Prólogo

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Naruto sentiu os pingos gelados da chuva se infiltrando por seus cabelos e com um movimento brusco, puxou para cima a gola da capa para proteger a nuca do vento e da umidade. A rua estava deserta e silenciosa, exceto pelo barulho da chuva que caia torrencialmente. As luzes dos postes bruxuleavam na escuridão, denunciando como a fiação era mal cuidada por aqueles lados da cidade. Ele desejou poder dar meia volta e se afastar daquele lugar, o cheiro da chuva o fazia querer correr pela floresta livremente, mas o chamado de Karin não podia ser ignorado.

Ele olhou para frente, os olhos azuis analisando as grades que circundavam o edifício no fim da rua. As pontas com lanças davam a ligeira impressão de se tratar de um lugar hostil, mas o portão aberto contava uma história diferente. Apertando os passo, ele atravessou o portão e o pequeno pátio que o separava do edifício antigo. As portas de vidro contrastavam enormemente com as paredes brancas e descascadas, eram um toque de modernidade em um lugar velho. Naruto não hesitou em entrar, imediatamente sendo atingido pelo cheiro etílico do hospital, que o fez franzir os lábios. O cheiro incômodo logo foi somado à outros, de doença, de sangue, dos remédios humanos e do perfume da jovem recepcionista que o encarava com um misto de preocupação e curiosidade.

– Posso ajudá-lo? – perguntou ela, solícita.

Ele sorriu, tentando parecer amigável.

– Estou à procura de uma amiga. Ela me pediu para encontrá-la aqui. – disse. – O nome dela é Karin.

– A assistente social? – perguntou a gentil recepcionista e ele assentiu, sem entender, mas sem acreditar que precisasse. Nem todos os artifícios de Karin faziam sentido para ele. – Ela está no segundo andar. Quando sair do elevador, basta virar à direita e seguir até o fim.

Ele sorriu mais uma vez e caminhou em direção ao elevador. Assim que apertou o botão para o segundo andar, fechou os olhos. Odiava a sensação de estar preso naquela caixa de aço, toda a sua natureza livre e feroz gritava por liberdade quando se sentia encarcerado daquela maneira e em qualquer outra ocasião não teria atendido ao chamado de Karin. Aquela cidade ficava no meio do nada, distante da onde viviam, afastada da alcateia e ele não entendia porque ela o havia chamado com tanta urgência. Eles não eram próximos, embora fossem família e embora estivessem ligados um ao outro pelo senso do dever e da honra.

Ele tinha a sensação de que algo estava errado, um hospital humano não era um ambiente comum para alguém como ele. Nunca tinha estado em um antes, porque seus poderes curativos geralmente davam conta de recuperá-lo sem que precisasse ser medicado ou costurado. Já tinha ouvido histórias de casos em que feridas muito graves haviam degenerado o sistema auto curativo, casos em que os remédios humanos tiveram alguma utilidade. Só esperava que Karin não estivesse ferida ou seria o inferno ter que suportar Suigetsu.

Quando as portas do elevador se abriram, ele saiu para o corredor largo e ladeado por paredes pintadas de azul-claro, as luzes artificiais deixavam tudo com um brilho apático e sem vida. Ele andou em linha reta, rápido o bastante para não ser visto, tentando se manter afastado de qualquer cheiro que indicasse a presença de mais humanos. Conseguiu encontrar o lugar indicado pela recepcionista com facilidade e se surpreendeu ao se deparar com uma enorme janela de vidro, através da qual pôde ver Karin de costas para ele, contemplando serenamente um pequeno ser humano sobre um dos leitos retangulares e diminutos que estavam dispostos em fila nos fundos da sala.

Um tanto quanto hipnotizado por aquela cena absurda, ele girou a maçaneta e abriu a porta. O cheiro de Karin logo o alcançou, se sobrepondo ao cheiro de vida humana emanado por aquela criança recém-nascida. Foi estranho e perturbador ver Karin, uma das mais ferozes e sanguinárias criaturas que ele já conheceu, parada no centro de uma sala decorada com bichinhos coloridos sobre o fundo branco do papel de parede. Ela não se virou quando ele se aproximou, permanecendo parada ali, contemplando aquela criança humana como se estivesse diante de um enorme paradoxo. Ao lado dela, Naruto franziu o cenho, abrindo a boca para perguntar o que diabos tudo aquilo significava, mas antes que pudesse, ela finalmente olhou para ele.

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