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Depois do pequeno almoço carregamos o carro e despedimo-nos de todos, peço a James que pare no mesmo local onde tudo começou, na berma da estrada. Eu não tinha pensado como levar aqueles dois caixotes mas James ajudou a carregar tudo até meio do caminho...

— Tens a certeza que queres ficar sozinha do meio desta floresta? - Era a milésima fez que me perguntava aquilo.

— Não estou perdida irmão.

— Cuida de ti Kendra. - Ele beija a minha testa com carinho.

— Eu ligo querido, agora vai embora e boa viagem.

— Eu amo-te minha irmã. - Ele sabe que estou a morrer por dentro mesmo que tenha posto o meu melhor sorriso.

— E eu a ti!

Certifico-me que ele vai na boa direção que o levará de volta a estrada e bebo um puco de água que tenho na mochila, ele já deve estar a sentir que estou perto, não é um pressentimento mas sim as minhas tatuagens que reclamam

— Kendra?

— Átila é isso? - O homem trazia uma faca enorme na mão.

— Ele deve estar por aí! - Eu sei que se refere a Hetick.

— Preciso de ajuda! - Olho para os enormes e pesados caixotes.

— Tudo bem, vou deixar-te na cabana dele.

Segui-o até a cabana, ele pousa tudo e sai, o seu cheiro estava por todo o lado, as minhas coisas não tinham saido do lugar. Retiro da mochila a caixa com ferramentas e pouso na mesa, sento no chão e começo a tirar tudo dos caixotes, eu tinha confeccionado muitas peças mas algumas eram especialmente para ele então decido arruma-las no seu roupeiro, continuo a empilhar o resto no sofá, havia uma pilha de camisolas e camisas, outras de calcas e calções. Olho mais uma vez para o relógio e duas horas tinham passado em breve terei de partir, não sabia onde ele estaria e muito menos onde o procurar. Sento na cama e espero um pouco, estava cansada, tinha dedicado todos os meus minutos, horas mesmo dias a fazer aquelas roupas, acabo por deitar e adormecer, só preciso descansar uma hora para recuperar as energias.

Esfrego os olhos e percebo que o sol não brilha lá fora, Merda perdi o avião, olho para o relógio e constato que são oito horas, devia ter embarcado a duas horas atrás. Idiota. Vou até a casa de banho e lavo a cara, passo a mão no cabelo e sinto o cheiro a comida, ele está aqui, olho na direção na porta do quarto e engulo em seco. Ganho coragem e vou até a porta, percebo que não sinto o ardor, acho que quando mais perto estou dele menos dói, como será quando viajar para tão longe? Rodo o puxador e entro na sala, ele está de costas e tenho de morder o lábio para não deixar escapar um gemido, porra basta os meus olhos baterem nele para voltar a sentir o turbilhão como sempre faz.

— Para de me olhar assim Kendra ou não conseguirás chegar a mesa! - Como é que ele sabe?

— Eu trouxe roupas, fiz para vocês!

— Tens talento, ao que parece somos bons com as mãos. - Sinto que a frase tem um duplo sentido.

— Trouxe um presente para ti! - Ele não tocou em nada, as roupas e caixa estavam no mesmo lugar.

— Não era preciso nada disto.

— Eu quero que te lembres de mim. - Ele pousa os dois pratos com comida e fita-me.

— Vais a algum lado? - Ele ergue a sobrancelha.

— Acabo de perder o avião para casa. - Sorrio de lado, isso ia causar-me problemas com James.

— O que é isso nas tuas costelas?

— Uma recordação! - Eu sabia que olhava para o grande penso que cobria a nova tatuagem.

— Senta-te, deves estar com fome.

Voltamos a estaca zero, cada um come na ponta oposta da mesa, estava disposta a sair daquela cabana, a sua forma de olhar mudou. Saio da mesa e coloco a minha loiça no na pia...

— Quem te ensinou a lutar? - Ele também faz o mesmo e cola o corpo no meu.

— James, o meu irmão, era ele que estava a treinar comigo - Eu sabia que ele me observava.

— Foi por causa do que aconteceu? - Tento passar por ele mas sou agarrada.

— Eu não queria que visses tudo aquilo Hetick, lamento.

Consigo fugir e ir até ao quarto, ele permanece perto de mim enquanto fecho as malas e as puxo até até a porta sem saber ao certo como iria atravessar a floresta com tudo aquilo...

— Onde pensas que vais? - Ele pega em mim e tranca a porta.

— Eu entendo que queiras alguém que...

— Entende uma coisa Kendra, tu és minha docinho.

Ando para trás, preciso que perceba o que verdadeiramente se passa...

— Hetick eu não sei se posso ter mais filhos, os danos causados por... Foi grave.

— Eu vi tudo! - A sua postura muda e ele começa a andar de um lado para outro desorientado.

— Pensei que não conseguias fazer isso comigo.

— Somente quando te toco.

— Os teus instintos estavam errados, eu não sou a tua fêmea, não posso ser!

Eu queria que fosse mas merda, não posso lhe dar uma família, sinto as lágrimas caírem e a cada passo que dá mais me afasto...

— Abre a porta Hetick, eu preciso ir.

— Desta vez não!

Desta vez ele estava decidido a enfrentar-me.

Hetick - Spin Off Série Fierce menOnde histórias criam vida. Descubra agora