Parte 04

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PROSÉRPINA


Hades se distanciou da minha presença e logo sumiu, deixando apenas rastros de sombras por onde passou. 

Minha mãe se aproximou de mim e preocupada perguntou:

-Você está bem, minha pequena? - perguntou analisando-me dos pés à cabeça.

Minha mãe às vezes se preocupa demais. 

-Estou bem, mãe. Não aconteceu nada. Fique calma, pelos deuses. 

-Ele encostou em você, vai saber o que ele poderia fazer com você para se vingar de Zeus. 

Não falei mais nada. Eu sabia que quanto mais falasse do assunto, mais ela arrumaria uma desculpa para tentar me convencer que eu estaria em perigo de qualquer jeito. 

….

As festividades se findaram. e eu estava no meu aposento no Olimpo. Era muito amplo e aconchegante e repleto de flores. Meu pai havia pedido para que algumas ninfas arrumassem o meu quarto de maneira que o mesmo ficasse parecido com a minha antiga árvore. Deitei em minha cama feita de plumas, ela era tão macia e quentinha, nunca estivera tão confortável como agora. De repente senti que estavam me olhando, e deparei- me com uma deusa parada em minha porta. Nossa, ela era lindíssima. A própria personificação da beleza estava vindo em minha direção com um sorriso amigável. Ela era tão bela, tanto no formato do rosto quanto no seu corpo. Tinha um charme tão natural e tão encantador, que logo soube que se tratava da deusa do amor e da beleza, Afrodite. 

-Olá, minha querida. Vim pessoalmente lhe desejar boas vindas. Fico contente por tê-la aqui conosco. - disse ela.

-Muito obrigada, senhora. - respondi

-Senhora? A sua mãe está aqui por acaso? - disse ela olhando para trás e para os lados enquanto sorria discretamente. -Não é necessário tanta formalidade. Pode me chamar pelo meu nome, Afrodite. Afinal, eu não sou tão velha assim.

Sorrimos juntas e conversamos bastante. Ela me contou algumas coisas que se passam sempre no Olimpo e sobre as datas que todos se juntam para comemorar, e logo entrou em um assunto, que me deixou um pouco surpresa.

-Então, qual dos deuses chamou mais a sua atenção?- perguntou ela bastante interessada na minha resposta.

-Bom, todos são belos. Acredito que não tive tempo de prestar atenção em todos para chegar em uma conclusão. - respondi tentando parecer franca, mas não era a verdade.

-Não reparou em nenhum? Porque caso você mude de ideia e queira me contar, talvez eu consiga trazê-lo ao seu leito esta noite. - disse ela com um sorriso malicioso em seus lábios.

Não pude ter certeza, mas acredito que minhas bochechas coraram. Eu jamais tive qualquer tipo de contato com nenhum deus, principalmente contato físico, minha mãe jamais permitiria, e foi o que eu falei para ela.

-Obrigada, Afrodite, mas acredito que isso não será possível. Minha mãe jamais aceitaria que eu estivesse com algum deus, principalmente em meu leito.

-Eu não estou perguntando sobre os desejos de Deméter, mas sim dos seus, Kore. O que você quer?

-Agradeço mais uma vez a sua boa vontade - sorri enquanto falava- mas eu não tenho interesse em nenhum deus. Não sei se você sabe, mas já fui cortejada por muitos deuses, mas minha mãe repudiou a todos. Tanto ela, quanto eu - fiz uma pequena pausa - bom, queremos manter a minha castidade.

-Está certa disso?

Hesitei antes de responder, mas eu estava certa de que jamais a minha mãe iria permitir que alguém se aproximasse de mim, e se ela percebesse qualquer tipo de proximidade de algum deus para comigo, ela era capaz de me levar de volta para as Ilhas Afortunadas, e isso eu não queria, já que acabara de chegar ao Olimpo. Então eu finalmente respondi:

-Estou sim.

-Arrr - Bufou Afrodite, descontente - Mais uma deusa perdida. Tanta beleza desperdiçada, não irá conhecer aos prazeres da vida. - disse ela bastante chateada.

Minha mãe apareceu com uma enorme bandeja cheia de frutos e bastante alimentos. 

-Atrapalho alguma coisa? Perguntou ela enquanto caminhava em nossa direção.

-Não. - respondeu Afrodite se levantando da cama. - já estava de saída. - finalizou. 

Ela mandou um beijo no ar e saiu. Ao passar pela minha mãe, pegou uma maçã e foi em direção a porta. 

-Se precisar de mim, Kore - disse Afrodite com uma cara maliciosa - pode mandar me chamar. - 

Apenas acenei com a cabeça.

-Sobre o quê conversavam? Posso saber? - perguntou minha mãe curiosa.

-Falávamos sobre o Olimpo, mamãe. Mas, pouco antes da senhora chegar, ela perguntou se eu gostaria da companhia de um deus esta noite.

Minha mãe ficou espantada. Arregalou seus olhos para cima de mim e falou:

-Como ela teve coragem? Ai, essa Afrodite! Eu já havia falo para ela que não queria que ela viesse com esse tipo de proposta para você.

-Mas por que, mãe? Assim como a senhora pôde ter uma filha, por que eu não posso me casar e ter filhos? Isso não é justo. Não é porque o papai foi um idiota com a senhora, não significa que eu vou ter a mesma sorte.

-CHEGA. - gritou ela enfurecida. - Eu sabia que era um erro trazê-la para cá. Iremos voltar para as Ilhas Afortunadas.

-NÃO. - rebati. - Não sairei do Olimpo. Por toda a minha vida obedeci às suas ordens sem reclamar e nem dizer a minha opinião, mas agora eu não sou mais uma menininha, sou adulta e posso decidir o meu destino. E lhe digo que não sairei do Olimpo. 

ProsérpinaOnde histórias criam vida. Descubra agora