Prosérpina

Parte 10

PROSÉRPINA

-Perdão pelo atraso, minha cara. -começou Hades. - Você está belíssima neste vestido. 

-Não se preocupe. Muito obrigada. - acenei com a cabeça e coloquei um sorriso meigo. 

Ele estendeu a mão para mim e eu a segurei, e o mesmo me levou de volta à mesa, e portando-se como um cavalheiro, puxou a cadeira para que eu me sentasse e foi ao seu assento próximo ao meu. 

Começamos a jantar. Existia uma grande quantidade de ambrosia sob a mesa. Enquanto comia, Hades me olhava firmemente. Ele também estava comendo, mas focava sua atenção para mim e aquilo estava me deixando desconcertada. 

-Diga, minha deusa- começou Hades quebrando o silêncio da sala. -Como você faz para ser tão bela assim? 

Eu não sabia o que dizer. Por um tempo fitei-o, mas sem resposta alguma. Eu não conseguia entender aquela pergunta e nem porque o deus do submundo me tratava assim. 

Depois de algum tempo encarando o mesmo, sem respondê-lo, eu tentei puxar um assunto, que não falasse da minha beleza em questão.

-Eu gostaria de conhecer o submundo. -comecei

Hades me olhou admirado.

-É, já que estou aqui - voltei a dizer - acredito que eu possa passear e conhecer, não é mesmo?

-Desculpe desapontá-la, minha cara. Mas, o submundo não é lugar para passeios, muito menos para um donzela como você. -respondeu ele

-Já que aqui não é lugar para mim, leve-me embora imediatamente. Vamos, vamos logo. -fiquei nervosa. Levantei da cadeira e joguei meu guardanapo na mesa. Hades me olhava surpreso, mais uma vez.

Ele levantou-se de seu assento e pegou em minha mão. 

-Acalme-se, minha deusa. -começou ele - por favor, sente-se. - disse e apontou para a cadeira. 

Voltei a sentar e cruzei os braços, esperando o próximo pretexto que ele usaria. 

-Está bem. -disse ele- amanhã eu levo você para conhecer o submundo. 

Eu não estava esperando por aquela resposta. Então, abri um sorriso de felicidade e agradeci. 

-Seu sorriso é tão encantador- disse ele me deixando encabulada mais uma vez.

-Muito obrigada. - sorri novamente. 

Terminamos a ambrosia, e ele me acompanhou até o meu quarto. 

No caminho eu o enchi de perguntas sobre o submundo e como era presidi-lo. Ouvi todas as respostas com atenção e euforia. Hades estava empolgado e tinha um belo sorriso em seu rosto. Estávamos empolgados, talvez porque ele gostasse do que fazia, mesmo que sempre tentasse demonstrar o contrário. 

Chegamos ao meu quarto e ele parou em minha frente. 

-Bem, minha deusa, você agora está sã e salva. Espero que tenha apreciado o nosso jantar. Eu aproveitei cada momento. - disse Hades e um pequeno sorriso surgiu. 

-Eu gostei bastante. -sorri também e continuei- estou ansiosa para amanhã. 

-Mal posso esperar - disse ele e se aproximou de mim. 

Ele tocou e acariciou meu rosto. Nossos olhos se encontraram e não se desviaram para nada. Seu olhar era tão intenso. O silêncio era tanto que conseguia ouvir o som do meu coração, que batia acelerado por causa do que estava acontecendo. A mão de Hades pousou na minha cintura e ele se aproximou ainda mais. E então ele beijou a minha testa. 

-Boa noite -fez uma pausa- minha Perséfone. E foi embora. 

Acompanhei a sua sombra se distanciar e quando ela sumiu, ainda fiquei ali, parada, sem nem conseguir me mover. Estava anestesiada com o momento e tinha um frio na barriga. 

Uma lembrança do momento voltou a minha cabeça e então um sorriso escapou dos meus lábios. 

Abri a porta do meu aposento e adentrei o meu quarto. Fechei a mesma por detrás de mim enquanto pensava nos lábios de Hades indo de encontro com a minha testa. 

Parei para pensar no que pensava e achei aquilo engraçado e sorri um pouco mais, mas sem deixar de pensar naquele calor que senti quando ele estava tão próximo a mim. Me joguei na cama e as lembranças insistiam em voltar a tona, mesmo que eu tentasse não pensar naquilo. 

O que a minha mãe diria se ela soubesse que um deus teria tomado conta da minha mente? 

Depois daquele pequeno momento lembrei da minha mãe, coisa que não fiz nesses dias. Eu perdi a noção dos dias. O que será que a minha mãe está pensando que aconteceu comigo? O que será que ela está sentindo? Nunca ficamos tanto tempo longe uma da outra. 

Uma saudade imensa me tomou conta e assim eu pude esquecer do Hades e pensei na minha mãe. Me senti culpada por estar pensando no Hades e no que está acontecendo comigo, sendo que a minha mãe se empenhava em me manter afastada do mundo. E com esse sentimento de culpa eu acabei adormecendo.