Parte 05

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PROSÉRPINA


Eu jamais tinha afrontado a minha mãe. 

Eu não estava satisfeita em ter feito aquilo. 

Sempre acatei sem relutar a todas as ordens dela sem exceção. Mas era necessário. Caso não tivesse feito isso, jamais retornaria ao Olimpo.

Minha mãe ficou bastante surpresa com a minha reação. Mas eu não iria desapontá-la, pois sei que ela se preocupa com o meu bem estar.

-Mãe, não me entenda mal, eu não quero te desapontar, mas eu quero que me deixe viver a minha vida, ou pelo menos que permita que eu fique no Olimpo. Prometo não me aproximar de nenhum deus e só para a senhora se acalmar, foi exatamente o que eu disse para Afrodite quando ela propôs trazer um deus para cá, sei o quanto a senhora zela pela minha castidade. Não me entregarei a nenhum deus. Prometo.

-Minha filha, eu também acreditava ser forte o bastante para não sucumbir aos desejos, mas, se você manter a proximidade com algum dos deuses, você irá se apaixonar por um deles e depois da paixão, fica difícil de resistir a qualquer coisa. Por isso eu te peço, já que você se recusa a sair do Olimpo, a que pelo menos mantenha distância de todos esses deuses, para o seu próprio bem. 

Fizemos as pazes e nos abraçamos. Ela saiu do quarto e eu deitei em minha cama e dormi profundamente.

Algumas semanas se passaram. Eu estava extremamente contente por estar no Olimpo e viver ali.

Naquele dia ao acordar decidi banhar-me no rio Alfeu. Suas águas milagrosas faziam com que a pele da pessoa que ali tivesse submergido, tornar-se mais jovem e belo. 

Desci as águas completamente despida, e lá pude relaxar e pensar sobre a bela vida que estava tendo no Olimpo. 

De repente, senti que estava sendo vigiada, e um calafrio correu pela minha espinha. Procurei para ver se encontrava por alguém, mas sem resultado. Me vesti e logo depois fui até os campos de narcisos para colher algumas flores. 

Pela primeira vez enquanto voltava ao Olimpo, vislumbrei uma pequena aldeia e pude  ver alguns mortais. Me aproximei sem ser percebida e fiz florescer belas árvores robustas para trazer sombra para aqueles aldeões que transitavam por aquelas ruas. 

De repente senti um enorme desejo de mais, quis colocar mais, oferecer mais, então espalhei flores e árvores por toda parte, fazendo com que os aldeões percebessem que havia algo de sobrenatural acontecendo, e foi então que ouvi:

-Vejam, a deusa Deméter está nos abençoando. Nossas oferendas agradaram a deusa, por isso ela fez florescer tantos frutos antes da época da colheita.

Depois que ouvi a conversa daquela mortal com as pessoas em sua volta, notei que eles ainda não sabiam na minha presença no Olimpo e que uma nova deusa havia surgido. Foi então que resolvi me apresentar para eles, como a deusa das flores e dos frutos. E logo recebi as honras pelos meus feitos e então os aldeões espalharam a notícia de uma nova deusa, filha de Zeus e Deméter no Olimpo. 

Voltei ao Olimpo bastante satisfeita, e contei as novas para a minha mãe. Que fez o favor de espalhar o que havia acontecido por todos os deuses, talvez ela tenha aumentado um pouco da história, mas se ela não o tivesse feito, não seria a minha mãe. 

Algumas deusas vieram até mim para me cumprimenta pelo meu primeiro feito para a humanidade. Depois que algumas delas se afastaram, a deusa da sabedoria, a grande Atena veio até mim:

-Kore, me diga, como se sentiu em finalmente colocar o seu dom em prática e ajudar os mortais?

-A sensação é quase libertadora, não sei como explicar, mas foi incrível. 

-Sei o que você está sentindo, foi exatamente assim comigo quando ensinei aos mortais a como construir embarcações. Parabéns. E, pode contar com a minha amizade. - concluiu ela. 

-Obrigada. - respondi satisfeita.

Ela se afastou de mim e eu continuei conversando com algumas deusas.

Mais tarde, fui para o meu aposento. Ao adentrar o meu quarto, deparei-me com uma visita um tanto inusitada. O deus Ares estava lá. Muito elegante e muito cheio de si, ele logo abriu um sorriso ao me ver. Eu fiquei assustada, se minha mãe aparecesse ali e notasse a presença daquele deus, seria o meu fim. 

-O que faz aqui?- perguntei um tanto agitada, deixando totalmente de lado qualquer tipo de cumprimentos e formalidade.

-Vim te ver. -respondeu ele tranquilamente.

-Mas, você não poderia estar aqui. Se a minha mãe entra nesse quarto e o vê, nossa, nem sei o que ela faria. - disse nervosa. 

Ele deu um sorriso de leve e se moveu até a porta. Pensei que ele sairia do quarto, mas ele apenas nos trancou lá dentro. Eu nunca estive tão nervosa quanto agora.

-O que você está fazendo? Por favor, queira se retirar. -falei enquanto apontava para a porta. 

-Calma, minha flor. -disse aproximando-se de mim. -Ninguém poderá nos interromper agora. Quero você para mim esta noite. 

Ele se aproximou de mim e tentou me beijar. Eu lhe dei um tapa no seu rosto, e o mesmo espantado com a minha reação, ficou enfurecido. Não medi as consequências das minhas ações, Ares é o deus da guerra, acredito que ele não iria ficar satisfeito com o meu feito e não fazer nada. Eu podia ver sangue nos seus olhos. Ele me agarrou, e começou a beijar o meu pescoço, e me segurava com força contra o seu corpo. Eu tentava me afastar, mas era uma tarefa quase impossível, já que o deus possuía uma força enorme. 

-Me solta- disse e algumas lágrimas ameaçaram descer do meu rosto.

Ele continuou me apertando e beijando o meu corpo. Quando percebi que pedir que ele parasse não seria o suficiente, comecei a gritar, gritar com todas as forças dos meus pulmões.

Então, Ares rasgou as minhas vestes e jogou as peças de tecidos, agora rasgadas no chão. Depois me jogou em minha cama. Eu estava quase despida e continuava a gritar por socorro, quando alguém finalmente começou bater a porta do meu aposento e fazia força contra a mesma, para que abrisse. 

Quando entrou no quarto, minha mãe estava nitidamente preocupada, e quando viu o que estava prestes a acontecer, quebrou um jarro na cabeça de Ares, que caiu desacordado no chão. 

Levantei assustada enquanto tentava me recompor e fui abraçar a minha mãe. A mesma me olhou por inteira, e perguntou:

-Esse asqueroso encostou em você, minha menina? - perguntou enquanto me olhava seriamente. 

-Não, mamãe. A senhora chegou a tempo de impedir que ele fizesse o queria. Quando entrei no meu aposento, ele estava aqui, me esperando, e depois ele trancou a porta, tentou me beijar e eu recusei e lhe dei uma bofetada. Ele ficou enfurecido e me agarrou. - abracei a minha mãe novamente, e desabei em lágrimas. 

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