João, Maria e a Lagartixinha
Dulcinéia Azevedo
‒ Vai, anda logo! Menina como você é enrolada! Anda Lúcia, desse jeito a gente não vai chegar nunca!
‒ Tô indo, credo! A vó Maria não vai sair correndo, Estevão. Pra quê tanta pressa? E além do mais, minhas pernas são bem mais curtas que as sua... ‒ e lá se foram os dois irmãos a caminho da casa de avó Maria para mais uma mágica e encantadora tarde de histórias.
‒ Vó Maria, vó Maria chegamos! ‒ gritava Estevão enquanto entrava na casa. Avó Maria, estava no alpendre sentada em sua cadeira de balanço.
‒ O quê que ela esta fazendo? ‒ perguntou Lúcia.
‒ Estou conversando com uma velha amiga ‒respondeu a avó se virando para as crianças, acenou para que se aproximassem. ‒ Uma amiga que tenho na palmão das mãos. Olhando ressabiado, Estevão comentou: ‒ Mas vó, isso é só uma largatixinha.
‒ Laga o quê? perguntou Lúcia.
‒ LAGARTIXINHA oras, disse Estevão.
‒ Ah, LA-TA-TI-XI-NHA.
‒ Não Lúcia. Estevão já começando a perder paciência e continuou.
‒ É LA-GAR-TI-XI-NHA, entendeu?
‒ Ah, agora sim: LA-GAR-TI-XI-NHA.
‒ Isso mesmo Lúcia, disse avó Maria com sorriso meigo.
‒ Mas vó ‒ continuou Lúcia ‒ as LA-GAR-TI-XI-NHAS falam?
‒ Claro! Todos os bichos fala cada um em sua língua: o cachorro late, o pinto pia, o gato mia, o lobo uiva... e as lagartixas falam o lagartixês latino.
‒ Ah, e como a senhora aprendeu o lagartixês?
‒ Ora! Ela me ensinou. Como eu dizia, somos velhas amigas. Nos conhecemos há muito tempo atrás quando eu morava na floresta com meus pais e meu irmão João. Gostavámos muito de brincar, e vivemos muitas aventuras. Papai sempre estava atrás da gente, para que tivéssemos cuidado de não nos perdermos nem nos machucarmos. Ele dizia, por exemplo, para não irmos a floresta, porque lá era um lugar muito perigoso.
‒ É verdade vovó, o bicho-papão mora lá.
‒ Claro que não ‒ protestou Lúcia ‒ O bicho-papão mora em cima do telhado.
Retomando a história, avó Maria continuou:
‒ Um dia, papi nos pediu para pegar lenha atrás de casa. João, querendo ser esperto, me disse que fossêmos para a floresta apanhariámos as melhores lenhas e papai ficaria orgulhoso. ‒ mas João, o papai falou para não entrarmos na floresta que é perigoso.
‒ É perigoso só se a gente for pelo caminho do lago, porque lá tem o lobo mau, que pega as crianças pra fazer mingau, e ele quase pegou a filha da vizinha, Chapeuzinho Vermelho. Mas se a gente for pelo lado da montanha, não tem problema nenhum.
E lá fomos nós dois pela floresta a dentro, e depois de muito caminhar, comecei a reclamar com o João porque estava cansada e com fome, além de estar morrendo de medo daqueles morcegos pendurados de ponta cabeça, urubus que voavam em círculos sobre a gente...
‒ Ali, olha Maria!
Meus olhos viam, mas era difícil de acreditar. João e eu estavámos diante do "paraíso das crianças": Uma casa de doces! Não pensamos duas vezes, começamos a comer, comer e comer até que apareceu uma velhinha nariguda com uma verruga enorme no nariz dizendoque a casa era dela é, pegando joão, o prendeu em uma cela que só tinha espaço para passar um prato do comida. Ela queria que ele engordasse para depois comê-lo, e eu teria que trabalhar fazendo todas as tarefas de casa, comida e apanhar lenha. Comecei a chorar, pois não sabia o que fazer, aí eu ouvi uma voz falando bem baixinho:
‒ Não chore menina, eu posso ajudar vocês ‒ e bem acima do meu ombro estava a lagartixinha.
‒ Mas como? ‒ perguntei.
‒ Essa bruxa não enxerga direito, por isso vai pedir pro seu irmão mostrar o dedinho para ela pegar e sentir se ele engordou o suficiente.
‒ Tá, mas e daí, o que que a gente faz?
‒ Eu posso dar o meu rabinho que é fininho, e assim no lugar do dedo ele mostra o rabo e a bruxa vai achar que ele não esta gordo.
‒ Tá bom, mas por quanto tempo a gente consegue enganá-la?
‒ O suficiente para ela pedir que você vá olhar o forno. Daí você diz que não sabe como se faz, e pede para ela te ensine, então, você a empurra a bruxa pra dentro do forno, abre a cela do seu irmão e fugimos todos.
‒ Será que isso vai dar certo?
‒ Claro que sim menina!
E dando uma chacoalhadinha disse:
‒ Tome. Leve logo o rabo para o seu rimão!
‒ Nossa! Isso não dói?
‒ Só um pouquinho.
‒ Mas você vai ficar cotôca?
‒ Não. Logo, logo meu rabo cresce de novo.
então, fui até o meu irmão, expliquei o que devia fazer e no momento oportuno joguei a bruxa no forno. João, a lagartixinha e eu voltaos correndo para a casa. Papai tinha ficado muito preocupado com a nossa ausência, mas ao nos ver, nos recebeu com muita alegria. Desde então a lagartixinha passou a ser a nossa amig. Depois disso, meu irmão e eu não voltamos mais na floresta.
‒ Que história vó, não é Estevão?
‒ É sim, mas vó, onde anda o seu irmão João?
‒ Bom. Da última vez que o vi, ele estava subindo num pé de feijão. Mas essa é outra história.
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Oficina de Criação Literária
Fiction généraleDurante a oficina "QUEM CONTA, SEUS CONTOS ENCANTA" eu tive a oportunidade de encontrar muita gente talentosa e criativa. Após cada exercício, toda a sala era presenteada com textos originais e interessantes. Meu principal objetivo foi o de estimula...