Não Fui Eu

Pop!

É só quando casamos que percebemos os pequenos hábitos irritantes da outra pessoa.

Pode ser que alguém roa a unha. Ou cantarole enquanto cozinha. Cutuque o nariz quando acha que o parceiro não está vendo. O fato é: todo mundo tem um hábito irritante.

O de Carlos era fazer bolas de chiclete. E estourá-las.

Era algo que acontecia todos os dias, em qualquer horário. De repente, eu via aquela bola gigantesca de cor rosada saindo de sua boca. No instante seguinte... Pop! Ela estourava.

Não importava se Carlos estava no banheiro. Ou pegando uma cerveja na cozinha. Certa vez, ele até estourou enquanto estávamos trocando intimidades no quarto. Então, sim, esse pequeno hábito me irritava além da conta.

Um dia, cheguei em casa extremamente irritada com algo que tinha acontecido no trabalho. Fiquei até mais tarde ajudando minha patroa e ainda tendo que ouvir suas reclamações sobre mim. Tudo o que eu procurava era um pouco de carinho e compreensão. É pedir muito para o seu marido te dar um abraço?

Mas é claro que Carlos não fez isso. Assim que abri a porta, lá estava ele: deitado no sofá, com as calças jogadas no chão, bebendo uma cerveja e mascando chiclete. Não, não mascando. Fazendo bolas de chiclete e estourando-as.

Por algum motivo, ele decidiu estourá-las com mais frequência naquela noite. Juro que a cada trinta segundos ele estourava uma bola.

Tentei me distrair. Fui para a cozinha, para o quarto, mas aquele som - pop! - continuava me perseguindo. Então voltei para a sala, mais estressada que o normal.

— O que você vai fazer, Noêmia? — ele perguntou, levantando-se de supetão da cadeira. Percebi, vagamente, que a cerveja caiu no chão.

Balancei a cabeça, sentindo o sangue me cegar. Sabe quando você está com tanta raiva que parece enxergar tudo em vermelho?

— Carlos... — chamei, andando de um lado para o outro na frente da TV. — Se você estourar essa bola de chiclete mais uma vez... — deixei a ameaça no ar, mas Carlos entendeu. Afinal, eu estava segurando sua espingarda.

E ele fez.

Admito: talvez tenha sido reflexo do nervosismo. Talvez fosse algo inconsciente. O fato é: Carlos estourou mais uma maldita bola de chiclete. Por isso, não aguentei.

Disparei dois tiros de aviso.

Diretamente em sua cabeça.

Pop, pop!