Les Muses, de Emile Quetin Brin
Vagava pelo coração
daquela floresta talvez encantada;
verdes dourando ao sol matutino.
Direcionava-me ao lago;
à ela.Avistei-a.
Vestida em penas pálidas;
primorosa,
deitada em vitória-régia.
Era uma ninféia branca?
Com a suavidade
do soar de meus passos pela clareia,
aproximando-me d'água.
ela levanta-se —
olhos áqueos, feito cristal,
que caem em mim;
molhados, ternos."És tu, um anjo que caiu
neste lago, agora bailando,
com tuas asas como cisne?"
— pergunto; minha voz é fraca,
ela me escuta."Que te fazes pensar isso
de mim,—ser impuro,
cisne metamorfo,
esquecido até
pelo calor do sol?
Vês; dourado nenhum
abrande minha pele;
sou fria, solitária —
o que de angelical
haveria de existir em mim?"Cada lânguida palavra
que ela sussura
ecoa até mim.
Sua voz — acalanto
gelado, perolado,
que ressoa gentil —
traz-me tão próxima dela
que sinto de suas mãos
se esvair a suspirante, fresca
brisa do lago."Te acolho da certeza
que em meu coração palpita:
és aquosa e angelical, tal
que perco-me em tua
suavidade tempestuosa.
Tu, cisne branca,
ninféia, que danças
o balé mais gracioso
sobre este lago;
Tomou-me a alma —
tornou-a tua, logo,
banhou-a com pureza.
Havia me convencido
que eras um anjo. Agora,
vejo em ti, que és térrea,
áquea, não celeste,
mas sonial..." —
Eu digo.
(mas alguma palavra,
realmente, ressoou
de meus róseos lábios?)Ela chora.
Ando até seu lado,
abraço-a —
é fria, pele macia,
penas como seda.
(mas minha pele
sequer sente o abraço dela?
sinto-a feita de névoa.)
O lago era feito de
suas lágrimas cristalinas,
mas escorrem lentas
como mel.
Sinto-a nuvem que chove.Choramos, juntas,
e a lua, dissipada na luz
amarelada do céu ensolarado,
se mostra intensa,
mas frágil e imperceptível;
mas está lá.
Choramos, e a lua
zela por nós
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a camélia-moça e a císnea-névoa
Puisipoemas ♡ - "És tu um anjo que caiu neste lago, agora bailando, com tuas asas como cisne?"