Relatos de uma crise

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Eu não gosto de filmes de animação, mas por ela eu assisto todos, eu sei que ela gosta.

A Nia é minha melhor amiga desde a oitava série e desde lá nunca nos desgrudamos, melhores amigos inseparáveis. E antes que me pergunte, não, nunca fomos mais que isso.

Tudo bem que já senti algo mais por ela, mas naquela época ela começou a ter fortes crises de ansiedade e eu não queria que ela ficasse com coisas demais na cabeça, não queria que ela se preocupasse.

Desde lá eu guardo esse sentimento dentro de mim, mais ninguém além de mim sabe disso e também não vai saber. Agora estou concentrado em ajudar Nia a superar a ansiedade dela.

Nesse momento estamos deitados na cama dela assistindo um filme de animação da Disney. Ela sabe que eu não gosto desse tipo de filme, mas se for com ela eu não me importo em assistir.

Estávamos deitados muito tranquilos assistindo quando de repente ouvimos gritos vindo da cozinha da casa dela.

Eu já estava um pouco acostumado com alguns gritos quando venho aqui, pois os pais dela estão sempre brigando, mas hoje parece mais sério.

Olho para Nia em busca de alguma reação, mas ela parece estar tentando ignorar.

Até que ouvimos o barulho de pratos quebrando.

Nos levantamos em um pulo e vamos correndo até lá.

- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO! - mais um prato quebrando na parede errando o alvo, que parece ser o pai de Nia - DEPOIS DE TANTOS ANOS CASADOS.

- Espera, eu posso explicar! - diz ele tentando se esconder atrás do sofá.

- EU NÃO QUERO EXPLICAÇÕES, VAI EMBORA DAQUI! - a mãe da Nia grita a plenos pulmões, mas já parando de jogar pratos - Só vai embora daqui, você está sendo expulso dessa casa, VAI EMBORA!

Ele parece ter desistido de tentar se explicar e vai embora pela porta dos fundos. Nia, que estava parada na porta da cozinha até agora ao meu lado corre até sua mãe e a abraça.

- Ele me traiu - diz a mãe no abraço de sua filha entre soluços - Depois de tantos anos...

Eu fico sem reação a isso, não sei que fazer. Fico parado na porta até a mãe dela decidir que quer ficar um pouco sozinha.

Nia e eu vamos para o quarto dela de novo e então ela desaba em lágrimas se jogando na cama.

Vou até ela e a levanto da cama para envolve-la em meus braços.

- Vai ficar tudo bem ok? - digo fazendo carinho em sua cabeça.

Continuo o carinho até sentir que seus soluços se acalmaram.

- Por que não toma um banho? Certeza que vai se sentir melhor - digo me afastando dela e olhando em seu rosto.

- É... Acho que vou tomar um banho - ela se levanta limpando as lágrimas com as costas das mãos e pega algumas roupas no armário.

Ela entra no banheiro e consigo ouvir o barulho do chuveiro sendo ligado.

Deito na cama e fico pensando no que acabou de acontecer. Estávamos de boas assistindo um filme fofo de animação e então do nada ela descobre que seu pai traiu sua mãe.

Eu não sei o que eu faria se fosse comigo, mas sei que agora preciso ajudar Nia a superar isso. Apesar de todos os problemas com ansiedade que ela tem ou já teve, sei que ela é forte o suficiente pra isso.

Pego meu celular no bolso e começo a ver as mensagens que recebi nas últimas horas em que eu não mexi no meu celular por estar assistindo filme com Nia.

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