seja a hora certa ainda...

call me by my name • jhs + mygOnde histórias criam vida. Descubra agora