Parte 01

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PROSÉRPINA

Após os dez mil anos da terrível guerra dos titãs, Zeus, o deus do céus, assumiu o controle do universo e após isso, os deus começaram a se unir e a procriarem.

Zeus teria jurado casamento para a deusa Hera. 

Mas em segredo, ele mantinha um relacionamento secreto com Deméter, a deusa da agricultura. Eles sempre se encontravam nas Ilhas Afortunadas e lá eles podiam viver o seu amor que mantinham em segredo. Zeus dizia amar Deméter, e ingênua como era, ela sempre acreditava no que seu amado lhe dizia. Ela sempre pedia para que ele quebrasse o compromisso com Hera, sua irmã e assumisse a ela como esposa. Com sua conversa, Zeus sempre conseguia um jeito de desconversar e arrancar doces beijos da deusa mas era só, já que a deusa dizia que só se entregaria para ele, caso eles chegassem a se casar. 

Mas a medida em que crescia a paixão entre os dois, estava ficando cada vez mais difícil de controlar a sedução de Zeus e, Deméter acabou sucumbindo aos desejos que a estava sufocando dentro de si. Depois do romance proíbido, Zeus como o aproveitador que era, deixou de procurar Deméter e não comparecia mais aos encontros que outrora nunca deixava de ir. A deusa logo percebeu o erro que cometeu se entregando a Zeus e com o passar do tempo, descobriu que algo não previsto teria acontecido. Ela estava grávida.

Zeus acabou casando-se com Hera.

Deméter ficou desolada por perder o seu grande amor, e resolveu se afastar do senhor do Olimpo.

A união dos deuses Zeus e Deméter, gerou a mim, deusa Kore. 

Assim que nasci, fui levada para longe pela minha mãe. 

Eu era uma deusa tímida e era superprotegida  pela minha mãe, que não deixava que nenhum deus se aproximasse de mim, porque tinha medo que eu sofresse a mesma decepção que ela passou. 

Fui criada em um belo campo de flores, longe do Olimpo e do contato com os deuses, inclusive o meu pai, o senhor do universo. Eu adorava ir aos campos e colher flores, principalmente na companhia das ninfas e que habitavam nessa ilha.

O meu maior sonho e desejo era conhecer a morada dos deuses e poder então participar das festas e conviver com muitos deuses a minha volta e poder abençoar a terra dos mortais com os dons que me foram dados quando nasci.

Eu era capaz de fazer brotar da terra todo e qualquer tipo de vegetal, era capaz de fazer renascer qualquer planta que estivesse adoecida ou até mesmo morta, trazendo a alegria e abundância de cores para o mundo. 

Mas não conseguia exercer o meu dom onde morava, porque nada se perdia onde eu estava, já que essa ilha era preservada pela deusa Flora, ninfa da natureza.

Eu tenho 16 anos, mas a minha idade não é contada como é a dos mortais. A cada mil anos, eu completo um ano de vida, ou seja, 16 mil anos se passaram para eu poder chegar a minha idade. Estava prestes a completar 17 anos e isso significava que poderia ir ao Olimpo. Quando um deus completava seus 17 anos, esse deus teria chegado a maioridade entre os deus, já que essa era a idade do meu pai Zeus quando ele começou a servir o meu avô Cronos, antes da grande guerra dos titãs. Desde então, todo deus nascido deveria ser apresentado ao conselho dos doze grandes no Monte Olimpo como membro dos deuses e fazer o juramento diante dos mesmos. 

Como não podia sair dos limites das Ilhas Afortunadas, eu pedia para que as ninfas entregassem minhas mensagens ao deus do céus, já que eu não o conhecia. Meu pai sempre me respondia, e na última mensagem, disse que não via a hora de finalmente me conhecer e saber se todos os boatos da minha beleza e formosura eram realmentes reais e que em minha honra, ele prepararia um grande banquete para celebrar minha chegada ao Monte Olimpo.

Todos os dias sem falta, minha mãe vinha me visitar e saber como foi meu dia, que sempre, nesses 16 longos anos eram quase sempre idênticos. 

Eu tinha uma rotina: Cuidava dos narcisos nas campinas, ajudava as abelhas com o pólen, me banhava nas águas e ia colher flores para dar a minha mãe quando ela chegasse e depois disso, chegava a minha parte favorita. Todos os dias ao pôr do sol, cantávamos a seguinte cantiga: 

"Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar."

Essa canção fazia parte do ritual do fim do dia e todas as ninfas da ilha se reuniam à beira da praia para finalizar o dia com a esperança do próximo dia ser tão próspero quanto o anterior.

Minha mãe sempre chegava a tempo de cantar conosco, e logo em seguida, íamos para a minha árvore, onde eu dormia e morava. 

-Kore minha linda filha, está chegando o dia da assembleia que você será apresentada aos deuses, daqui a três dias você fará 17 anos, mas ainda não está pronta para tomar decisões sozinha, ainda é uma menina. A minha menina. Mas enfim vai poder conhecer a morada dos deuses. - começou minha mãe - veja, trouxe esse presente para você. Quero que você o use no dia da apresentação. 

Era um vestido. O vestido era o mais lindo que eu já havia visto. Tinha um lindo detalhe de flores por todo o vestido,  ele era tomara que caia meio curto que partia da minha coxa dianteira e descia até o início do meu joelho esquerdo e tinha um tom meio gelo. Ele era simplesmente encantador e caiu super bem em meu corpo.

-Filha, você está magnífica. Uma verdadeira deusa. 

-Obrigada, mamãe. Não vejo a hora de conhecer o Olimpo, os deuses e o meu pai. - disse com um sorriso de orelha á orelha. 

-Está quase. - disse minha mãe com um tom de felicidade e preocupação. - Kore, não quero que você fique perto daqueles deuses. Converse apenas com as deusas e será o bastante. 

-Mas mãe, a senhora não havia dito que eu estava sendo cortejada pelo deus Apolo? Por Ares? E o Dionísio? E o deus Hermes, que me mandou até um presente não está lembrada? Que mal faria eu me aproximar e conhecer cada um deles? - perguntei

-Já chega, Kore. Eu disse que não é para você se aproximar deles e está dito. Não quero discutir sobre esse assunto novamente.

E assim eu tive que acatar mais uma ordem da minha mãe, e fazer o que ela ordenara.

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