Mistério do shopping

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Rafael acabou por ir-se despedir dos pais para ir dormir. Sara também. Agora que cada um estava no seu quarto, Rafael podia pensar melhor na conversa que tivera com a sua irmã.

Será que ela tem razão? Eu não sei, cada vez me sinto mais estúpido!

Aquela palavra fora, possivelmente, um bocado forte. Mas seria mesmo? Rafael teria razão em chamar estúpido a si próprio? Os seus pensamentos pareciam uma bola de neve, que rolava e rolava e que só ia enchendo cada vez mais, sem chegar a nenhum sitio.

É melhor ver se adormeço, senão amanhã não consigo acordar. Depois resolvo isto.

Na manhã seguinte, tanto a Sara como o Rafael foram acordados aos berros pelos pais, porque era sábado e estes queriam ir ao shopping, e estavam com pressa.

- Tanta pressa porquê mãe? - perguntou a Sara.

- Depois vês. - foi a resposta seca do pai.

Sim, o pai deles é outra história. Luis Sousa Garret era o nome dele. Não era nem alto nem baixo, andava ali nos medianos. Ao contrário de todos os outros membros da familia, ele tinha olhos de um azul nem muito claro nem muito escuro, também andava ali nos medianos. A sua cara não era nem pálida nem morena, era outra coisa que também andava ali nos medianos. Em geral era uma pessoa bem disposta, exceto quando as coisas no trabalho complicavam, aí ele ficava muito seco, muito amargo. E interrompia conversas que não eram as dele, o que era um bocado irritante.

- Luis, também não precisas de responder assim aos miudos. - ripostou a mãe.

Pois a mãe deles era exatamente o contrário do pai. Chamava-se Margarida Sousa Garret. Era baixa, olhos castanhos quase cor de mel, e tinha a pele do rosto morena. Era muito amável, apesar de também ter os seus defeitos. Tanto a Sara como o Rafael identificavam-se muito mais com ela do que com o pai, não só por serem fisicamente muito parecidos, mas também por o serem no temperamento.

- Va vão-se lá dispachar, nós ficamos aqui à vossa espera - continuou ela.

- É, ficamos aqui, ficamos...- reclamou o pai entredentes.

Quando ficaram todos prontos, saíram então para ir ao shopping.

                                                           *

- Já me podes dizer o que viemos aqui a fazer? - perguntou novamente a Sara à mãe, enquanto passeavam pela loja de roupa e calçados.

- Sara não sejas tão impaciente! - pediu a mãe.

- O quê? - exclamou a Sara incrédula - Como é que tu queres que eu não esteja impaciente? Como? Estou a meia hora a fazer- te esta pergunta e tu ainda não me deste uma única resposta.

De facto, ela tinha vindo o caminho todo a massacrar a cabeça da mãe com essa história.

Mas porquê tanto mistério? Diz logo.

- Olha não queres ir ter com eles? - perguntou-lhe a mãe, tentando mudar de assunto.

- Hum está bem vamos lá então - resmungou a Sara.

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